[Daumload] [livro] Ciências Humanas e Complexidades - Rogério Lustosa Bastos

Ciências
Humanas e
Complexidades

Projetos, métodos e
técnicas de pesquisa
O caos, a nova ciência

2ª edição

ROGÉRIO LUSTOSA BASTOS



Rio de Janeiro, 2009


Ao professor Fábio Herrmann (PUC/SP) e à professor
Marlene Guirado (USP) pela inspiração; ao
professor Roberto A. Q. de Souza (Ex-Presidente
da Faperj) e à professora Jô Gondar (Unirio) pelo
incentivo; aos colegas do Departamento de Métodos e
Técnicas da ESS/UFRJ e a muitos outros que direta
ou indiretamente, contribuíram para que realizasse
este trabalho.


A ciência existe para acabar com as misérias
humanas

Brecht

É preciso fazer do conhecimento a mais potente
das paixões.

Nietzsche


© Rogério Lustosa Bastos/E-papers Serviços Editoriais Ltda., 2009.
Todos os direitos reservados a Rogério Lustosa Bastos/E-papers Serviços Editoriais
Ltda. É proibida a reprodução ou transmissão desta obra, ou parte dela, por qualquer
meio, sem a prévia autorização dos editores.
Impresso no Brasil.


ISBN 978-85-7650-237-1


Projeto gráfico e diagramação

Livia Krykhtine

Capa

Tiago Souza Bastos

Imagem de capa

Claude Monet, "A estação de Saint-Lazare"

Revisão do autor

Esta publicação encontra-se à venda no site da
E-papers Serviços Editoriais.

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B326c

2.ed.

Bastos, Rogério Lustosa

Ciências humanas e complexidades: projetos, métodos e técnicas de pesquisa:
o caos, a nova ciência/Rogério Lustosa Bastos. -

2.ed. - Rio de Janeiro: E-papers, 2009.

146p. : il.

Inclui bibliografi a

ISBN 978-85-7650-237-1

1. Ciências sociais - Pesquisa - Metodologia. 2. Pesquisa - Metodologia I.
Título.
10-1274. CDD: 300.72
CDU: 316:001.8


Sumário


9
INTRODUÇÃO

15 CAPÍTULO 1. MOMENTO PRÉVIO DA PESQUISA:
RUPTURA COM O SENSO COMUM

16
1.1. Do diálogo ilustrativo aos parâmetros preliminares da
pesquisa
22
1.2. Ruptura com o senso comum: sugestão para
implementá-la
25
1.3. A ruptura, ciências humanas e pensamento complexo
37 CAPÍTULO 2. DA PROBLEMÁTICA À ELABORAÇÃO DO
PROJETO DE PESQUISA

38
2.1. Da ruptura com o senso comum ao corte que delimita
e desenvolve a investigação
43
2.2. Fundamentos do projeto de pesquisa: um delineamento
do modelo de análise
71 CAPÍTULO 3. DISCUSSÃO DOS PRINCIPAIS MÉTODOS
E TÉCNICAS DE PESQUISAS

74
3.1. Tipos básicos de pesquisa
82
3.2. Métodos de pesquisa
95
3.3. Técnicas de Pesquisa
105
CAPÍTULO 4. A QUESTÃO DA BIBLIOGRAFIA E DA

REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA
106 4.1. Referências de livros correntes, revistas, jornais, etc.
113 4.2. Das referências das obras no corpo do texto da pesquisa
116 4.3. Referências quanto às entrevistas
116 4.4. Referências quanto aos fi lmes
117 4.5. Referências quanto aos documentos eletrônicos/

internet em geral


121 CAPÍTULO 5. ETAPAS E ESTRUTURAÇÃO DO PROJETO

DE PESQUISA

122 5.1. Etapas da Pesquisa

124 5.2. Estruturação do Projeto

137 NOTAS

141 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS


Introdução



Ciências Humanas e Complexidades

Este trabalho nasceu basicamente de dois acasos. O primeiro
relaciona-se ao fato de que lecionando uma disciplina denominada
"Técnicas de Pesquisa em Psicologia", me vi diante de
um evento curioso: de um lado havia um equívoco enorme, no
sentido de reduzir a questão das pesquisas e sua própria validação
apenas ao método experimental; de outro, havia ainda um
hiato considerável, notadamente a partir do grupo discente, no
que tangia ao processo de se implementar concretamente uma
pesquisa bibliográfi ca. Dizia-se, entre outros absurdos, que uma
pesquisa em ciências humanas só poderia ser desenvolvida a
contento se estivesse necessariamente de acordo com o método
experimental.
Ora, tal absurdo não tem sustentação acadêmica. Embora
esse pensamento possa ser identificado com uma visão simplista
e próxima ao senso comum, que é contra ao próprio método
experimental, ainda assim cabe um pequeno parêntese: é óbvio
que se observam muitas pesquisas ruins, sobretudo por lacunas
que envolvem questões de métodos e de rigor. Contudo, mesmo
pensando assim, de outro lado, fica difícil sustentar o argumento
de que a pesquisa em ciências humanas só é possível através de
um único método. Discutir acadêmica e criticamente por tal via
é seguir uma argumentação contrária à própria ciência, ou seja,
é tão inconcebível pensar que só se pode fazer pesquisa unicamente
pelo método experimental como também é indefensável
sustentar a exclusividade do método de pesquisa participante,
ou de qualquer outro.
Para os que ainda queiram, quem sabe, aprofundar essa discussão
no plano da ciência atual, cabe lembrar PRIGOGINE
(1984, 1990, 1992), físico belga, prêmio Nobel de Química de

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Ciências Humanas e Complexidades

1977. Na sua obra, entre outros destaques, diante do paradigma
da ciência clássica, ele abre um novo campo e principalmente
traz contribuições ao ressaltar as questões da irreversibilidade,
da instabilidade, do caos:

As leis da física, em sua formulação tradicional, descrevem um mundo
idealizado, um mundo estável e não o mundo instável, evolutivo, em
que vivemos. Este ponto de vista força-nos a reconsiderar a validade
das leis fundamentais, clássicas e quânticas. Em primeiro lugar,
nossa recusa da banalização da irreversibilidade funda-se no fato
de que, mesmo na física, a irreversibilidade não pode ser mais associada
apenas a um aumento da desordem. Muito pelo contrário, os
desenvolvimentos recentes da física e da química de não-equilíbrio
mostram que a fl echa do tempo pode ser uma fonte de ordem. (...) A
irreversibilidade leva ao mesmo tempo à desordem e à ordem.

Longe do equilíbrio, o papel construtivo da irreversibilidade torna-se
ainda mais impressionante. Ela cria, ali, novas formas de coerência
(...). A vida só é possível num universo longe do equilíbrio" (PRIGOGINE,
1996, p. 29-30).

Na realidade, Prigogine quer sublinhar, em síntese, que a
investigação científica problematiza fatos que não se reduzem
exclusivamente ao paradigma das certezas, baseado principalmente
na física de Newton. O que isto compreende? De um
lado, compreende fundamentalmente que, pelo menos do ponto
de vista da atual ciência, a irreversibilidade, a incerteza, a instabilidade
passam a ser discutidas sem o caráter depreciativo que
ganhavam até pouco tempo. De outro lado, compreende também
que longe de fazer a defesa ingênua do aniquilamento do rigor,
do pensamento sistemático, da ordem, fatores admitidos como

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Ciências Humanas e Complexidades

fundamentais para a ciência clássica, Prigogine, ao contrário,
problematiza e amplia o debate sobre tais pontos. Estes, quando
analisados junto ao acaso, à desorganização, à instabilidade e
outros aspectos do gênero, enriquecem a compreensão do acontecimento
científico até então visto de forma simplifi cada. Tal
análise, principalmente desenvolvida a partir de estudos sobre
a "fl echa do tempo", sugere, em resumo, que estamos diante de
um novo paradigma científico, ou de uma "nova aliança", onde,
na análise do fato científico, os ditos conhecimentos menores e/
ou maiores não só estão retroagindo uns sobre os outros, como
também oscilam e problematizam-se na relação entre o caos e
a complexidade.

O segundo acaso relacionou-se ao fato de que ao ter concluído
minha tese de doutorado, reunindo um número considerável de
anotações e delineamentos sobre as pesquisas em ciências humanas,
mostrei tais apontamentos para outros docentes, entre eles,
uma professora de literatura e doutora da Universidade Federal
de Minas Gerais, que me sugeriram, então, que me impusesse
a tarefa de transformar as anotações em um livro. Na verdade,
Adelaine La Guardia, nome da referida professora, tem uma
enorme participação nessa empreitada. Devo a ela não só a iniciativa
de ter-me estimulado na transformação desse material na
palavra escrita, como também a sugestão de tentar apresentá-la
num estilo de multilivro, ou de livro intercambiável. Vejamos um
trecho de um trabalho que me foi apresentado pela Adelaine, o
qual, tratando do assunto, diz: "As folhas desse livro seriam cambiáveis,
poderiam mudar de lugar e ser lidas de acordo com certas
ordens de combinação determinadas pelo auto-operador [que de
resto não se considera mais do que um leitor situado numa posição
privilegiada, face à objetividade do livro que se anomiza]".
Enfim, trata-se "de um multilivro onde a partir de um número
relativamente pequeno de possibilidades de base, se chegaria a
milhares de combinações"(CAMPOS, 1977, p 18)

A idéia de livro intercambiável, a partir do trecho acima,
como se pode notar, provém de um texto de Mallarmè, "Le Li


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Ciências Humanas e Complexidades

vre, instrument spirituel", escrito dentro do espírito de uma nova
física. O texto, além de fugir à idéia usual de livro, incorporava
simultaneamente a permutação e o movimento como aspectos
fundamentais, principalmente visando colocar o leitor como
agente de estruturação do conteúdo. Ou seja, diante de um livro
com essas características, além de o leitor poder lê-lo pela forma
usual – aquela que segue do primeiro ao último capítulo, passo a
passo –, é possível lê-lo também de outras maneiras; pode-se ler
um capítulo da segunda parte, para só depois ler-se a primeira
parte, por exemplo; pode-se ler sucessivamente um capítulo de
uma parte e outro capítulo de outra parte, tudo isso sem prejuízo
do entendimento do conteúdo. Além de permitir leituras diversas
do modo usual sem prejuízo do conteúdo, o mais relevante
aqui é que tal texto permite um diálogo com o leitor, no sentido
de que este opere as páginas lidas e faça combinações diversas,
dando-lhes uma ordem em função de seu interesse. Talvez nem
seja necessário sublinhar que tal fato gera fundamentalmente
uma ação criadora e transforma o leitor num auto-operador do
texto em questão. Trata-se, enfim, do livro de espírito cambiável
ou da operação da nova física do livro.

Na tentativa de realizar tal espírito, esse livro encontra-se
dividido em cinco capítulos.

No primeiro deles, como uma espécie de introdução, observa-
se uma visão panorâmica onde estão ressaltados alguns procedimentos
que se devem adotar, principalmente tendo em vista o
início ou o momento prévio da pesquisa acadêmica. Diga-se de
passagem que é a partir da concretização desses procedimentos
básicos, no citado planejamento prévio da pesquisa, que se faz a
ruptura com o senso comum, que precisa se dar a partir da delimitação
do assunto escolhido. Tal parte aqui ganha o título de
"MOMENTO PRÉVIO DA PESQUISA: RUPTURA COM O
SENSO COMUM". No segundo capítulo, através do subtítulo
"DA PROBLEMÁTICA À ELABORAÇÃO DO PROJETO
DE PEQUISA", desenvolve-se uma discussão básica sobre os
fundamentos e principais questões concernentes à elaboração do

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Ciências Humanas e Complexidades

projeto de pesquisa. No terceiro capítulo, DA DISCUSSÃO DOS
PRINCIPAIS MÉTODOS E TÉCNICAS DE PESQUISA, há
uma apresentação de alguns dos métodos científicos e uma discussão
das principais técnicas que podem ser aplicadas através
deles. No quarto capítulo, discute-se "A QUESTÃO DA BIBLIOGRAFIA
E DA REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA". Além de
dizer que se encontra aqui uma série de normas e regras básicas
acerca do assunto citado, vale assinalar que anotar devidamente
as fontes de consultas, fazer as fi chas bibliográficas, destacando as
possíveis citações de grande interesse de forma adequada, assim
como registrando corretamente as referências bibliográfi cas das
obras que ajudam o trabalho na sua idéia principal, são indubitavelmente
um fator de grande valia para qualquer pesquisador.
Nada pior do que por desconsiderarmos tal questão, perdemos
um tempo desnecessário no meio de dezenas de livros já pesquisados,
só porque precisamos fazer uma citação importante e
estamos impossibilitados de localizar o texto pertinente, porque
não temos todos os dados completos que o indiquem; nada pior
do que meses após pesquisar um determinado assunto em uma
biblioteca, termos que voltar novamente ao mesmo lugar, principalmente
porque há uma série de textos imprescindíveis, que
embora já tenham sido estudados, não foram anotados de forma
devida e não podem ser citados corretamente. O quinto capítulo
se refere à ESTRUTURAÇÃO DO PROJETO DE PESQUISA.
Em síntese, aqui encontraremos uma série de sugestões e críticas
sobre o desenvolvimento de pontos relevantes que devem constar
no projeto de pesquisa. Dentre as sugestões que debateremos,
destacamos: o resumo, a introdução, a revisão da literatura em
questão, o cronograma, entre outros pontos.

Texto da primeira edição

..


CAPITULO


Momento Prévio
da Pesquisa:
Ruptura com

o Senso Comum

Ciências Humanas e Complexidades

1.1. Do diálogo ilustrativo aos parâmetros
preliminares da pesquisa
O que é de fato fazer uma pesquisa científica? Quais os principais
elementos que devemos dominar para a sua elaboração? Que fundamentos
precisamos saber e contratempos que devemos evitar?

Há várias maneiras de responder tais questões. Dentre elas, por
exemplo, pode-se optar por introduzir a matéria através de um
diálogo ilustrativo que ocorre entre dois universitários. O referido
diálogo, como se verá, pode não só nos situar como também nos
dar um "pequeno empurrão", de forma problematizadora, para
dentro do campo de estudo que trata dos parâmetros básicos
sobre o "como" iniciar-se nas pesquisas. Vejamos:

- "Alguém sabe, por acaso, como se deve fazer para que se ache
petróleo?", indaga Tiago, um dos estudantes no pátio de uma universidade.
- "Ora bolas, qualquer criança sabe que petróleo não cai do céu",
responde Gabriel, outro universitário. "Para achá-lo, basta que se
perfure o solo"...
- "Deve estar havendo algum engano, relacionado, quem sabe, ao
fato de não se ter formulado a pergunta de forma adequada...Claro
que todos nós sabemos que petróleo não cai do céu, é óbvio que para
achá-lo, precisamos perfurar o solo. Mas, na realidade, reformulando
a pergunta... eu quero saber o seguinte: qual ou quais são os procedimentos
vitais para que, perfurando o solo, se obtenha uma maior
probabilidade de achar petróleo?" (1)
Note-se que a partir do diálogo acima, há vários pontos que
podem contribuir na tarefa de como iniciar um projeto de pesquisa.

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Ciências Humanas e Complexidades

Em primeiro lugar, no referido diálogo há a escolha de um assunto
num universo de possibilidades, ou seja, o candidato a pesquisador
situa seu interesse, no caso, na questão do petróleo. Contudo,
a partir de tal escolha, começamos a aprofundar na busca de se
fazer um estudo sistematizado. Na procura em questão, uma das
situações a destacar, por exemplo, foi o fato de que o candidato
a pesquisador não soube colocar o problema de forma clara, ou
seja, contrariando a busca de clareza e precisão, ele o apresentou
de forma a suscitar simultaneamente diversas ambigüidades, para
não dizer obviedades. Assim, então, chega-se ao segundo ponto
importante de elaboração do projeto de pesquisa: para se iniciar
uma pesquisa, além da escolha do assunto, é preciso que se elabore
uma pergunta ou um problema de forma clara e sucinta, a
qual leva ainda à delimitação do assunto.

O que isto signifi ca? Significa que esse segundo passo, antes
de tudo, requer que se possa elaborar uma indagação que seja
entendida por todos e aponte para um caráter delimitado e mensurável,
de forma que tenha principalmente seus termos defi nidos
com precisão. Enfim, caso não consigamos partir de uma pergunta
deste gênero, há grandes chances de não só nos perdermos, como
também de cairmos na vala do desânimo acadêmico. Isto sem
contar que há grandes probabilidades de entrarmos ainda para

o "time" dos que alimentam a sensação de que "estão perdidos"
e, pelo menos do ponto de vista do estudo sistematizado, não
chegam a canto algum. Por quê? Ora, como diz Bachelard, "é
precisamente a busca do sentido do problema que dá a marca
do verdadeiro espírito científi co" (2). Ou seja,
Os passos que o pesquisador terá que percorrer a seguir, até o término
da pesquisa, dependerão deste passo inicial: a formulação do pro


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Ciências Humanas e Complexidades

blema. Este será interessante ou não, contribuirá para o progresso
da ciência ou não, terá valor ou não se o problema formulado tiver
sido interessante ou banal. Embora o pesquisador não chegue a uma
solução – freqüentemente não são encontradas soluções imediatas para
os problemas –, cabe-lhe o mérito de ter aberto o caminho. Outros
virão secundá-los em sua marcha através do emaranhado terreno do
conhecimento científi co. (...) Desde Einstein, acredita-se que é mais
importante para o desenvolvimento da ciência saber formular problemas
do que encontrar soluções (CERVO, 1983, p 77).

Mas continuemos nosso diálogo fictício com os candidatos a
pesquisadores:

- "Pô, cara, agora você foi mais claro", diz Gabriel. "Bom, mas
para evitarmos discutir em cima de uma série de "achismos", ou de
"opiniões pouco fundamentadas", que tal se passássemos a agir como
profissionais, quer dizer, que tal se para responder a essa pergunta,
fôssemos à biblioteca e levantássemos tudo que é possível sobre a
questão do petróleo?
- "Bom, esta é uma possibilidade...", rebate Tiago. "Mas, que tal
se, além disto, para sermos ainda mais práticos, fôssemos trabalhar
essa questão com um dos professores da universidade, desses que são
particularmente especialistas na área? Afinal, agindo desta forma,
sobretudo em termos profissionais, não estaríamos economizando
tempo, energia, talento e dinheiro?"...
Qual dos dois estudantes estão certos? Evidentemente, os
dois estão corretos, quer dizer, para iniciarmos um projeto de
pesquisa de maneira viável, além de escolhermos um assunto e
formularmos uma pergunta adequada que nos dá uma direção
são necessários, em síntese, os seguintes fatores: a) fazermos uma
averiguação bibliográfica sobre o que já foi publicado. Tarefa que
além de ser imprescindível, deve ser realizada, no mínimo, junto
de uma ou duas excelentes bibliotecas especializadas no assunto
escolhido; b) procurarmos um ou dois especialistas da área, não só
para discutirmos a pergunta ou a questão de estudo, mas também

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Ciências Humanas e Complexidades

para que, no diálogo, se possa aprimorar a referida questão. Isto
sem contar que nesse encontro, podem-se ouvir diversas outras
sugestões, inclusive no plano bibliográfi co.

Assim, vejamos o que aconteceu com nossos personagens
universitários, os quais, ousando exercer o seu estilo singular,
escolheram, então, seguir seu própria caminho: um foi fazer o
levantamento do assunto em um biblioteca de pós-graduação
na USP; o outro foi conversar com um docente pesquisador na
referida área de petróleo da mesma universidade. Dias após,
ambos se encontraram e novamente foi possível registrar o seguinte
diálogo:

-"Meu amigo", diz Gabriel, "levantei o assunto do petróleo na
biblioteca especializada, cruzando-o, pelo computador, com duas
subinformações: "perfuração" e "solo". Desta maneira, então, a
partir desse levantamento e do referido cruzamento, obtive uma série
de artigos e obras publicadas no Brasil e no Exterior, dos últimos
dois anos. O resultado desse nosso levantamento, em síntese, soma
uma lista de 20 páginas com quase cem publicações....
- "Eu também obtive", diz Tiago, "não só informações valiosas sobre
o assunto inicial de estudo, – que se resumia na questão 'Como perfurar
o solo para obter petróleo?' –, como também obtive ainda uma
série de sugestões em termos de uma leitura específica em periódicos
e livros sobre a perfuração do solo na busca do petróleo. Dentre os
fatos importantes que levantei, destaco: a) é impossível desenvolver
tal empreitada sozinho; b) a perfuração do solo requer que se faça
um planejamento prévio e multidisciplinar, ou seja, há uma equipe
que estuda o solo, outra que faz planejamento em termos da melhor
forma de perfurá-lo; c) há os planejadores e há os executores mais
diretos do projeto, enfim, não é um tarefa que se deva fazer a esmo,
nem ao sabor do acaso. Para se perfurar o solo em busca do petróleo,
é necessário que se faça previamente todo um planejamento teórico e
técnico. Em suma, estou com uma série de indicações para leitura,
inclusive, muitas delas, me parecem bastante agradáveis, porém, ainda
assim, tenho algumas dúvidas: como sistematizar as leituras indi.
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Ciências Humanas e Complexidades

cadas? Devo começar, por exemplo, pelas leituras mais agradáveis?
Qual deve ser o critério prioritário de minhas leituras?... Afi nal, o
que devo fazer?..."

Como se pode notar, além de elaborar uma pergunta adequada,
fazer um levantamento de obras, discutir com especialistas,
para desenvolver um estudo sistematizado, é necessária outra lista,
complementar, de pontos relevantes. Dentre eles, destacamos:
1- elaboração de consulta das fontes de pesquisa em bibliotecas
(Ver "Como fazer um estudo bibliográfico", Capítulo 2, adiante);
2- elaboração da discussão de COMO fazer um programa seletivo
de leituras dessas fontes (Capítulo 2) ; 3- elaboração de cronograma
das etapas de pesquisa (Capítulo 5). Enfim, depois de percorrer
essa série de pontos apresentados, estamos chegando ao instante
denominado de primeira síntese escrita. Apresentando de outro
modo, chegamos finalmente à etapa do primeiro planejamento da
investigação, ou ao momento da fase preliminar da concretização
do projeto, que é a fase de elaboração do anteprojeto de pesquisa.
Este requer, como se pode observar, um momento prévio, que o
apresentamos através da ilustração acima.

Assim, antes de passarmos para as sugestões de como elaborar

o anteprojeto em questão, vamos resumir ainda os passos importantes
já percorridos. Tais passos, a partir da ilustração anterior,
poderiam ser ressaltados como seguem:
-A escolha de um tema: trata-se de escolher um assunto, delimitando-
o necessariamente. Aqui, uma das regras básicas diz: "Querer
ter o domínio absoluto de um assunto, estudá-lo e dominá-lo sem
delimitação é uma falsa questão."
-A formulação de uma pergunta: além de se dar especial ênfase
na clareza, que implica operar com termos bem definidos, tal pergunta
é de grande utilidade no processo de delimitação do assunto
escolhido. Isto sem contar que ela precisa ser pensada a partir do
seguinte raciocínio: a indagação necessita ser desenvolvida dentro do
caráter de mensuração, precisa ser formulada de maneira realista,
no sentido de considerar inclusive sua viabilidade no que toca aos

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Ciências Humanas e Complexidades

recursos disponíveis, sejam eles financeiros, pessoais ou mesmo quanto
ao tempo hábil para realização de um cronograma de execução, entre
outras condições (Ver capítulo 2, adiante, notadamente a seção:
"Como formular um problema científi co")

-A necessidade de se fazer um levantamento bibliográfi co
do assunto (mesmo antes da própria elaboração do anteprojeto
de pesquisa): destaque-se que tal procedimento está aqui
sendo ressaltado como algo imprescindível, de maneira que, caso não
aconteça, pode comprometer todo o processo de pesquisa. Claro que
independente da escolha por estudar um fenômeno através de uma
"pesquisa de campo" ou de uma "pesquisa de levantamento", por
exemplo, precisamos ter o maior número de informações e de leituras
possíveis sobre o assunto, inclusive, não só para delimitá-lo como também
para desenvolvê-lo longe de um ponto de vista do senso comum.
Além disto, o levantamento bibliográfico prévio é importante também
para tomarmos contato com o maior número possível de pesquisas e
leituras sobre o assunto, a fim de que possamos averiguar não só o
que "já se conhece sobre o objeto da pesquisa", mas principalmente
para que possamos, a partir disto, aprofundar a sua compreensão e
problematização. (Ver cap 2, especialmente a parte intitulada:
"Como fazer um estudo bibliográfi co.")
-O diálogo com especialista (s) da área: afora o que já foi dito,
sugerimos que esse diálogo ocorra basicamente visando às seguintes
metas: 1) para levantar e aprofundar a questão do levantamento
de fontes de consultas; 2) para discutir e aprimorar o tema escolhido
com um especialista da área em discussão; 3) confrontando,
sempre que possível, suas sugestões e críticas com a de outros
especialistas. Ressalte-se que essa confrontação, quando ocorrer, será
de muita valia, menos com o objetivo de "jogar" descabidamente a
posição de um especialista contra o outro e mais com o intuito de
suscitar a polêmica da diversidade, uma vez que é, sobretudo, a partir
dessa diversidade, própria das ciências humanas e sociais, que se pode
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Ciências Humanas e Complexidades

aprender que é possível ler um mesmo fato de diferentes perspectivas

(Ver Cap 2, "A questão das entrevistas com Especialistas").

Feito estas considerações, passemos então para o instante
em que começaremos a montar o ANTEPROJETO. Este, como
se sabe, é uma espécie de primeira proposta sistematizada que
antecede o Projeto de Pesquisa, a qual pode apresentar-se, por
exemplo, com extensão entre 10 ou 20 linhas. Entretanto, mais
importante do que o número mínimo ou máximo de linhas, deve
ser relevante que ele aponte com clareza os objetivos, o problema
central de estudo, a metodologia, para citar alguns elementos
imprescindíveis, pois aqui o que está em questão é que se observa
uma série de pontos que denotem uma linguagem acadêmica,
sistematizada. Dentre os diversos pontos que o anteprojeto precisa
ter, ainda no espírito de sistematização preliminar, destacamos:
1- INTRODUÇÃO (na qual, entre outras indicações, deve trazer
uma visão geral sobre o que se quer pesquisar, a exposição dos
motivos principais da pesquisa, uma discussão sobre a revisão
da literatura do assunto escolhido e também uma justifi cativa);
2- OBJETIVOS; 3- QUESTÃO DE ESTUDO; 4- METODOLOGIA;
5- REVISÃO DA LITERATURA; 6- CRONOGRAMA;
7- NOTAS, MAPAS OU GRÁFICOS (se houver);
8- REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS. O Projeto de Pesquisa,
por sua vez, é fruto do anteprojeto. Destaque-se ainda, como já
vimos, que após sua escrita e implementação, esse anteprojeto
torna-se o próprio Projeto de Pesquisa.

1.2. Ruptura com o senso comum: sugestão para
implementá-la
Fazer a ruptura com o senso comum, aqui, signifi ca basicamente
problematizar uma série de procedimentos que visam à elaboração
preliminar da investigação científica. O conjunto desses
procedimentos leva à elaboração do anteprojeto de pesquisa. Em
outras palavras, a elaboração do referido anteprojeto, início do
processo do estudo sistematizado, gesta-se aqui a partir da fase

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Ciências Humanas e Complexidades

que denominamos de ruptura com o senso comum (3). Aliás,
alguns autores, tais como QUIVY (1992), defendem a posição
de que em termos de um quadro geral do desenvolvimento da
pesquisa, estão em discussão TRÊS FASES BÁSICAS e SETE
ETAPAS PRINCIPAIS. Tal fato implica, principalmente, que não
só há uma inter-relação entre essas etapas e fases, como também
existe um movimento seqüencial entre elas, que se inicia desde a
primeira etapa (que se situa dentro da primeira fase), até à sétima
e última etapa (que se situa na terceira fase). Para se ter uma idéia
mais clara do que implicam essas fases e etapas básicas, sugerimos
que se observe a Figura 1 adiante. Nela, como se vê, o momento
preliminar em discussão situa-se na primeira parte desse esquema
e recebe a denominação de Ruptura.

Com relação à questão de implementação da ruptura, voltemos
aos pontos básicos que foram já referidos visando o desenvolvimento
do anteprojeto. A partir disso, então, chegamos à
sugestão de diálogo singular para implementá-la, que é a seguinte:
partindo do pressuposto de que estamos realmente interessados
em elaborar o anteprojeto, então sugerimos que se pare, agora,
nesse minuto, a leitura do presente livro e se tente dialogar, de
maneira singular, com ele.

De que forma? Ora, comece indagando ao livro como se pode
proceder para escrever e desenvolver um texto que tenha pontos
iguais aos que foram sugeridos acima para a escrita do anteprojeto.
Em outras palavras, interrompa imediatamente a leitura,
pegue uma folha de papel e um lápis, e pergunte ao livro como
se escreve uma "introdução" (da forma sugerida, com visão geral
do assunto, com justificativa, entre outros elementos do gênero),
como se escreve um texto contendo a "questão de estudo", os "objetivos",
a "metodologia", para citar alguns pontos. Para começar,
portanto, sugere-se, em primeiro lugar, que se dê uma olhada no
sumário. Dentre os diversos itens apresentados, propomos que se
escolha apenas um: delimitemos a nossa escolha, por exemplo,
ao desenvolvimento da "questão de estudo" ou da "formulação
do problema". Neste caso, como foi sugerido, vou até o índice

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Ciências Humanas e Complexidades

e de lá passo para a leitura das páginas específicas que tratam
do assunto em questão. Depois venho e me imponho a tarefa de
PASSAR PARA O PAPEL algumas das IDÉIAS RECOLHIDAS
sobre o assunto em pauta.

Para que serve tal exercício? Ora, excluídas as possíveis dificuldades
que possam aparecer, esse exercício desde que feito
com persistência, no fim da tarefa nos dará um material sui generis:

o leitor terá obtido um texto importante, pensado e escrito pelo
próprio punho, sobre a "questão de estudo ". Sim, talvez o texto
esteja bastante incompleto e não suficientemente à altura de uma
questão de estudo ideal. Contudo, é a partir desse material que
não só estamos começando a fazer um corte no conhecimento –
que é um dos requisitos imprescindíveis para o começo do estudo
sistematizado –, como também estamos ousando pôr algumas de
nossas idéias no mundo, ou trazendo a nossa criatividade à tona.
Isto sem contar que o resultado desse diálogo singular com o livro,
nos dará um material razoável para um próximo momento:
o encontro e o diálogo com um eventual especialista.
Recapitulando: em primeiro lugar, estamos sugerindo que o
leitor faça um exercício de diálogo com o livro sobre algumas
questões básicas; que ele delimite sua escolha a uma das questões
mais importantes para a fase preliminar da pesquisa: a formulação
do problema. Depois de tal escolha e diálogo com o livro,
rascunhe algumas idéias e compartilhe esse diálogo com outras
pessoas mais experientes na área. Enfim, como se pode notar,
propõe-se que se passe do diálogo com o livro ao diálogo com
os especialistas. Eis uma das formas pelas quais, através de refl exão
e diálogo crítico, pode-se começar um estudo sistematizado,
que se dá pela elaboração de um anteprojeto de pesquisa e pela
promoção da ruptura com o senso comum.

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Figura 1. Quadro das três fases e sete etapas de elaboração
do projeto de pesquisa


(QUIVY, Op. cit, p 24) / (4)

1.3. A ruptura, ciências humanas e pensamento
complexo
Quando dissermos: 'É complexo, é muito complexo!' (...). Com as
palavras 'complexo' não estamos dando uma explicação, mas sim
assinalando uma dificuldade para explicar. Designamos algo que
não podendo realmente explicar, vamos chamar de 'complexo'. Por
isso é que, se existe um pensamento complexo, este não será um
pensamento capaz de abrir todas as portas (como essas chaves que
abrem caixas – fortes ou automóveis), mas um pensamento onde
estarão sempre presentes as dificuldades. No fundo, gostaríamos de
evitar a complexidade, gostaríamos de ter idéias simples, leis simples,
fórmulas simples, para compreender e explicar o que ocorre ao nosso
redor e em nós. Mas, como essas fórmulas simples são cada vez mais

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insuficientes, estamos confrontados com o desafio da complexidade"
(...). Tal desafio, "já nos expõe um problema: existe uma complexidade
ou complexidades? (MORIN, 1996 c, p. 274).

Há várias maneiras de se começar o debate da questão da pesquisa
em ciências humanas. Dentre elas, por exemplo, destaca-se a
crítica que se faz sobretudo em relação ao seu objeto incerto. Tal
crítica é feita, como se vê, na maioria das vezes para desmerecer
as ciências humanas, acusando-as de conhecimento questionável
e outros pontos do gênero. Assim, pelo menos de um ponto de
vista científico clássico, devido ao alto grau de subjetividade e
de uma série de outros fatores que dão margem ao seu caráter
pouco propenso à determinação, as ciências humanas são postas
de lado, principalmente diante da perspectiva de compará-la junto
às ciências físicas, que indubitavelmente, tendem a nos fornecer
maior grau de objetividade e certeza.

Na realidade, caso estivéssemos ainda sob a égide da física
de Newton, a qual – além de tender para a busca de certezas
inquestionáveis em detrimento dos ruídos da instabilidade, do
caos, da subjetividade –, era praticamente a base do paradigma
hegemônico da física clássica, tal ponto de vista seria irretocável
e estaria coberto de razão. Contudo, tendo em vista os avanços
da física atual, notadamente da física quântica, tendo em consideração
os trabalhos de PRIGOGINE (1984, 1990, 1992, 1996,
1996b), bem como as investigações sobre o pensamento complexo
de MORIN (1996, 1996 b, 1996c), entre outros, tal argumento
não tem mais sustentação.

O que é o pensamento complexo? Em primeiro lugar, para
começar, como o próprio trecho introdutório acima ilustrou, tal
reflexão nasceu frente à necessidade de dar conta de fenômenos
aleatórios, tais como a incerteza, a instabilidade, o caos, fenômenos
de que o conhecimento científico clássico, através do
paradigma da disjunção e da simplificação, notadamente baseado
na física de Newton, não dava conta. Em segundo lugar, "há
complexidades onde quer que se produza um emaranhamento
de ações, de interações, de retroações. E esse emaranhamento é

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tal que nem um computador poderia captar todos os processos
em curso" (MORIN, op. cit., p. 274). Em terceiro lugar, a questão
da complexidade se compreende e se problematiza através de
um pólo empírico e de um pólo lógico, ou seja, a complexidade
aparece quando há simultaneamente dificuldades empíricas e
difi culdades lógicas na leitura dos fenômenos.

Dificuldades empíricas: o exemplo mais belo provém da meteorologia
e é conhecido pelo nome de 'efeito borboleta'. Uma borboleta que
bate suas asas na Austrália pode, por uma série de causas e efeitos
postos em movimentos, provocar um furacão em Buenos Aires, por
exemplo. Essa complexidade tem a ver com o que Pascal havia visto
muito bem (...): 'Todas as coisas são ajudadas e ajudantes, todas as
coisas são mediatas e imediatas, e todas estão ligadas entre si por um
laço que conecta umas às outras, inclusive as mais distanciadas (...).
Considero impossível conhecer o todo se não conheço as partes'. Esta
é a primeira complexidade; nada está realmente isolado no Universo
e tudo está em relação (...).

O problema lógico aparece quando a lógica dedutiva se mostra insuficiente
para dar uma prova num sistema de pensamento e surgem
contradições que se tornam insuperáveis. É o que ocorre no campo da
microfísica (MORIN, 1996 c, p. 274-275).

Com relação ao primeiro aspecto da complexidade, isto é, a
problematização da questão da instabilidade, do caos, entre outros
pontos do gênero, junto da análise do fenômeno de investigação,
além do que já foi dito aqui, passaremos o leitor para alguns textos
introdutórios sobre o assunto: MORIN (1995) e PRIGOGINE
& STENGERS (1984).

No que toca à discussão da complexidade pelo emaranhado de
ações e retroações nas interações que envolvem o saber científi co,
pode-se dizer que há também aqui questões de suma importância.
Trata-se de perceber que, sobretudo nos dias atuais, vive-se uma
época em que os conhecimentos científicos, técnicos e sociológicos
apresentam-se em um processo de interação, cujos graus
são intensamente próximos e múltiplos. Em outras palavras, se a

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técnica gerada pela pesquisa científica muda a sociedade, retroativamente
falando, a organização social tecnologizada também
tem seu poder para influir e transformar o saber científi co, ou
seja, "a ciência tornou-se (uma) poderosa e maciça instituição
no centro da sociedade, subvencionada, alimentada, controlada
pelos poderes econômicos e estatais. Assim, estamos num processo
inter-retroativo" (MORIN, 1996, p. 19). Como exemplo,
sugerimos que se observe a referida situação a partir da Figura
2, adiante. Nela, como se vê, tanto a ciência produz uma técnica
que influi, direta ou indiretamente, nos micro e macrogrupos da
organização social, inclusive no próprio Estado, quanto o circuito
inverso revela-se como verdadeiro.

STENGERS (1990), por outro lado, promovendo uma refl exão
sobre ciência e poderes, traz um ponto de vista que se aproxima
das refl exões de MORIN sobre o pensamento complexo.
Chamando a atenção para a posição de que é preciso desfazer
a idéia de que a ciência tem uma identidade própria, que ela é
um capítulo à parte dos outros saberes e da história, tentando
"desfazer" tais posições, mostrando, entre outros fatos, que não
há só a história oficial da ciência, mas também outras histórias,
assinala:

As ciências, até aqui – e isso é mais um efeito de poder, do poder da
instituição científica como tal – dão a impressão de se desenvolverem
de maneira autônoma em relação ao "contexto" social, econômico,
político.(...) As ciências não se desenvolvem em um contexto, mas
criam seu próprio contexto.(...) Uma das questões das histórias das
ciências é a maneira pela qual elas conseguirão ou não interessar, e a
natureza da rede de interesse que conseguirão inventar (STENGERS,
op. cit., p. 145-146).

Do ponto de vista do pensamento complexo junto ao conhecimento
científico, ainda com relação ao esquema da Figura 2, fi ca
patente um fato: se há alguns anos atrás, talvez ainda fosse possível

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defender a posição do "mau" uso do conhecimento científi co
pelos políticos, por uma organização social totalitária e mesmo
pela crítica à sociedade de consumo, na atualidade, mormente
considerando o atual quadro de enraizamento e hegemonia da
ciência no seio da sociedade, é impossível desvincular a participação
do pesquisador em relação ao quadro desse jogo de interretroações
nas suas implicações políticas, científicas, técnicas. Em
outras palavras, a acusação de atribuir o "lado mau" da ciência
ao Estado, à sociedade ou aos políticos, isentando o cientista de
qualquer participação, "vem a ser, para o investigador, a maneira
de iludir a tomada de consciência das inter-retroações de ciência,
sociedade, técnica e política" (MORIN, op. cit., p. 19).

Quanto ao terceiro e último aspecto do ponto em discussão,
ou seja, quanto ao aspecto do pólo empírico e do pólo lógico,
pode-se dizer que em vez de simplificar e separar questões cruciais
da ciência – tais como a questão do sujeito e do objeto do
conhecimento, dos mundos ditos internos e externos, do biofísico
e do antropossocial, entre outros exemplos –, Morin sublinha que
há um enorme grau de complexidade vinculando tais fatores,
que precisam ser revistos e repensados (5). Colocando de outro
modo, "de todo a parte surge a necessidade de um princípio
de explicação mais rico do que o princípio de simplifi cação
(separação/redução), que podemos denominar de o princípio
da complexidade. É certo que ele se baseia na necessidade de
distinguir e de analisar, como o precedente (da ciência clássica),
mas, além disso, procura estabelecer a comunicação entre aquilo
que é distinguido: o objeto e o ambiente, a coisa observada e o
seu observador. Esforça-se não por sacrificar o todo pela parte,
a parte pelo todo, mas por conceber a difícil problemática da
organização, em que, como dizia Pascal, "é impossível conhecer as
partes sem conhecer o todo, como é impossível conhecer o todo sem conhecer
particularmente as partes" (MORIN, 1996, p. 30).

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Figura 2


(In: MORIN, 1996, p 20)

Enfim, feitas tais considerações sobre o pensamento comple


xo, quais são os parâmetros que se podem destacar para que se

promovam rupturas com o senso comum através do pensamento

complexo na produção do conhecimento, principalmente nas

áreas de ciências humanas? Afora os argumentos já apresentados,

neste particular, em síntese destacam-se as seguintes questões:

1) Para o pensamento complexo, todas as ciências são sociais.
Além do que já foi dito, sobretudo em torno da Figura 2, o
pensamento complexo tem um ponto de vista muito particular
a tal respeito. Ora, considerando que a ciência está no meio
da sociedade, considerando que embora tenha sua distinção
em relação à mesma, é impossível separar um fator do outro,
então, como se vê, qualquer que seja o tipo de ciência, inclusive
as físicas e biológicas, todas são sociais.

2) O pensamento complexo não constitui receita/resposta pronta
para todas as questões. O que está em questão aqui é o equívoco
de entendê-lo como uma mera receita e não como um
desafio e uma motivação para pensar os fenômenos de maneira
diversa. Colocando de outro modo, tendo em vista que a referida
complexidade nasceu para dar conta de fenômenos dos
quais o paradigma da simplificação e da disjunção não dava
conta, tomá-la como receita ou qualquer procedimento que a
priori conduza para respostas prontas pode até, se for o caso,
receber o nome de complexidade, mas, tal complexidade não
é aquela que vai ao encontro do ponto de vista que estamos
discutindo pela perspectiva de MORIN.

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Assim, ilustrando tal complexidade, vejamos o seguinte trecho:

A complexidade não é, então, nem uma 'nova visão do mundo' nem
'novo tipo de teoria', mesmo que ela implique em novas visões dos
saberes e se refira a teorias. A questão da complexidade é prática:
ela se coloca quando um encontro 'empírico'[ inclusive o empirismo
da simulação em computador ou da descoberta da diferença entre
sistemas estáveis e instáveis, ou entre sistemas próximos ou longe do
equilíbrio] impõem um novo questionamento do poder atribuído a
um conceito e atualiza uma dimensão da interrogação prática que
tal conceito ocultava.

(...) A questão da complexidade, tal como a penso, constitui a modalidade
propriamente científica de problematização do novo. Tal novo,
aqui, tem o sentido de que, a atenção para a criação de pertinência
de novas questões e para a atualização de imposições que nos defi nem
em relação àquilo que interrogamos, àquilo que fazemos intervir em
nossas discussões, constitui a problematização propriamente científi ca
da questão do novo e também uma problematização das relações entre
ciências e poder (STENGERS, 1990, p. 171-172).

3) A complexidade não deve ser pensada como simples inimiga
da ordem e da clareza. Um problema que dificulta a discussão
do pensamento complexo é a questão de relacioná-lo pura e
simplesmente ao fato de ser inimigo da ordem e da clareza.
Ora, além dela se opor a tal equívoco, talvez nem seja necessário
dizer que "a complexidade é, antes de tudo, o esforço
para conceber um incontornável desafio que o real lança a
nossa mente" (MORIN, 1996, p. 176).

4) Outro problema, como se observa, é ver a complexidade como
sinônimo da completude. Vale dizer que embora a complexidade
aponte para questões muito mais ligadas à incompletude
do conhecimento do que à completude, na realidade esta não
é a questão principal do pensamento complexo. O relevante
para esse pensamento é a luta não propriamente contra a incompletude
mas contra a mutilação do fenômeno em função de
suas análises: "Num sentido, o pensamento complexo tenta dar

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conta daquilo que os tipos de pensamento mutilante se desfaz,
excluindo o que eu chamo de simplificadores e por isso ele luta,
não contra a incompletude, mas contra a mutilação" (MORIN,
1996, p. 176). Tal fato compreende basicamente que,

se tentamos pensar no fato de que somos seres ao mesmo tempo físicos,
biológicos, sociais, culturais, psíquicos e espirituais, é evidente que
a complexidade é aquilo que tenta conceber a articulação, a identidade
e a diferença de todos esses aspectos, enquanto o pensamento
simplificante separa esses diferentes aspectos, ou unifica-os por uma
redução mutilante. Portanto, nesse sentido, é evidente que a ambição
da complexidade é prestar contas das articulações despedaçadas pelos
cortes entre disciplinas, entre categorias cognitivas e entre tipos de
conhecimento. De fato, (...) à complexidade tende para o conhecimento
multidimensional (MORIN, op. cit., p. 176-177).

5) A idéia de complexidade convida a se passar da crítica da
mutilação à problematização da multidimensionalidade e
da incerteza na produção do saber científi co. Desenvolver
uma perspectiva contrária a essa mutilação, desenvolver
uma perspectiva por tal problematização é desenvolver um
pensamento complexo, o qual, longe de querer dar conta de
tudo, quer compreender, sempre que possível, o humano nas
suas diferentes dimensões ou multidimensionalidades. Ou
seja, o pensamento complexo destaca que tudo aquilo que é
humano, ou melhor, antropossocial, tem indiscutivelmente
seu componente biofísico. Em outras palavras,

É preciso encontrar o caminho de um pensamento multidimensional
que, é lógico, integre e desenvolva formalização e quantifi cação, mas
não se restrinja a isso. A realidade antropossocial é multidimensional;
ela contém, sempre, uma dimensão individual, uma dimensão
social e uma dimensão biológica. O econômico, o psicológico e o
demográfico que correspondem às categorias disciplinares especializadas
são as diferentes faces de uma mesma realidade; são aspectos
que, evidentemente, é preciso distinguir e tratar como tais, mas não
se deve isolá-los e torná-los não comunicantes. Esse é o apelo para

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o pensamento multidimensional. Finalmente e, sobretudo, é preciso
encontrar o caminho de um pensamento dialógico (MORIN, op.
cit., p. 180) / (6)
Assim, por aspirar a multidimensionalidade, por tentar discutir

o homem de seus diferentes aspectos – físico, psíquico, cultural,
social, entre outros –, é que o pensamento complexo comporta
em seu âmago fatos que consideram e apontam principalmente
para as questões da incerteza e incompletude.
Na realidade, tal pensamento pode ser visto como o que se
propõe a fazer fundamentalmente um diálogo entre ordem, desordem
e organização, tentando conceber, nas suas especifi cidades
e diversas particularidades, os fenômenos físicos, biológicos e
humanos. O referido pensamento não necessariamente intenta
a união de contrários, mas o estabelecimento de possíveis pontes
de comunicação, junto às dimensões biofísicas, socio-culturais,
históricas, as quais, longe de adotar saídas simplifi cadores e
disjuntivas – tais como, por exemplo, as da certeza da física de
Newton –, ele também pretende discutir juntamente com a clareza
da suposta objetividade dos fatos, os ditos ruídos subjetivos, as
ditas incertezas, para citar alguns exemplos, não como fatores de
demérito, mas como um conhecimento de valor positivo e complementar
no seio do pensamento científico. Para a perspectiva
em questão, enfim, optar por tal procedimento é abrir-se para
um universo de outras possibilidades na problematização do
fenômeno científi co.

O princípio de explicação da ciência clássica tendia a reduzir o conhecido
ao manipulável. Hoje, há que insistir fortemente na utilidade
de um conhecimento que possa servir à reflexão, meditação, discussão,
incorporação por todos, cada um no seu saber, na sua experiência,
na sua vida...

Os princípios ocultos da redução-disjunção que esclareceram a investigação
na ciência clássica são os mesmos que nos tornaram cegos
para a natureza ao mesmo tempo social e política da ciência, para a
natureza ao mesmo tempo física, biológica, cultural, social, histórica

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de tudo o que é humano. Foram eles que estabeleceram e são eles que
mantêm a grande disjunção natureza-cultura, objeto-sujeito. São
eles que, em toda parte, não vêem mais do que aparências ingênuas
na realidade complexa dos nossos seres, das nossas vidas, do nosso
universo (MORIN, 1996, p. 30-31).

Ressalte-se também que pensar a questão da complexidade
não é reduzir as ciências humanas à biologia ou mesmo a qualquer
procedimento que faz exclusivamente uma simplifi cação
daquela ao método da física clássica. Propor-se a analisar alguns
fenômenos dessas áreas, discutir as possíveis pontes que há entre
elas, problematizar tais fenômenos por uma relação complexa,
não é de forma alguma reduzir a área "A" na área "B", nem viceversa.
Aliás, tomar o citado caminho da redução é não só tender
ao processo de reprodução da redução-disjunção, como também
é trilhar um caminho oposto ao do pensamento dialógico ou da
complexidade.
6) Não comporta a prática do reducionismo o pensamento com


plexo. Assim como não é recomendável simplesmente reduzi-lo
a uma definição prévia, o mesmo se dá com alguns conceitos
com que tal pensamento lida, tais como o acaso, a desordem,

o caos, entre outros. No tocante ao acaso, por exemplo, "o
matemático Chaitin o definiu como uma incompressibilidade
algoritma, ou seja, como irredutibilidade e indedutibilidade,
a partir de um algoritmo, de uma seqüência de números ou
de acontecimentos. Contudo, o mesmo Chaitin dizia que não
há jeito de provar uma tal incompressibilidade". Em outras
palavras, deve-se tomar o cuidado com definições prévias que
possam conter irredutibilidades, pois que, como vimos, a título
de ilustração, "não podemos provar se aquilo que nos parece
ser acaso não é devido à ignorância" (MORIN, 1996, p 178).
7) O pensamento complexo rompe com a ciência que tenta
eliminar a singularidade. Trata-se de pensar os fenômenos
nessa transgressão, ou seja, transgredir ou superar a posição
corrente, sobretudo a que se relaciona com as ciências naturais,

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que faz uma abstração universal e eliminam a singularidade,
a localidade e a temporalidade.

A biologia atual não concebe a espécie como um quadro geral do qual

o indivíduo é um caso singular. Ela concebe a espécie viva como uma
singularidade que produz singularidades. A própria vida é uma
organização singular entre os tipos de organização físico-química
existentes. E, além disso, as descobertas de Hubble sobre a dispersão
das galáxias e a descoberta do raio isótropo que vem de todos os
horizontes do universo trouxeram a ressurreição de um cosmo singular
que teria uma história singular na qual surgiria nossa própria
história singular.
Do mesmo modo, a localidade se torna uma noção física determinante:
a idéia de localidade está necessariamente introduzida na física
einsteiniana pelo fato de que as medidas só podem ser feitas num
certo lugar e são relativas à própria situação em que são feitas. (...)
Portanto, não podemos trocar o singular e o local pelo universal: ao
contrário, devemos uni-los (MORIN, op. cit., p. 178- 179).

8) O pensamento complexo considera a misteriosa relação entre
a desordem, ordem e organização. Além de tratar dessa relação
misteriosa, contraditória e praticamente complementar
entre tais fatores, o pensamento complexo está próximo de
Prigogine (1996b).

9) Para o pensamento complexo a organização "é aquilo que
constitui um sistema a partir de elementos diferentes; portanto,
ela constitui, ao mesmo tempo, uma unidade e uma multiplicidade",
ou seja, (...)

O interessante é que, ao mesmo tempo, um sistema é mais ou menos do
que aquilo que poderíamos chamar de soma de suas partes. Alguma
coisa de menos, em que sentido? Bom, é que essa organização provoca
coações que inibem as potencialidades existentes em cada parte, isso
acontecendo em todas as organizações, inclusive na social, na qual as
coações jurídicas, políticas, militares e outras fazem com que muitas
de nossas potencialidades sejam inibidas ou reprimidas. Porém, ao

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mesmo tempo, o todo organizado é alguma coisa a mais do que a
soma das partes porque faz surgir qualidades que não existiriam
nessa organização; essas qualidades são "emergentes", ou seja, podem
ser constatadas empiricamente, sem ser dedutíveis logicamente; essas
qualidades emergentes retroagem no nível das partes e podem (ser)
estimuladas a exprimir suas potencialidades. Assim podemos ver
bem como a existência de uma cultura, de uma linguagem, de uma
educação, propriedades que só podem existir no nível do todo social,
recaem sobre as partes para permitir o desenvolvimento da mente e
da inteligência dos indivíduos (MORIN, op. cit., p. 180).

Em suma, tendo em conta que pensar as ciências humanas,
sobretudo do prisma do pensamento complexo, não é eliminar
simplesmente muitos dos fatores clássicos do fazer ciência; considerando
que, ao contrário, é tentar problematizar tanto os fatores
clássicos da dita certeza quanto os da dita instabilidade numa
relação de complexidade; então, agora sugerimos que passemos
para a discussão dos próximos capítulos, nos quais nos fornecerão
uma série de pontos básicos que servirão como base segura para
desenvolvermos os fundamentos da pesquisa.

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CAPITULO II


Da Problemática
à Elaboração
do Projeto de
Pesquisa


Ciências Humanas e Complexidades

2.1. Da ruptura com o senso comum ao corte
que delimita e desenvolve a investigação
"- Mas", – indaga Gabriel, um dos estudantes do nosso diálogo
ilustrativo –, "considerando que o estudo do petróleo é uma questão
concreta e que, por sua vez, está de acordo com as ciências físicas, o
que aconteceria se, por outro lado, escolhêssemos um problema que
estivesse relacionado diretamente com o âmbito abstrato das ciências
humanas? O que aconteceria se mudássemos de assunto, escolhendo-o
entre um dos temas ditos dúbios, tal como, por exemplo, a questão da
"poética e da psicanálise"? Como desenvolver uma pesquisa acadêmica
a partir de um assunto que tendesse muito mais ao aspecto da
subjetividade e menos ao da objetividade?"

- "O professor que eu procurei para averiguar acerca da questão do
petróleo", responde Tiago, "disse-me algo interessante neste sentido.
Na realidade, no decorrer do nosso "papo", lhe fiz uma indagação:
'professor, essas e outras sugestões que o Sr me está fornecendo só servem
para pesquisas concretas, pesquisas como a questão do petróleo,
no caso, que têm seu objeto situado nas ciências físicas ou naturais?'
Então, ele me respondeu: "Tiago, esse conjunto de procedimentos de
elaboração prévia de pesquisa serve para todo o conjunto de ciências,
ou seja, serve inclusive para o desenvolvimento das ciências humanas
e sociais. Aliás, sobre esse particular, há um filósofo francês, Michel
Foucault, que, pesquisando sobre as ciências humanas, afi rmou: "Não
há um objeto específico nas 'humanidades', há uma interligação entre
esses objetos"... Bom, a partir disto, "continua Tiago, "eu entendi
que tais procedimentos prévios servem para todo tipo de problema,
problemas esses que podem ser aplicados e desenvolvidos nas próprias
ciências humanas".
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Diante da eventual situação de escolhermos pesquisar um
assunto relacionado ou bastante próximo do objeto das ciências
humanas, diante da hipótese de estarmos realizando um estudo
considerado muito subjetivo, ainda assim, a busca de sistematização
nessas pesquisas está presente. Tal sistematização se desenvolve
principalmente a partir da formulação de um problema, da
escolha de um método, da apresentação de um projeto com outra
série de pontos, tais como "objetivos", "cronograma", entre outros.
Mas, seguindo a proposta do diálogo desses dois estudantes
universitários, vejamos como ficaria uma pesquisa que envolvesse,
por exemplo, a questão da Poética e da Psicanálise:

Em primeiro lugar, independente do assunto escolhido, é
necessário adotarmos os mesmos passos que nos conduziriam
aos procedimentos anteriores, os quais, como já dissemos, objetivam
criar uma ruptura com o senso comum. Ou seja, os passos
sugeridos na primeira parte do presente trabalho, em síntese,
são: formulação do problema inicial, levantamento bibliográfi co,
conversa com algum especialista, que no caso, precisa estar ligado
na questão da poética e /ou na questão da psicanálise.

Em termos de problema hipotético, o nosso seria inicialmente
formulado da seguinte forma:

"Até que ponto se observa um dispositivo deleuzeano entre a poética
e a psicanálise, o qual, sobretudo a partir da clínica analítica, é
fator significativo na criação de modos de existir diversos ao modo
consensual?" (1)

Assim, munidos de um problema inicial, feitos os devidos contatos
com alguns especialistas na área e também um levantamento

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bibliográfico sobre o assunto escolhido, entraríamos na fase da
elaboração do projeto de pesquisa. Então o que fazer?

Ora, em primeiro lugar, ainda observando a Figura 1, estamos
exatamente agora no momento da CONSTRUÇÃO DO MÉTODO
DE ANÁLISE, que começa da problemática. Colocando
de outro modo, em primeiro lugar é necessário que retomemos a
formulação do problema, pois que, embora tenhamos trabalhado
esse assunto no ponto anterior, é a partir dele que iniciaremos
os desdobramentos possíveis para a elaboração do projeto de
pesquisa.

Como se pode notar, na questão de estudo em discussão
há basicamente dois fatores principais em jogo: a POÉTICA
e a PSICANÁLISE. Assim, além de pensar na defi nição dos
termos, como já discutimos anteriormente (vide a nota nº 1),
sugere-se que se faça uma outra indagação, que nos crie outro
corte que aprofunde e desdobre a problemática em curso. Tal
desdobramento, por sua vez, não só nos indicará caminhos de
escrita e de leitura, como também tenderá a aprofundar o estudo
no rascunho do projeto, gerando um esboço de sumário no
mesmo. Em outras palavras, sugere-se que a partir do problema
inicial, escolha-se um dos termos principais e se faça ainda uma
indagação que promova um corte e nos direcione à leitura e à
observação do material de estudo. Como, no nosso caso, há duas
variáveis principais, ou dois termos principais, vejamos como tal
corte ficaria, de um lado, com relação específica ao poético, de
outro, com relação específi ca ao psicanalítico:

Produção poética? Que produção poética?

Tal pergunta cabe na presente elaboração do rascunho, sobretudo
porque nos ajuda a delimitar essa questão de forma crítica, ou seja,
fazer tal delimitação aqui é apontar para o fato de que, dentro do
universo da poética, não são todas as produções poéticas que queremos
pesquisar. Contudo, ainda partindo do pressuposto da delimitação
desse campo de estudo, através da referida pergunta, sugere-se que se
aprofunde tal especificação e se faça um corte no universo do assunto

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da poética, de maneira que, no rascunho, esse corte fique delineado com
mais clareza. Apresentando de outro modo, considerando que agora
estamos na Segunda fase da elaboração do projeto e, dessa forma,
subentende-se que já foi feito um levantamento bibliográfico sobre o
particular assunto (Ver capítulo anterior); considerando que, através
do referido estudo bibliográfico, levantamos que o objeto poético é muito
vasto e de difícil definição; considerando que por tal procedimento
observou-se ainda que "não há condições de se ter uma só defi nição de
poesia, mas várias"; considerando que essas diferentes defi nições podem
ser debatidas por algumas de suas principais perspectivas teóricas
que tratam do campo poético, assim, sugere- se que aprofundemos o
citado corte, delimitando-o através de uma discussão de suas principais
perspectivas. Em síntese, seguindo tal raciocínio, nosso possível
esquema de rascunho de elaboração do sumário do projeto fi caria
assim: título provável do trabalho: "Poética e psicanálise"; Sugestão
como primeiro capítulo de desenvolvimento do trabalho: 1- Poética?
Que Poética?". Tal capítulo, então, hipoteticamente falando, poderia
vir seguido dos seguintes subtítulos: "1.1- Poética pela perspectiva do
Formalismo Russo"; "1.2- Poética pela perspectiva da semiótica de
Peirce"; "1.3- Poética pela perspectiva do Paradigma estético de Guattari".
Vale dizer ainda que é principalmente através da formulação
de tal rascunho que começaremos a elaborar, adiante, o "sumário"
da pesquisa (Ver fi gura 12, capítulo 5, Livro Primeiro).

Ressalte-se ainda que delimitando tal problemática dessa ou
de outra maneira, não só estamos criando caminhos que nos direcionarão
no estudo e na escrita do projeto de pesquisa, como
também estamos avançando na construção do mesmo. Assim,
na medida em que possamos aprimorar a problemática em estudo,
definamos ou redefinamos nossos objetivos, optemos por
um método de análise e planejemos um cronograma inicial de
estudo então, também estaremos delineando a ETAPA 4 (Ver
Figura 1).

Quanto à questão da psicanálise, o segundo fator de destaque
na nossa problemática inicial, o mesmo raciocínio pode ser
aplicado, ou seja, é possível criarmos um desdobramento a partir

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de uma indagação problematizadora, que não só faz um corte
no assunto, como também pode nos orientar, tanto em nível de
leitura como de escrita. Então, vejamos:

Psicanálise? Que psicanálise?

Essa indagação pode ser vista de vários ângulos. Dentre eles, o mais
importante relaciona-se ao fato de que não se quer discutir todas as
psicanálises, mas sim, especificamente, algumas das principais visões
existentes, que são: a psicanálise da perspectiva de HERRMANN
(1991; 1991 b); a psicanálise da perspectiva de ROLNIK (1995,
1995b) e a psicanálise da perspectiva institucional de GUIRADO
(1987, 1995). Aqui, a escolha de tal corte é determinada não só por
questões de preferência do pesquisador, mas principalmente obedecendo
à pergunta inicial, às leituras levantadas, ao diálogo com o
especialista (orientador e/ou consultor), fatores que foram discutidos
na primeira parte do presente trabalho.

Como se nota, a questão principal inicial da pesquisa está
presente, só que, dos passos preliminares para cá, ela vem sendo
progressivamente aprimorada, ou seja, partindo da questão principal
que começou a ser elaborada junto com os procedimentos
prévios tratados no capítulo anterior é que começamos a desenvolver
os primeiros rascunhos do projeto de pesquisa. Enfi m,
no exemplo acima, há um encadeamento entre a fase anterior
e a presente fase que estamos debatendo, quer dizer, partindo
da questão principal inicial é que chegamos à elaboração do
Plano de Pesquisa que basicamente está ligado à problemática e
à construção do modelo de análise (ver Figura de no 1/ Etapa 3
e etapa 4). Apresentando de outro modo, estamos no momento
em que, saindo dos procedimentos básicos inicias, chega-se a
formulação da problemática, a qual, uma vez discutida e aprimorada,
nos levará à elaboração do projeto propriamente dito.
Para tanto, é hora de dominarmos uma série de pontos vitais
para o desenvolvimento do referido projeto e para a posterior
execução do mesmo. Tais pontos, que serão trabalhados a seguir,
são: "Como formular um problema científico"; "Como fazer um

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levantamento bibliográfi co"(Definição da pesquisa bibliográfi ca,
a questão das fontes, dos apontamentos, entre outros pontos);
"A Entrevista com o Especialista", etc. Ressalte-se que além do
referido debate, discutiremos os principais métodos científi cos
que podem ser adotados em uma investigação (Capítulo 3) e a
"questão da bibliografia e da referência bibliográfi ca" (Capítulo 4).
Logo após, então, retomaremos a elaboração do projeto através
do capítulo 5: "Da estruturação do projeto de pesquisa".

2.2. Fundamentos do projeto de pesquisa:
um delineamento do modelo de análise
2.2.1. Como formular um problema científico?
"Sem a questão principal, não há boa tese."
(BEAUD, 1996, p. 52)

Há um velho ditado chinês que, guardando as devidas proporções,
traz grandes contribuições na questão de "como elaborar
um problema de pesquisa". Ele diz: "Quando o estudante se preparar
devidamente, o grande caminho começará a se desvelar",
ou seja, na hora em que o pesquisador se esforçar por elaborar
adequadamente um problema, a resolução irá se delineando com
maior probabilidade de acerto.

O que é um problema científi co? Define-se como uma indagação
que aponta para questões claras, objetivas, delimitadas e
com possibilidade de mensuração. Naturalmente, tal questão,
precisa exprimir-se por termos que possam ser bem defi nidos.
Afora isto, é importante ainda dizer que o problema em discussão
também é sinônimo de questão de estudo, ou questão principal,
em muitos trabalhos.

Como delinear um problema científico? Os debatedores dessa
matéria são unânimes em afi rmar que tal problema, em síntese,
embora não seja das tarefas mais fáceis, é também uma questão
de treino e de aprendizagem, que pode ser executada a partir de

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alguns procedimentos básicos. Tais procedimentos relacionam-
se à compreensão de dois momentos fundamentais: de um lado,
com o percorrer dos passos básicos já discutidos na Fase da
Ruptura com senso comum; de outro, com a compreensão de
que, para ser colocado como um problema científico, é necessário
que o formulemos por quatro procedimentos principais, ou
seja, ele será entendido sobretudo como científico, quando: 1º)
for apresentado através de uma pergunta; 2º) for escrito pelo
prisma da não-ambigüidade (busca da clareza e da precisão);
3º) for desenvolvido pelo prisma da delimitação e da mensuração;
4º) for discutido por uma dimensão viável e se apresentar
livre de preconceitos e outros julgamentos de valor (GIL, 1995;
BEUD,1996; ANDRADE, 1995, 1995 B).


Problema apresentado através de uma pergunta:
Sugere-se a apresentação do problema por uma pergunta, principalmente
devido ao fato de que, dessa maneira, ele se mostra
sob uma forma mais objetiva e direta para o trato de determinada
questão. Isto sem falar que formulá-lo a partir de uma pergunta,
antes de tudo, facilita a compreensão do leitor do projeto,
ajudando-o em termos de um entendimento mais claro e mais
rápido da pesquisa proposta.

Outro argumento a favor de apresentá-lo sob forma de pergunta
reside principalmente no fato de que, segundo GIL (1995), ao
se proceder desta maneira, o pesquisador terá maiores chances
de delinear seu trabalho por uma via mais sistematizada. Em
outras palavras, é a partir da pergunta da partida, aprimorada e
desenvolvida, que se construirá a problemática, que não só é a
"etapa 3" como é também o fim da Primeira Fase (Ver Figura 1).
A partir de tal problemática, então, se entrará na Segunda Fase
da pesquisa, a qual, como se verá, nos conduzirá à elaboração do
projeto propriamente dito e à sua posterior execução.

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Problema escrito pelo prisma da não-ambigüidade
Mas a despeito de ser formulado como pergunta e contribuir
com o processo de pesquisa, sobretudo na referida etapa da "problemática",
o problema em questão precisa ser posto de forma
clara e precisa. O que tal fato implica? Implica que difi cilmente
podemos desenvolver um estudo sistematizado através de uma
questão que se apresenta de forma ambígua e imprecisa.

A título de ilustração, por exemplo, vamos imaginar que
alguém queira desenvolver um estudo através da seguinte formulação:
"como funciona nossa alma?" Ora, ainda que, para alguns,
estejamos diante de uma questão relevante, esse problema, do
ponto de vista acadêmico, está formulado de maneira contraproducente
e precisa ser repensado. Dificilmente um pesquisador
que seja minimamente experiente começará um estudo a partir
de uma indagação do gênero. De outro lado, agora, vamos supor,
ainda ilustrativamente falando, que nosso candidato a pesquisador
resolva fazer um estudo sobre as manifestações do psiquismo inconsciente
freudiano, manifestações essas que são transmitidas ao grupo de
crianças "X", matriculadas no maternal "Y", de uma escola específi ca
e num determinado espaço de tempo, através dos principais contos de
fadas. Ora, como se vê, além de ser apresentado através de uma
pergunta, o problema necessita de ser discutido por uma via que
busque a clareza e a precisão. Nas ilustrações apresentadas, há
maior probabilidade de se desenvolver uma pesquisa sistematizada
pelo estudo formulado a partir das manifestações do inconsciente
através dos contos de fadas, do que pelo estudo que tende
à vagueza e que foi expresso aqui como o 'estudo da alma'.


Problema do prisma da delimitação e mensuração
Uma das maiores atitudes anticientíficas é a formulação da questão
através do prisma de se adquirir um conhecimento absoluto
sobre determinado tema. Aliás, ao contrário dessa pretensão, fazer
ciência é admitir a possibilidade de se criar uma ruptura com o
senso comum, principalmente na promoção de um corte dentro
de determinado assunto escolhido para investigação. Falar em

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corte aqui, como se vê, é falar em delimitação do universo de
estudo. Em outras palavras, uma das grandes características da
atitude científica reside na delimitação: problema não delimitado,
em síntese, é problema de falsa questão, pelo menos do ponto de
vista de uma investigação científi ca.

Outro ponto importante, que complementa a questão do corte,
é a possibilidade de colocá-lo pelo prisma da mensuração. Um
problema inadequado, do ponto de vista acadêmico, é principalmente
aquele que não pode ser mensurável. Por exemplo, imaginemos
uma indagação que diga o seguinte: "Qual a infl uência
das revistas pornográficas no desenvolvimento sexual de todos
os jovens no mundo ocidental?" Ora, aqui, a despeito de até se
ter um problema relevante, nota-se que ele está posto de forma
inadequada, sobretudo quanto ao aspecto da mensuração. Basta
dizer que entre outros contrapontos, é impossível se estudar a influência
das revistas pornográficas em todos os jovens do mundo,
ou seja, há aqui sérios problemas, tanto em termos da delimitação
como no que toca principalmente ao processo de mensuração.


Problema de dimensão viável, livre
de preconceitos e de julgamentos de valor
Para que o problema possa ser discutido cientificamente por uma
dimensão viável, faz-se necessária a possibilidade de pensá-lo
dentro das mínimas condições plausíveis para o desempenho
favorável do pesquisador. Tais condições referem-se não só aos
recursos econômicos ou materiais, mas também à disponibilidade
de tempo hábil para a execução dentro de um cronograma
realista e, ainda, a uma outra série de fatores, tais como, situação
atual das fontes de consulta sobre o assunto escolhido, língua em
que elas estão originalmente escritas. Mas as referidas condições
devem ser vistas principalmente em relação aos recursos internos
e profissionais do pesquisador para analisar criticamente os
limites e possibilidades que deverá enfrentar na implementação
da pesquisa.

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Ainda dentro dessa discussão, é que um problema científi co
necessita ser formulado livre de posições que envolvam preconceitos
e julgamentos de valor. Assim, discutiremos agora alguns
parâmetros que em relação a esses fatores, devem ser evitados.
Tais parâmetros, em resumo, são:

1.
Ainda que haja pesquisas que investiguem atitudes preconceituosas,
elas não devem ser norteadas por pontos que estão
necessariamente a serviço de causas preconceituosas, como
por exemplo: "até que ponto todo latino-americano é pobre
porque não gosta de trabalhar? "; "até que ponto os índices
de 'Qis" abaixo da média relacionam-se necessariamente com
raças não-brancas?"
2. Deve-se ter o cuidado de evitar estudos que se guiem exclusivamente
por questões ideológicas, direcionando inteiramente
a capacidade crítica do pesquisador, estudos que até tenham
boas intenções, acabam fazendo o mesmo jogo equivocado
das posições dos que defendem que a "ciência é neutra", que
a "política nada tem a ver com produção científica", etc. Ora,
tanto uma posição quanto a outra acabam levando-nos à defesa
de apriorismos, os quais, na realidade, além de refl etirem uma
cegueira ideológica, academicamente falando, prejudicam
o processo de pesquisa, principalmente devido ao fator de
preconceito e de julgamento de valor que levantam. Como
exemplo desse tipo de estudo, pode-se citar: "Até que ponto
o comunismo fracassou porque é menos inteligente do que o
capitalismo?"
Em suma, a título de ilustração, a fim de que evitemos maiores
confusões, passemos agora às discussões de algumas perguntas
que podem ser analisadas do ponto de vista da adequação ou
inadequação científi ca:
Exemplo 1:


"Qual o impacto da mudança da vida dos extraterrestres na organização
mundial?"

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Ora, como se pode notar, o problema acima não está formulado
de forma adequada, pelo menos do ponto de vista de uma
investigação científica. Entre outros defeitos de formulação, destacamos:
a- O problema foi formulado de maneira muito vaga,
com extrema generalidade e fazendo prever sua difícil solução,
ou seja, quem de nós, no atual estágio humano, pode afi rmar
com sã consciência que conhece realmente o modo de vida de
um ET? Quem de nós pode dar conta de estudar de fato toda a
organização mundial?; b- Ele foi formulado também de forma
que traz outras inconsistências, por exemplo, verifi ca-se uma
impossibilidade de mensuração, cujo resultado é não se poder
falar em métodos e instrumentos adequados.

Exemplo 2:

"Existirá vida depois da morte?"

Ora, aqui, como se observa, ainda que se tenha um problema de
suma relevância, que justifica um importante estudo tanatológico,
a pergunta foi formulada de maneira imprecisa, colocando-nos,
entre outras dificuldades, diante de um sério impasse de mensuração.
Portanto, ainda que possa trazer um assunto relevante,
existencialmente falando, a pergunta precisa ser formulada dentro
de um âmbito científi co.

Exemplo 3:

"A sexualidade do século XXII será mais saudável do que a do século
XXI?"

Note-se que, do ponto de vista da investigação científi ca, entre outros
problemas, a pergunta aqui foi formulada de forma totalmente
inadequada, pelas razões seguintes: a- como podemos discutir,
acadêmica e objetivamente falando, um tipo de sexualidade que
ocorrerá daqui há 100 anos? b- que instrumentos utilizaremos,
que tempo hábil teremos, quais são os recursos disponíveis para
que, a partir da indagação proposta, possamos mensurar toda
sexualidade no século XXII?

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Exemplo 4:

"Até que ponto, em relação ao HIV, haverá maior incidência de
soropositivo em um agrupamento de adolescentes de uma escola "X"
de orientação religiosa tradicional, que não só recomenda que o sexo
seja praticado apenas no casamento formal, mas também se opõe
a que seus alunos usem o preservativo sugerido nas campanhas do
Ministério da Saúde?"

Como se vê, estamos diante de um problema que além de estar
sob a forma de uma pergunta, levanta questões de suma relevância,
que estão delimitadas e propostas através de parâmetros
que podem ser investigados. Enfim, trata-se de uma questão que
pode ser desenvolvida como um problema científico, ou seja,
pretende-se desenvolver um estudo sobre a questão do soropositivo,
devidamente delimitado no grupo de adolescentes de uma
escola "X". Tal estudo, por sua vez, pretende ser discutido principalmente
junto da questão da prevenção nos adolescente que
freqüentam uma escola tradicional, que é contra as recomendações
práticas das campanhas de prevenção, campanha que sugere

o uso de preservativos nas relações sexuais. Claro que, como em
toda pergunta científica, observam-se termos que necessitam ser
bem definidos. No caso em questão temos que conceituar o que
chamamos de soropositivo; o que se entende por grupo adolescente;
escola de orientação religiosa tradicional e campanhas
de prevenção contra tal doença. Como se pode notar, a questão
de prevenção, por exemplo, será discutida aqui principalmente
através do uso de preservativo nas relações sexuais desse grupo
de adolescente na referida escola.
Exemplo 5:

" Será que os dirigentes religiosos exploram seus fi éis?"

Como se pode ver, o problema acima, ainda que esteja colocado
em forma de indagação, não está sendo formulado como um problema
científico. Dentre as inconsistências existentes, destacam-se:

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a- há sutilmente um julgamento de valor embutido na indagação;
b- parece que tal indagação está sendo formulada de maneira que
nos induza ao ponto de vista de quem a formulou, ou seja, tudo
dá a entender que mesmo antes de partimos para a investigação,

o autor da formulação já sabe onde se quer chegar.
2.2.2. Como fazer um estudo bibliográfico
Praticamente todo conhecimento humano pode ser encontrado nos
livros ou em outros impressos que se encontram nas bibliotecas. A
pesquisa bibliográfica tem como objetivo encontrar respostas aos
problemas formulados e o recurso é a consulta dos documentos bibliográficos.
Para encontrar o material que interessa numa pesquisa é
necessário saber como estão organizadas as bibliotecas e como podem
servir os documentos impressos (CERVO, 1983, p. 79).

Tendo em vista o aprimoramento do processo de pesquisa, especialmente
no que tange ao modelo de análise e à aprimoração
da problemática, um dos pontos de suma importância para qualquer
investigação é a questão do levantamento bibliográfi co. Tal
levantamento, apesar de ser um dos métodos de pesquisa – que
é comumente denominado de "pesquisa teórica" –, está sendo
posto aqui como uma das fases imprescindíveis, que deve ser
dominada minimamente por qualquer pesquisador. Note-se que
se está sublinhando que o levantamento bibliográfi co, mesmo
que preliminar, deve ser realizado por diferentes pesquisadores,
ainda que muitos deles, no decorrer de suas pesquisas, optem por
desenvolvê-las através de outros métodos de pesquisa.

Considerando que, como diz Cervo acima, "praticamente
todo conhecimento humano pode ser estudado nos livros, nas
bibliotecas"; considerando que para se chegar a tal conhecimento
é necessário dominar uma série de procedimentos e de técnicas
bibliográficas; considerando, enfim, que o material bibliográfi co
está nas fontes primárias e secundárias de papel, dada sua relevância
propomos a questão do "estudo bibliográfico" a partir de
um conjunto de tópicos: definição da pesquisa bibliográfi ca; fontes

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bibliográficas; procedimentos básicos para o estudo das fontes;
técnicas básicas de leituras; apontamentos; pesquisa bibliográfi ca
e pesquisa documental.


Definição de pesquisa bibliográfica
Segundo GIL (1995), a pesquisa bibliográfi ca defi ne-se basicamente
por uma coleta de material disponível e já existente, o qual
pode ser selecionado a partir de livros, de revistas, de periódicos
especializados e de documentos diversos.

Partindo de tal definição, vale indagar, afinal, qual será o
porquê da necessidade de um levantamento bibliográfico para o
aprimoramento e o desenvolvimento da pesquisa e da questão de
estudo? Ora, se, como já dizia Bachelard, a "verdade, na ciência,
é irmã da divergência e não da convergência", ainda assim, se
há uma questão consensual na elaboração básica de um projeto
de pesquisa, é quanto à recomendação de que, para elaborar
melhor a problemática e a construção do modelo de análise, é
imprescindível que o pesquisador, além de fazer um corte no
assunto escolhido, desenvolva um levantamento bibliográfi co
inicial. Na realidade, tal levantamento é o primeiro passo para

o estudo sistematizado. Dito com outras palavras, se há um consenso
na elaboração dos projetos de pesquisa, ele se relaciona
principalmente com a necessidade de que o pesquisador, a partir
da delimitação e da escolha do assunto, desenvolva leituras sistemáticas
sobre a área em questão, a fim de que se possa caminhar
de forma bem mais adequada no campo de análise pretendido.
Como desenvolver uma investigação funcional sobre determinado
assunto se me nego a aprofundá-lo, enriquecendo-o com o
conhecimento já existente sobre o mesmo? Ainda que o referido
pesquisador suponha ter determinado conhecimento sobre o
assunto de pesquisa, ainda assim é importante a recomendação
do levantamento bibliográfi co:
Escolhido seu assunto, você tem – ao menos em uma versão provisória
ou transitória – sua "questão principal" e sua "problemática"(...).

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Assim, há a necessidade de torná-lo um assunto mais sistemático.
De fato, precisa explorar bem o terreno (intelectual) em que irá trabalhar:
conhecer o que já foi estudado, debatido, colocado antes [as
teses ou hipóteses propostas, as principais interpretações ou construções
teóricas]. Para isso, será preciso 'dar uma olhada' nas principais
publicações existentes: artigos, estudos ou relatórios, teses e trabalhos
universitários e obras publicadas (BEAUD, 1996, p. 67).

A partir disso, então, discutamos agora acerca das fontes
bibliográficas possíveis, particularmente no sentido de como
podemos ter acesso às mesmas. Vejamos, inclusive, quais são
os procedimentos necessários que devemos compreender para
dominá-las e aproveitá-las devidamente.


Fontes bibliográficas
"Quando queremos fazer uma pesquisa, não podemos desprezar nenhuma
fonte, e isto por princípio" (ECO, 1989, p.112).

Diz Umberto Eco que em determinado momento de sua vida,
diante da necessidade de desenvolver uma pesquisa específi ca,
ele se viu diante de um impasse sério:

– Eu tinha um problema específico, dizia. E nenhum dos autores que
eu lia vinha em meu socorro para me ajudar a pensá-lo, quem sabe
resolvê-lo. E, no entanto, se havia algo de original em minha tese,
era precisamente aquela pergunta cuja resposta devia vir de fora da
literatura de minha área de pesquisa (ECO, op, cit.).
Esse impasse de Eco pode ocorrer com muitos pesquisadores,
ou seja, às vezes passamos por determinado ponto do processo
de pesquisa, o qual é um verdadeiro "território de indeterminação".
Assim, o que fazer? Dentre as várias hipóteses possíveis
para se enfrentar tal " território", Eco agarra-se basicamente em
uma: trata-se, para ele, de se estar diante de enorme lacuna, que
além de ser um "campo quase invisível", pode ser suplantada se
pudermos achar uma fonte de pesquisa sui generis, a qual nos dará

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informações significativas sobre essa área que se quer pesquisar.
Em outras palavras, não que tal fonte não exista, apenas ela não
está sendo encontrada no meio dos autores famosos, nos livros
correntes das principais bibliotecas, nem na internet e nem entre
as idéias e as sugestões dos especialistas do ramo.

E, ainda a propósito, ECO continua com a palavra:

– Então, deixando-me levar pelas ditas ondas do acaso, um dia,
mesmo desconsolado e a procura do texto que me ajudasse a resolver
esse impasse, ocorreu-me de entrar numa espécie de livraria bem
simples de sebos, em Paris. Não! Até então eu não tinha o costume
de entrar em qualquer livraria, quiçá uma bastante simplória como
o daquele canto da rua, mas, lá entrando, comecei a folhear alguns
livros de autores desconhecidos do século XIX e ali, por incrível que
pareça, achei uma obra escrita em 1887, de um que eu nunca tinha
ouvido falar, o qual me assaltou com estranheza... Apesar do título,
L'idée du Beau dans la philosophie de Saint Thomas d'Aquin, o
livro, a princípio, me atraiu mais pela bela encadernação do que
pelas idéias. Como era barato e não o tinha conhecido ainda, pois
que não se encontrava em bibliografia alguma, eu o adquiriu. Ao
começar a estudá-lo, além de constatar que o autor da referida obra
era um abade, comecei a pensar que se tratava de uma obra menor
do século XIX. Em síntese, tal obra me pareceu que não acrescentaria
nada de novo além do que já tinha sido escrito sobre o assunto.
Entretanto, continuando a leitura mais por obstinação e menos até
do que pela própria obra, de repente, "quase entre parêntese e como
que por desatenção, sem que o bom abade se desse conta do alcance
do que dizia", continua Eco, "deparo com uma alusão à teoria do
juízo em conexão com a da beleza! Eureca! Encontrara a solução!
E quem a dera fora o pobre Abade Vallet; morto havia já duzentos
anos, ignorado de todos, mas que ainda assim tinha algo a ensinar
a quem estivesse disponível para ouvi-lo" (op. cit., p.112).
Enfim, em termos das pesquisas, essa história nos indica que se
alguns dos impasses de nossas investigações podem ser resolvidos
mediante o estudo de diferentes fontes, elas não necessariamente

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estão apenas em autores famosos, em livros de destaque, quiçá ao
simples toque no computador através do "Google" e de qualquer
outra ferramenta de busca na internet, ou seja, as "respostas" que
procuramos para nossas investigações nem sempre estão facilmente
disponíveis. Claro que as obras de autores famosos e as
grandes bibliotecas, sobretudo dos grandes centros de pesquisas,
ajudam, bem como a própria internet; contudo, afora o aforismo
inicial que foi colocado ("não devemos desprezar, a princípio,
nenhuma fonte de consulta"), a respeito desses impasses Eco
ainda diz: fazer pesquisa é ter humildade, sobretudo com relação
ao processo de levantamento de fontes, pois que

"Todos podem ensinar-nos alguma coisa. Ou talvez sejamos nós os
esforçados quando aprendemos algo de alguém não tão esforçado como
nós. Ou então, quem parece não valer grande coisa tem qualidades
ocultas. Ou ainda, quem não é bom para este o é para aquele (ECO,
op. cit., p.112).

Feitas essas considerações iniciais e imprescindíveis, passemos
para outra discussão sobre as fontes. Estas não só podem ser debatidas
a partir de um horizonte pluralista, como também, dentre
elas, as apresentaremos através de um dispositivo designado como
"quadro das principais fontes bibliográficas", que são: os livros de
leitura corrente, os livros de referência, os textos de publicações
periódicas, os impressos diversos. Para se ter, em suma, uma idéia
desse horizonte múltiplo das "fontes de papel" disponíveis para
uma pesquisa bibliográfica, sugere-se que se observe a Figura 3,
adiante.

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Figura 3. Quadro das principais fontes bibliográficas

(In: GIL, 1995, p 49)
Em termos de uma rápida discussão das fontes acima,
ressalte-se:

Quanto aos livros de leitura corrente – são as fontes bibliográficas
propriamente ditas. Assim, podem ser classificados não só como
os que são de "leitura corrente ou de referência", como também os
que abrangem as obras literárias, do âmbito da ficção, da poesia,
da dramaturgia, etc. Isto sem contar que aqui estão ainda as obras
de divulgação técnica, nas quais se destacam os textos científi cos na
acepção da palavra. Quanto aos livros de referência – além de
serem considerados os livros de consulta por excelência, podem ser
de dois tipos, ou seja, livros de referência informativa e livros de
referência remissiva. Os primeiros são caracteristicamente os livros
de consulta (dicionários, enciclopédias, etc.), os segundos são os que
se remetem a outras fontes. Quanto às publicações periódicas

– trata-se de fontes que além de se apresentarem por publicações de
intervalos regulares ou não, contam freqüentemente com a escrita
de vários autores. Frise-se que essas fontes embora tendam a seguir
uma meta mais ou menos defi nida, podem tratar de vários assuntos
e de temas diversos. Dentre as principais fontes periódicas correntes,
ressaltam-se os jornais e as revistas. Se de um lado, os jornais possuem,
a favor, o dado da rapidez, as revistas, de outro lado, sobretudo as
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especializadas, ganham também pontos positivos. Basta pensar que,
as referidas revistas tendem a apresentar informação de maneira
menos superficial e mais elaborada (GIL, 1995).

Mas, além disto, como se pode observar na própria Figura 3
acima, há ainda outras fontes de papel. No caso, referimo-nos às
"fontes de impressos diversos". Estas podem ser entendidas da
seguinte forma: de uma parte, há fontes bibliográfi cas secundárias,
que são consideradas como fontes bibliográficas por excelência
porque tratam de textos que se relacionam com a escrita de diversos
autores sobre determinada questão e que estão impressas e
reeditadas, basicamente, em livros, os quais estão disponíveis em
diversas bibliotecas, livrarias, sebos, etc. De outro lado, também
há outras fontes de papel. Trata-se das fontes documentais sobre
determinadas questões que embora tenham ainda sido escritas e
registradas, dado seu caráter de originalidade em relação ao texto
de pesquisas, são fontes primárias. Dito com outras palavras, neste
último caso, estamos falando de fontes que apontam potencialmente
para o caráter inédito, que são basicamente sinônimo dos
manuscritos do autor da obra. O Estudo desses manuscritos, por
sua vez, pode gerar outros textos que ainda não foram pensados
e escritos até então.

A título de ilustração, pensemos, por exemplo, numa pesquisa
sobre a psicanálise freudiana dos sonhos. Uma pesquisa baseada
em "fontes secundárias" poderia ocorrer, digamos, a partir de
um corte onde optaríamos por discutir a questão proposta a
partir da escola inglesa de psicanálise. Assim, partiríamos para

o levantamento e leitura dos livros existentes e disponíveis sobre
essa escola. Uma pesquisa de "fonte primária", por exemplo,
poderia acontecer a partir dos manuscritos originais do texto da
Interpretação dos sonhos, do próprio Freud (2).

Procedimentos básicos para os estudos das fontes
Quanto à questão de como se pode ter acesso direto às fontes
bibliográficas pode-se dizer que é basicamente através das biblio


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tecas públicas ou especializadas (situados em Institutos de Pesquisa,
universidades, etc.). Há também outras formas de acesso,
que são: a leitura dos catálogos de editoras, consultas diretas nas
livrarias (especializadas ou não), assinaturas de periódicos e revistas
diversas. Isto sem contar que ainda é possível levantá-las via
computador, ou mesmo na possível consulta aos especialistas.

Feitas tais considerações, vamos discutir, agora, uma situação
hipotética a partir das seguintes perguntas: ora, após ter realizado
um levantamento bibliográfico e ter obtido um razoável material
em termos de textos e livros, o que preciso fazer para selecionálos?
Será que é necessário estabelecer uma ordem de leitura
prioritária? Enfi m, afinal, é possível desenvolver tecnicamente
uma leitura adequada desse material de forma sistemática?

Do ponto de vista de se conseguir desenvolver uma leitura
funcional e sistematizada das obras obtidas nas fontes levantadas,
antes de tudo é preciso perceber uma série de técnicas de leituras
que debatermos adiante. Contudo, tal procedimento passa inicialmente
pela compreensão de que a pesquisa bibliográfi ca se
dá a partir de dois momentos básicos: levantamento bibliográfi co
preliminar e levantamento bibliográfi co propriamente dito.


Levantamento bibliográfico preliminar
O levantamento bibliográfico preliminar ocorre principalmente
em função, por um lado, de uma seleção inicial de obras, e
também, por outro lado, para aprimorar a delimitação prévia do
assunto escolhido. Como se pode notar, o levantamento bibliográfico
preliminar é um fator ligado mais diretamente ao nosso
primeiro capítulo (3).

Especificamente ainda, quanto ao momento do levantamento
bibliográfico preliminar, há aqui dois tipos básicos de leituras ou
há duas técnicas de leituras, que são: a leitura prévia (ou exploratória)
e a leitura seletiva, as quais serão desenvolvidas adiante.

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Levantamento bibliográfico propriamente dito
Especificamente quanto ao segundo tipo de pesquisa bibliográfi ca,
ou quanto ao levantamento bibliográfico propriamente dito, além
das duas técnicas anteriormente citadas, aplica-se também aqui
duas outras técnicas básicas de leituras: leitura analítica e leitura
interpretativa. Passemos, então, para o debate das mesmas.


Técnicas básicas de leituras

Leitura prévia ou leitura exploratória – momento em que se farão
as seleções das obras que serão pesquisadas posteriormente. A
leitura prévia, em síntese, é uma leitura exploratória, ou seja,
visa uma leitura primeira das obras com vistas a prepará-las
para uma leitura um pouco mais elaborada num outro instante.
Aqui, segundo alguns autores, a leitura é realizada como se
fosse uma expedição de reconhecimento junto a um território
desconhecido, ou seja, ela é realizada:
Mediante o exame da folha de rosto, dos índices, da bibliografi a e
das notas de rodapé. Também faz parte deste tipo de leitura o estudo
da introdução, do prefácio (quando houver), das conclusões e mesmo
das orelhas dos livros. Com estes elementos é possível ter uma visão
global da obra, bem como de sua utilidade para a pesquisa (GIL,
1995, p. 67).


Leitura seletiva – fase em que se realizará especifi camente uma
espécie de localização ou focalização de textos, livros, capítulos
ou partes específicas dos mesmos, os quais apresentam e
destacam conteúdos de suma importância para o trabalho em
questão (ANDRADE, 1995). Além disto, vale destacar:
A leitura seletiva é mais profunda que a exploratória; todavia, não
é definitiva. É possível que se volte mais vezes ao mesmo material
com propósitos bem diferentes. Isto porque a leitura de determinado
texto pode conduzir a algumas indagações que, de certa forma, podem
ser respondidas recorrendo-se a textos anteriormente vistos. Da
mesma forma, é possível que determinado texto, eliminado como não

..


Ciências Humanas e Complexidades

pertinente, venha a ser objeto de leitura posterior, em decorrência de
alterações dos propósitos do pesquisador (GIL, op. cit., p 68).


Leitura analítica : ela se dá fundamentalmente a partir da leitura
dos textos já selecionados, embora isto não queira dizer que
se exclua totalmente a hipótese de se estudar outros novos
textos para o enriquecimento da pesquisa em questão. Contudo,
tal fase se caracteriza basicamente pelo momento em
que os textos devem ser prioritariamente analisados "como
se fossem defi nitivos".
Ressalte-se que é, sobretudo, nesta fase que o pesquisador deve
procurar entender o conteúdo do texto antes mesmo de criticá-lo
ou refutá-lo de alguma forma. Tal fato, acrescido à circunstância
de que o pesquisador tem um problema para testar, então, torna
a leitura analítica um dos momentos mais difíceis da pesquisa
bibliográfi ca.

De forma geral, os autores convergem na compreensão da
leitura em questão. Andrade, por exemplo, destaca que a leitura
analítica, "crítica ou reflexiva permite a apreensão das idéias
fundamentais de cada texto. Esta é a fase mais demorada da
pesquisa bibliográfica, pois as anotações devem ser feitas somente
após a compreensão e apreensão das idéias contidas no texto.
São necessárias muitas leituras, para destacar o indispensável,

o complementar e o desnecessário no texto lido. Não se pode
sublinhar um livro pertencente à biblioteca; portanto, as anotações
serão feitas primeiramente em folhas avulsas, depois lidas,
selecionadas para serem transcritas em fi chas" (ANDRADE,
1993, p 5). Lakatos, de outro lado, ressalta que a leitura analítica
tem o objetivo básico de levar os pesquisadores ao seguinte:
"1- Aprender a ler, ver, a escolher o mais importante dentro do
texto; 2- Reconhecer a organização e estrutura de uma obra ou
texto; 3- Interpretar o texto, familiarizando-se com idéias, estilos,
vocabulários; 4- Chegar a níveis mais profundos de compreensão;
5- Reconhecer o valor do material, separando o importante
do secundário ou acessório; 6- Encontrar idéias principais ou
diretrizes e as secundárias; 7- Perceber como as idéias se relacio.
.


Ciências Humanas e Complexidades

nam; 8- Identificar as conclusões e as bases que as sustentam"

(LAKATOS, 1992, p 24).
Mas, dentre os diversos autores que debatem a leitura analíti


ca, há ainda um que a discute de forma mais esquadrinhada, ou

seja, existe uma perspectiva defendendo que tal leitura pode ser

delineada principalmente pelos seguintes momentos:

"a) Leitura integral da obra ou do texto selecionado, para se ter
uma visão do todo. Será conveniente valer-se de um dicionário para
esclarecer o significado de palavras desconhecidas. Poderá também ser
interessante em alguns casos apelar para trabalhos correlatos para se
obter melhor compreensão da obra ou do texto.

"b) identificação das idéias-chaves: ao ler atentamente uma frase,
identificam-se algumas palavras-chave. Da mesma forma, num
parágrafo, é possível escolher uma frase que o sintetiza. Ao longo do
texto, por fim, podem-se selecionar alguns parágrafos que são os mais
significativos. A partir da junção inteligente entre os parágrafos do
texto, é possível identificar as idéias mais importantes.

"c) Hierarquização das idéias. Após a identificação das idéias
mais importantes contidas no texto, passa-se à sua hierarquização,
ou seja, à organização das idéias seguindo a ordem de importância.
Isto implica distinguir as idéias principais das secundárias e estabelecer
tantas categorias de idéias quantas forem necessárias para a
análise do texto.

"d) Sintetização das idéias. Afora ser a última etapa do processo
de leitura analítica, aqui se recompõe o todo decomposto pela análise,
eliminando o que é secundário e fixando-se no essencial para
a solução do problema proposto. A habilidade para sintetizar exige
bastante treino e é fundamental na pesquisa bibliográfi ca. Quando
esta habilidade não se encontra bem desenvolvida, o pesquisador tende
a deparar-se com grande conjunto de informações de difícil manuseio,
que podem comprometer o adequado desenvolvimento da pesquisa"

(GIL, 1995, p.69).

..


Ciências Humanas e Complexidades


Leitura interpretativa : sendo a última etapa do processo de
leitura, trata-se da fase de maior complexidade, pois é nela
que a partir da questão de estudo, deve-se relacionar o que o
autor ou os autores dizem com aquilo que queremos investigar.
Traduzindo:
Após a intelecção e análise do texto lido, segue-se a (leitura de) interpretação:
procura-se estabelecer relações, confrontar idéias, refutar
ou confirmar opiniões. A "interpretação" consiste em um processo de
reelaboração pessoal das informações e idéias extraídas das leituras

(ANDRADE, 1995, p.41).

Uma das maiores armadilhas, nessa referida fase, consiste principalmente
no fato de os pesquisadores, geralmente com pouca
experiência, procederem à interpretação dos dados baseando-se
mais em opiniões pessoais e não em uma análise interpretativa
do próprio conteúdo do texto em causa. Assim, para evitar tais
armadilhas, entre outros sugestões recomenda-se que o pesquisador
– inclusive de preferência num instante anterior ao momento
da leitura em questão – tenha escolhida um autor ou uma teoria
consistente de apoio para poder basear-se e passar à análise dos
dados levantados, quando se fizer necessário. Ou seja, "Para isso
não ocorrer (interpretação baseada exclusivamente no ponto de
vista pessoal), é necessário que a interpretação se faça a partir da
ligação dos dados com conhecimentos signifi cativos, originados
de pesquisas empíricas ou de teorias comprovadas" (GIL, 1995,
p.70). Colocando com outras palavras:

"Quem dispõe de boa teoria, diante do dado sabe interpretar, ou
pelo menos sabe propor pistas de interpretação possível" (DEMO,
1990, p.23).


Apontamentos
"No ato de documentar o que considera útil e relevante à fi xação dos
seus conhecimentos, você acumulará um significativo material que

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Ciências Humanas e Complexidades

servirá de consulta às provas, aos escritos e pesquisas" (HÜHNE,
1988, p. 22).

A questão dos apontamentos sobre o material de pesquisa é de
suma importância, mormente visando ao processo de organização
das informações coletadas que podem colaborar bastante para
a reflexão e o desenvolvimento propriamente dito do texto da
pesquisa. A despeito de não existir necessariamente uma única
forma de elaboração dos apontamentos ou da documentação do
material coletado nas pesquisas, ainda assim, podem-se observar
duas maneiras básicas de realizá-los: há os apontamentos feitos
através de "fichas manuscritas"; há os apontamentos feitos e
armazenados através de "fi chas no computador".

Ressalte-se que, até pouco tempo, a primeira forma de armazenamento
era a mais freqüente. A segunda forma de apontamento,
por sua utilização mais recente, apresenta ainda certa difi culdade,
pois, naturalmente, requer que o pesquisador disponha de um
microcomputador, que possa ser usado durante todo o processo
de pesquisa. Independente, porém, do processo utilizado, o relevante
é compreender que o objetivo básico dessa fase é armazenar
as informações colhidas nas obras pesquisadas da maneira mais
funcional possível. Colocando com outras palavras, o "espírito
da coisa" aqui é coletar e anotar as informações de tal forma
que diante de uma necessidade ou um eventual contratempo
na elaboração da pesquisa, possam-se obter a informação ou os
dados importantes já colhidos sem perda de tempo. A título de
exemplo, uma infeliz situação é aquela em que depois de muito
pesquisar um assunto, na hora de escrever o texto o autor do
trabalho enfrenta uma das piores vicissitudes: por não achar
a citação devida, perde quase um dia inteiro para ir de novo a
uma biblioteca que já freqüentou há tempos, apenas pelo fato
contraproducente de que ele não se organizou devidamente em
termos de anotações sistemáticas, seja pelo processo de "fi chas
manuais", seja por qualquer outro sistema.

Enfim, como a anotação manual de fichas (apontamentos via
sistema de fichas comuns) ou os apontamentos via computador

..


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podem ser fatores que se complementam e não necessariamente
se anulam, passaremos, a seguir, ao debate de algumas sugestões
acerca do processo básico de fi chamento.


Apontamentos por sistema de fichas comuns
A anotação dos apontamentos pelo processo de fichas, de uma
maneira geral, pode ser desenvolvida nas seguintes situações: a-
"fichas de indicação bibliográfica (autor, obra, assunto)", a qual
só deve ser feita após a leitura do capítulo 4 do presente livro;
b- ficha de "transcrições, para citações"; c- fichas de "apreciação";
d- fichas de "esquemas"; e- fichas de "resumos"; f- fichas de "idéias
sugeridas pelas leituras, etc.".

"Fichas de transcrição: enquanto se realiza a leitura analítica ou
interpretativa das fontes bibliográficas, convém selecionar trechos de
alguns autores, que poderão(...) ser usados como citações no trabalho
ou servir para destacar idéias fundamentais de determinados autores,
nas obras consultadas;

"Fichas de apreciação: durante a pesquisa bibliográfica, é de
grande utilidade fazer anotações a respeito de algumas obras, no que
se refere a seu conteúdo ou estabelecendo comparações com outras da
mesma área. Anotam-se críticas, comentários e opiniões sobre o que
se leu. Este procedimento poupa o tempo que seria gasto no reexame
das fontes bibliográfi cas;

"Fichas de esquemas: os esquemas anotados nas fichas tanto podem
referir-se a resumos de capítulos ou de obras, quanto de planos de
trabalho. No primeiro caso, procura-se facilitar as revisões das matérias
ou memorização de conteúdos; no segundo, trata-se de gravar,
através de anotações, planos de trabalho ou de redação;

"Fichas de resumos: os resumos anotados nas fichas podem ser
descritivos ou informativos, dependendo da sua finalidade. O resumo
descritivo, embora não dispense a leitura do original da obra, tem a
vantagem de apontar suas partes principais, facilitando o processo
de seleção da bibliografia. O resumo informativo, mais abrangen


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Ciências Humanas e Complexidades

te, dispensa a leitura do texto original, por isso é de grande valia
quando se deseja ter à mão o conteúdo de obras consultadas em uma
biblioteca;

"Fichas de idéias sugeridas pelas leituras: ocorre, muitas vezes,
enquanto se procede ao levantamento bibliográfico, surgirem idéias para
a realização de trabalhos ou para complementar um tipo de raciocínio
ou para complementar um tipo de raciocínio ou de exemplifi cação no
trabalho que se realiza ou em outro, provavelmente de outra área ou disciplina.
A experiência ensina que essas "idéias cometas", que passam
de relance pela mente, se não forem devidamente anotadas, difi cilmente
ou jamais serão recuperadas. É, portanto, aconselhável que se anotem
imediatamente, de preferência em fi chas, essas idéias fugidias, sempre
que elas ocorrerem" (ANDRADE, 1993, p. 44-45).


Apontamentos via computador
Em relação aos apontamentos realizados via computador, podem-
se aplicar exatamente os mesmos procedimentos que os "sistemas
de apontamentos de fichas comuns". A condição sine qua non,
no caso, como já foi dito, é que o usuário possa contar com um
"micro" disponível durante todo o processo de pesquisa. Ressalte-
se que com o desenvolvimento da tecnológica atual, o domínio
da linguagem informatizada, ainda que mínimo, tornou-se um
requisito necessário.

Mas, além dos apontamentos, há outra série de vantagens que
podem ser realizadas pelo computador. Dentre elas, destacamos
a informatização de uma série de bibliotecas informatizadas e
também um número enorme de fichários que podem ser acessados
via CD-ROM. Assim, sobretudo para os pesquisadores que
já dominam minimamente tais linguagens, há várias sugestões
práticas sobre o acesso a tais bibliotecas virtuais e aos tipos específi
cos de CD-ROM. Dentre elas, destacamos:

A melhor sugestão, nesse caso, é que cada um se dê ao trabalho de
interrogar bibliotecários e documentalistas sobre o estado dos fi chá


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Ciências Humanas e Complexidades

rios, dentro do campo em que vai conduzir sua pesquisa: quais são os
fichários informatizados disponíveis? O que eles cobrem exatamente,
como documentação e em que período? E, portanto, a quais fi chários,
informáticos e manuais, se deve recorrer?

"Segundo a disciplina, a matéria e as áreas culturais que lhe interessam,
cada um vai dispor de instrumentos cada vez mais poderosos.
Cabe a você achá-los, escolhê-los e aprender a fazer o melhor uso
deles, em função do tempo de que dispõe, de suas necessidades e da
efi cácia do instrumento com relação a essas necessidades (BEAUD,
1966, p. 74).

Outro fator que ajuda bastante, pelo menos nos dias atuais,
é lançarmos mão de provedores de informação, tais como o do
"Google" http://www.google.com.br/ ou do "Wikipédia, a enciclopédia
livre": http://pt.wikipedia.org/wiki/P%C3%A1gina_
principal. Desnecessário afirmar que ambos estão ao alcance de
um toque nas mãos no computador em qualquer país. A recomendação
aqui é que mesmo que esses provedores se proponham
a fazer um trabalho sério, sempre que possível, devemos checar
as informações. Infelizmente, ainda que tal tecnologia permita

o acesso ao conhecimento, há na internet algumas informações
que não correspondem totalmente à realidade, portanto, notadamente
em se tratando de trabalhos acadêmicos não nos custa
nada cruzar todos os dados obtidos.

Pesquisa Bibliográfica e Pesquisa Documental
É comum discutir-se a pesquisa documental como uma investigação
que se aproxima e, às vezes, se apresenta até como sinônimo
de pesquisa bibliográfica. A despeito de tal designação não implicar
necessariamente um erro, pois que os dois tipos de pesquisas
baseiam-se em "fontes de papel", ainda assim é preciso discuti-las
marcando uma diferença.

A pesquisa documental diverge da bibliográfi ca, sobretudo
porque ela é feita a partir de uma investigação realizada em tex


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tos de fontes primárias, ou seja, tal investigação é desenvolvida
em textos que estão sendo estudados praticamente pela primeira
vez. Geralmente tais estudos são realizados sobre manuscritos,
documentos originais, enfim, textos raros, que funcionam como
fonte primária para muitos outros textos, que são elaborados
sobre uma escola de pensamento, um determinado pensador,
ou um assunto específico. A pesquisa bibliográfica, por sua vez,
é desenvolvida a partir de textos já elaborados e estudados, que
no fundamental, são considerados textos de fontes secundárias.

2.2.3. A questão da entrevista com especialista/
orientador/ consultor
"Que ninguém se confunda: assim como para os medicamentos,
há o bom uso do orientador (ou especialista)" (BEAUD,
1996, p. 100).

O encontro com um especialista, num primeiro momento, como
sinalizamos, visa ao aprimoramento da questão principal e de uma
outra série de procedimentos prévios do processo de pesquisa,
que já foram desenvolvidos no nosso capítulo 1.

Num segundo momento, tal providência também é importante
e deve ocorrer principalmente porque, considerando não
só as possíveis dificuldades de início, mas também uma série de
outros impasses freqüentes no desenvolvimento da pesquisa;
considerando as dificuldades na elaboração de um instrumento
eficaz que tenha probabilidade de firmar-se tanto na discussão
quantitativa quanto na qualitativa; considerando que além disso,
faz-se necessário também a escolha de uma teoria de apoio que
possa ajudar na interpretação e debate dos dados coletados, de
maneira que se evitem exclusivamente opiniões pessoais ou outros
fatores próximos do senso comum; enfi m, considerando essas e
outras questões que nos afastam de um razoável desenvolvimento
crítico do processo de elaboração da pesquisa, podendo-se contar
com um interlocutor privilegiado – o especialista em questão – o
trabalho de pesquisa só tem a ganhar. Em outras palavras, todo

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Ciências Humanas e Complexidades

trabalho de pesquisa que pode contar com um interlocutor do
gênero, para acompanhar, discutir, emitir sugestões e críticas nos
diversos momentos de impasses, aumenta consideravelmente suas
chances de realizar-se com qualidade.

Quais são as principais questões implicadas no encontro com
o orientador e/ou especialista na elaboração de uma pesquisa?
Há aqui duas questões em pauta: de um lado, como já se viu, aumentamos
as possibilidades de se ter um trabalho com qualidade,
quando conseguimos desenvolver um diálogo problematizador e
funcional com o especialista ou o interlocutor privilegiado; por
outro lado, a apreensão "inteligente" da parte do pesquisador,
acerca das sugestões e críticas que vierem à tona a partir de
tal diálogo, é uma das condições de suma importância para a
obtenção da referida qualidade. Para tanto, basta lembrar que
como diz o aforismo introdutório dessa parte, "assim como deve
se procurar fazer um bom uso dos remédios, há o bom uso dos
interlocutores na pesquisa".

O que tal fato implica? Implica principalmente que escutar e
pensar de forma funcional o diálogo com o consultor, especialista
ou orientador, requer, antes de tudo, uma triagem do que é
dito. Colocando com outras palavras, se existem, de uma parte,
críticas e sugestões que devem ser seguidas "sem hesitações", de
outra parte há críticas e sugestões que talvez devam ser postas
de lado. Vejam bem: não é que tais críticas devam ser necessariamente
abandonadas; elas devem ser escutadas, analisadas e
deixadas de lado para que possam ser usadas, quem sabe, num
outro momento...

O que se dirá de um arquiteto que por causa das reflexões e observações
do mestre-de-obras e de seus conselheiros, improvisasse uma abertura
suplementar, modificasse o nível de uma peça, deslocasse uma parede,
recuasse um muro, invertesse uma escada, mudasse a planta da cozinha
ou do banheiro, sem manter a coerência do conjunto?

Acontece o mesmo com a tese (ou trabalho de pesquisa): procedidos
sem a preocupação de conservar o "movimento de pensamento", a

..


Ciências Humanas e Complexidades

"coerência da demonstração", mesmo que existisse uma sugestão que
fosse o máximo, do tipo "os dez melhoramentos", ainda assim, tal
sugestão aplicada desconsiderando a reflexão em pauta, indubitavelmente,
poderia "conduzir ao pior" (BEAUD, 1996, p. 102).

Assim, tendo em conta alguns problemas que podem possivelmente
aparecer nos encontros com o especialista, vale a
pena reproduzir algumas sugestões que tratam do assunto, que
são: 1- "Certas críticas e sugestões", na maior parte das vezes,
resultam do excelente conhecimento que o orientador tem da
área escolhida. Desta forma, de um lado, é conveniente levar
em conta 100% delas; 2- De outro lado, há "outras críticas ou
sugestões que traduzem simplesmente um 'mal-estar' do leitor,
uma dificuldade, uma reação quanto à leitura". Ou seja, nesta
última situação, tais críticas "não devem ser tomadas ao pé da
letra, mas sim consideradas como sintoma de que alguma coisa
pode não estar funcionando bem. Não queremos dizer com tal
colocação que todas as críticas do orientador ou do especialista
devam ser deixadas de lado, nem queremos dizer também que
não seja necessário tal diálogo. Ao contrário, quer-se apenas sinalizar
que dada sua importância, quando algo no trabalho não
está funcionando bem, além de isto constituir-se num momento
difícil, precisamos procurar as causas básicas de tal fator, sobretudo
para que se possa fazer uma triagem e aproveitar, do que
é dito, aquilo que realmente colabora para o desenvolvimento
da pesquisa. Isto sem contar que, caso se consiga ter clareza do
que ocorre, talvez se possam superar esses impasses e se evitar
algumas situações desagradáveis e desgastantes para ambos
os lados. Sublinhe-se ainda que a leitura de tais causas podem
apontar para fatos curiosos: às vezes, as referidas críticas talvez
tenham "a ver simplesmente com o que foi assinalado"; mas talvez
tratem de algo mais complicado; "talvez tragam, por trás do
problema apontado, outro problema..." 3- Mas, independente de
onde estiver a dificuldade, e "seja ela qual for, é o autor (no caso,

o pesquisador) e só ele quem deve procurar a solução: o autor é
o único responsável por sua tese; deve saber seguir os conselhos,
..


Ciências Humanas e Complexidades

levar em conta certas críticas; mas deve também saber resistir e
se sustentar, pois só ele tem a visão do conjunto; e só ele assumirá
a responsabilidade fi nal" (BEAUD, op. cit., p.101- 102).

Enfim, pensando em termos ideais, não é de se esperar que
ocorram problemas nesses encontros. Contudo, realisticamente
falando, como se trata de duas pessoas humanas e há também
uma relação, ou uma díade relacional, sempre que for possível,
deve-se tentar compreender os mal-entendidos por todos os
ângulos possíveis, inclusive, se for o caso, do lado relacional de
cada um dos dois implicados. Alguns pesquisadores têm como
praxe procurar consultores ou orientadores entre o grupo de
ex-professores, professores conhecidos ou indicados por outro
professor que, de alguma forma, forneça uma base de um conhecimento
prévio. Aqui, parte-se do princípio de que quando
já se tem certo conhecimento sobre o outro, quando já se tem
uma história, ainda que breve, sobre alguém, quando se tem uma
certa vinculação de algum nível, aumentam as possibilidades de
aceitação e entendimento. Claro que toda regra tem exceção,
porém o "espírito da coisa" aqui, em síntese, é:
a) ter o mínimo de abertura para com as críticas do outro;
b) ter o mínimo de tolerância e atenção com o outro, lembrando

que muitos desses especialistas, principalmente os mais expe


rientes, são muito requisitados e não só têm diversas ocupações

bastante sérias, como têm também várias teses, textos para ler,

de modo que um pouco de compreensão ajuda bastante na

relação;
c) evitar importunar, a toda hora, o especialista com questões

secundárias: "deve-se, é claro – salvo absoluta impossibilidade

– seguir seus cursos e seminários, que são as melhores ocasiões
para se beneficiar de conselhos dispensados coletivamente"
(BEAUD, op. cit, p. 103).
..


CAPITULO III


Discussão dos
Principais Métodos
e Técnicas de
Pesquisas


Ciências Humanas e Complexidades

Não seria 'realista' prender a realidade a um único parâmetro
de pesquisa. Se soubéssemos com evidência inconteste o que
é a realidade, não seria necessária a ciência. Neste sentido, a ciência
vive do desafio imorredouro de descobrir a realidade que, sempre
de novo, ao mesmo tempo se descobre e se esconde. Possivelmente
esta marca é comum também à realidade natural, mas é,sobretudo,
característica da realidade social. 'O que se vê', de modo geral, não
é, nem de longe, a parte principal e, na conseqüência, o que está nos
dados muitas vezes é manifestação secundária, ocasional, superfi cial
(DEMO, 1990, p.19).

Embora muito se discuta, há ainda algumas confusões acerca dos
métodos e técnicas de pesquisa. Dentre elas, destacam-se duas: a
primeira reside na posição dos que confundem métodos com técnicas;
a segunda situa-se entre aqueles que propondo uma análise
da realidade, acabam reduzindo-a exclusivamente a uma visão
simplista e dogmática. Como adiante trataremos especifi camente
da diferença entre método e técnica, passemos agora para a breve
discussão introdutória do segundo elemento citado.

No trecho de DEMO acima, fala-se da posição que defende
dogmaticamente uma redução do real "a um único parâmetro
de pesquisa". O mais curioso é que ao se defender essa posição,
pode-se estar esquecendo de que não só existem realidades e
realidades, como também, ao tomar tal procedimento, a referida
ciência pode estar recriando tal real, sobretudo a partir
de determinado ponto de vista. Isto sem contar que o referido
procedimento pode ocorrer tanto na análise da realidade natural
como na análise da realidade social.

..


Ciências Humanas e Complexidades

De acordo com os quadros teóricos de referência, o real pode variar
e inclusive apresentar-se contraditório. Para começar, todo dado
empírico não fala por si, mas pela 'boca' de uma teoria. Se fosse evidente
em si, produziria a mesma análise sempre. Na prática, sucede
exatamente o oposto: dependendo do quadro teórico de referência, o
mesmo dado passa a 'evidenciar' conclusões muito diversas, o que leva
a aceitar que nos dados do IBGE, por exemplo, não está "o" Brasil,
mas o Brasil do IBGE (DEMO, 1990, p. 21).

De outro lado, há também aqueles que talvez querendo se
contrapor ao dogmatismo citado, acabam defendendo o seu
oposto e também deixam lacunas indefensáveis do ponto de
vista acadêmico. Colocando de outro modo, situam-se por aqui
posições que em defesa das várias realidades possíveis, confundem
equivocadamente tal ponto de vista com uma perspectiva
ingênua de se fazer uma pesquisa sem o mínimo de rigor, livre
de qualquer preocupação metodológica. Destaque-se que mesmo
diante da diversidade do real, a questão de rigor e de método
propriamente dito tem ainda seu valor em qualquer área de
conhecimento. Ora, a preocupação com o método aponta-nos
para o seguinte:

É sinal de competência, no mínimo de bom nível. Marx, Escola de
Frankfurt, Lévi-Strauss, Popper, todos sem exceção deixaram produções
essenciais no campo do método, pois é impossível criar análises
inspiradas sem discutir O COMO fazer (...).

A despreocupação metodológica coincide com baixo nível acadêmico,
pois passa ao largo da discussão sobre modos de explicar,
substituindo-a por expectativas ingênuas de evidências prévias. Nada

..


Ciências Humanas e Complexidades

favorece mais o surgimento do discípulo "copiador" que a ignorância
metodológica (DEMO, op. cit., p. 24).

Assim, tendo em vista a superação de tais impasses, vamos
discutir a questão dos métodos e técnicas a partir de seus potenciais
horizontes múltiplos, ou seja, primeiro vamos apresentar
os tipos básicos de pesquisa existentes, relacionando-os com a
discussão de seus principais métodos; após essa apresentação,
passaremos para o debate das técnicas, ressaltando seu caráter de
diferença com os métodos. Em suma, pretende-se mostrar com
tal discussão que independente das fi rulas de que o "método A"
é melhor do que o "método B", o mais relevante é que, no seu
conjunto, esses distintos métodos podem trazer enormes contribuições,
sobretudo quando apontam para um objetivo comum: a
criação, o aprimoramento e o avanço do conhecimento científi co
em benefício do humano nas diferentes sociedades.

3.1. Tipos básicos de pesquisa (1)
Podem ser realizados vários tipos de pesquisas, que vão variar
em função de diferentes enfoques. Considerando que se podem
delinear esses diferentes tipos em função de distintos enfoques,
vamos debatê-los, então, a partir dos seguintes pontos: a- Tipologia
quanto à natureza; b- Tipologia quanto aos objetivos;
c- Tipologia quanto aos procedimentos; d- Tipologia quanto ao
objeto (ANDRADE, 1993;1995).

3.1.1. Tipologia quanto à natureza
A pesquisa pode ocorrer a partir de dois tipos básicos: pesquisa
de trabalho científico original ou pesquisa de trabalho científi co
não-original. Vejamos o que signifi cam:


Trabalho científi co original: é aquele que precisa ser desenvolvido,
principalmente, como o próprio nome já diz, a partir de
um caráter original. Assim, ela se propõe a discutir um tema
que está sendo particularmente estudado pela primeira vez.
..


Ciências Humanas e Complexidades

Como exemplo desse tipo de estudo, pode-se exemplifi car
com as teses de doutorado e outras pesquisas cuja elaboração
exige-se o caráter em questão.


Trabalho científi co não-original: denominados também de pesquisas
de resumo, trata-se de estudos que dispensam a originalidade,
ou seja,
"entende-se por pesquisa de resumo de assunto aquele texto que
reúne, analisa e discute conhecimentos e informações já publicadas"

(CERVO, 1983, p.52).

Ressalte-se que mesmo não exigindo o caráter original, tais
resumos não dispensam o rigor acadêmico; consistem num tipo
de "pesquisa fundamentada em trabalhos mais avançados (...), e
que não se limita à simples cópia das idéias. A análise e interpretação
dos fatos e idéias, a utilização de metodologia adequada,
bem como o enfoque do tema de um ponto de vista original são
qualidades necessárias ao resumo do assunto" (ANDRADE, op.
cit., p. 97). Geralmente, os resumos são indicados para estudos
monográficos de fim de curso na graduação e também em muitas
dissertações de mestrados. Na realidade, esses estudos contribuem
principalmente não só para iniciar os futuros pesquisadores, como
também para aumentar o conhecimento desses pesquisadores sobre
determinada área, que poderá ser desenvolvida, por exemplo,
num futuro trabalho científi co original.

3.1.2. Tipologia quanto aos objetivos
Do ponto de vista dos objetivos, as pesquisas se dividem em
três tipos: pesquisa exploratória; pesquisa descritiva e pesquisa
explicativa.


Pesquisa exploratória : é o início de todo trabalho científi co. De
uma maneira geral, tal pesquisa busca ampliar o número de
informações sobre determinado ponto que se quer investigar.
Além disto, a investigação exploratória, que pode ser basicamente
ilustrada através da pesquisa bibliográfica e do estudo
de caso, uma vez em curso, colabora bastante na delimitação,
..


Ciências Humanas e Complexidades

no aprimoramento do assunto de pesquisa, seja trabalhando
a definição dos objetivos, seja formulando e reformulando
a questão de estudo, seja trazendo novos dados que podem
ampliar nossa percepção sobre o assunto em pauta.


Pesquisa descritiva : nesse tipo, parte-se do princípio de que os
fatos devem ser analisados, classificados e interpretados de maneira
que o pesquisador não interfira neles, ou seja, nela ocorre
principalmente uma menor possibilidade da interferência do
pesquisador na análise dos fatos investigados. As pesquisas
descritivas caracterizam-se notadamente pelo detalhe de que
"os fenômenos do mundo físico e humano são estudados,
mas não manipulados pelo pesquisador" (ANDRADE, 1993,
p. 98).
Situam-se aqui as investigações geralmente denominadas de
pesquisas de levantamento, ou seja, as pesquisas descritivas são
majoritariamente aquelas que desenvolvidas no âmbito das ciências
humanas e sociais e que buscam levantar investigações sobre
opinião, mercado, etc. Na realidade, em tal situação, observam-se
pesquisas de levantamentos não só de caráter sócio-econômico,
como também de caráter psicossocial.

Dentre as pesquisas descritivas salientam-se aquelas que têm por
objetivo estudar as características de um grupo: sua distribuição
por idade, sexo, procedência, nível de escolaridade, estado de saúde
física e mental, etc. Outras pesquisas deste tipo são as que se propõem
a estudar o nível de atendimento dos órgãos públicos de uma
comunidade, as condições de habitação de seus habitantes, o índice
de criminalidade que aí se registra, etc. São incluídas neste grupo
as pesquisas que têm por objetivo levantar as opiniões, atitudes e
crenças de uma população. Também são pesquisas descritivas aquelas
que visam descobrir a existência de associações entre variáveis, como,
por exemplo, as pesquisas eleitorais que indicam a relação entre preferência
político-partidária e nível de rendimentos ou escolaridade

(GIL, 1995, p.46).

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Ciências Humanas e Complexidades

Ressalte-se ainda que é freqüente se observar, de um lado,
algumas pesquisas descritivas que se destacam por transcender a
simples descrição dos dados; não se restringindo a mera "identifi cação
da existência de relações entre variáveis", elas pretendem
"determinar a natureza dessa relação". Nestes casos, então, a
pesquisa descritiva aproxima-se da pesquisa explicativa.

De outro lado, há também algumas pesquisas descritivas
que, além de levantarem uma série de dados sobre determinado
fenômeno e a despeito de estarem com objetivos bem alinhados
com os da pesquisa descritiva, habitualmente contribuem para
"formar uma nova visão do problema, o que as aproxima das
pesquisas exploratórias" (GIL, op. cit., p. 46).


Pesquisa explicativa : trata-se de um tipo de pesquisa considerada
mais complexa, sobretudo por visar fundamentalmente detectar
os fatores que influenciam a concretização de determinados
fenômenos. Colocando com outras palavras, "a pesquisa
explicativa tem por objetivo aprofundar o conhecimento da
realidade, procurando a razão, o 'porquê' das coisas; por isso
mesmo, está mais sujeita a cometer erros. Contudo, pode-se
afirmar que os resultados das pesquisas explicativas fundamentam
o conhecimento científi co" (ANDRADE, 1995, p. 16).
Alguns autores, tais como GIL (1995), afirmam que o conhecimento
científico como um todo está fundamentalmente baseado
nos resultados estabelecidos pelas investigações explicativas.
É evidente que tal afirmação não implica que as pesquisas exploratórias
e descritivas não tenham valor. Ressalta-se apenas
que as referidas pesquisas funcionam geralmente como etapas
imprescindíveis para a obtenção de outras explicações científicas.
Por exemplo, freqüentemente pode-se observar que uma
pesquisa explicativa é a continuação de outra descritiva, pois "a
identificação dos fatores que determinam determinado fenômeno
exige que este esteja suficientemente descrito e detalhado" (GIL,
op. cit., p. 47).

Além de destacar que, no presente grupo em discussão, estão
as pesquisas experimentais e ex-post-facto, podem-se sublinhar ainda

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dois pontos importantes: 1- se nas ciências ditas naturais é comum
ver-se as pesquisa explicativas serem realizadas pelo método
experimental, de outro lado, nas ciências sociais, tal método
apresenta uma série de dificuldades e podem-se observar outros
métodos complementando-o; 2- nas ciências humanas, como, por
exemplo, na psicologia, ainda que se observem a apresentação
de elevado grau de controle, nem sempre se podem realizar
pesquisas totalmente explicativas. Assim, então, tais pesquisas
passam a ser denominadas de "quase experimentais".

3.1.3. Tipologia quanto aos procedimentos
Discutir as pesquisas em relação aos seus procedimentos é situálas
basicamente quanto aos seus elementos mais importantes na
coleta de dados, ou seja, é delinear a maneira através da qual se
obtêm os dados da investigação. Assim, podem-se observar dois
grandes grupos relativos em tal coleta: os dados, de um lado, são
coletados através de "fontes de papel"; de outro, são coletados
através de "fontes de pessoas".


Pesquisas de "fontes de papel": estão neste agrupamento a
pesquisa bibliográfi ca e a pesquisa documental.

Pesquisas de "fontes de pessoas": situam-se aqui a pesquisa
experimental, a pesquisa ex-post-facto, a pesquisa de levantamento
e o estudo de caso. Ressalte-se ainda que independente
das polêmicas, é junto das "fontes de pessoas" que estão
também a "pesquisa-ação e a pesquisa participante" (GIL,
op. cit., p. 48).
3.1.4. Tipologia quanto ao objeto
As pesquisas quanto ao objeto classifi cam-se particularmente
como: pesquisa bibliográfi ca; de laboratório; de campo.


Pesquisa bibliográfica: Pode constituir-se tanto como um
método de pesquisa propriamente dito quanto como um
procedimento importante para o momento preliminar da investigação,
pois, como já foi ressaltado, o estudo bibliográfi co
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Ciências Humanas e Complexidades

é imprescindível para toda fase preliminar da investigação.
Assim, sugerimos que se consulte o que discutimos sobre tal
fator, principalmente nos Capítulo 1 e 2, e na parte denominada
"Como fazer um levantamento bibliográfi co".


Pesquisa de laboratório: São as pesquisas realizadas em ambientes
específicos onde o pesquisador obtém condições de
"provocar, produzir e reproduzir fenômenos, em condições
de controle" (ANDRADE, 1993, p. 100). Embora as grandes
maiorias das pesquisas de laboratório sejam experimentais,
tal pesquisa não é sinônimo de pesquisa experimental. Além
de ressaltar que nas ciências sociais e humanas também se faz
esse tipo de pesquisa, e antes de passarmos para a apresentação
de uma espécie de roteiro-padrão acerca da elaboração da
pesquisa de laboratório, sugerimos a observação do trecho:
Convém esclarecer que a pesquisa experimental não se identifi ca
com a lei de laboratório, assim como a descritiva não é sinônimo de
pesquisa de campo. Os termos 'campo' e ' laboratório' indicam apenas

o contexto onde elas se realizam" (CERVO, 1983, p. 59).
Do ponto de vista do desenvolvimento, é possível realizar-se
uma pesquisa de laboratório a partir do Roteiro de Delineamento
para Pesquisa de Laboratório, que se encontra presente adiante (Ver
Quadro 1).


Pesquisa de campo: Refere-se basicamente ao tipo de pesquisa
na qual a coleta de dados é realizada em campo, ou seja, os dados
são coletados no local onde ocorrem espontaneamente os
fenômenos. Destaque-se que há a pretensão de que os referidos
dados sejam coletados de maneira que não haja "interferência
do pesquisador sobre eles" (ANDRADE, op. cit., p. 101).
Deve-se dizer ainda que o tipo de pesquisa em questão, desenvolvida
principalmente no âmbito das ciências sociais e humanas,
não se caracteriza fundamentalmente como experimental, ou
seja, ainda que possa haver pesquisa de campo experimental,

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Ciências Humanas e Complexidades

ela em si mesma não tem o objetivo de produzir ou reproduzir
os fenômenos estudados.

A título de esclarecimento, em linhas gerais, é preciso destacar
que a pesquisa de campo para ser desenvolvida necessita de um
"planejamento geral" e um "plano específico", que visam à coleta
de dados de maneira funcional. Além disto, para a realização
da investigação em questão, há a necessidade de se apresentar
um "relatório escrito de várias etapas da pesquisa, incluindo os
resultados obtidos" (ANDRADE, 1995).

Quadro 1. Roteiro de delineamento de pesquisa de laboratório

1- Determinação do assunto
2- Pesquisa bibliográfica prévia
3- Formulação de problema
4- Formulação de hipótese ou hipótese pela determinação das variáveis independentes

que se pretendem manipular em condições de controle

5- Prever, conhecer e testar a precisão dos instrumentos que serão utilizados na
manipulação e nas mensurações das variáveis independentes
6- selecionar as técnicas convenientes para o caso
7- Provocar o fenômeno e controlar a relação entre as variáveis independentes e os

eventos, com o objetivo de testar a hipótese pré-estabelecida
8- Generalizar ou ampliar os resultados
9- Fazer predições baseadas na hipótese confirmada
10- Reiterar experimentos para confirmar predições

(RUIZ, 1991, p. 56-57; ANDRADE, 1993, p. 100)

O projeto de pesquisa, no caso, é aquele elaborado com vista
à obtenção de bolsa de estudo ou financiamento diverso junto
às agências de fomento à pesquisa. Ele é também escrito para
ser mostrado ao orientador de uma monografia na graduação,
ou mesmo em diferentes situações nos cursos de pós-graduação.
O planejamento de pesquisa, por sua vez, mesmo tendo relação
com o projeto, aponta para outro procedimento. Ele diz das etapas
básicas, para se pensar e repensar previa e detalhadamente todos
os possíveis passos que devemos realizar em prol da pesquisa. Em
outras palavras, uma pesquisa, sobretudo de campo, jamais deve
ser realizada sem o planejamento prévio. Por exemplo, às vezes,
em função do assunto focalizado, o planejamento da pesquisa

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aponta como necessário uma pesquisa exploratória, seja para
clarear os objetivos, seja para refazer e aprimorar as hipóteses
da investigação.

Como se vê, ainda sobre o planejamento, ele é de suma importância
tanto no que tange ao aprimoramento da parte teórica
como no que concerne à coleta de dados. Assim, ele se inicia
freqüentemente pela primeira parte citada, para depois proceder-
se ao plano da obtenção dos dados.

Vejamos, então, a sugestão de dois esquemas básicos para a
pesquisa de campo: Esquema do projeto de pesquisa de campo (Ver
adiante, Quadro 2); Esquema do planejamento de pesquisa (Ver
adiante, Quadro 3). Ressalte-se que tais sugestões devem ser lidas
menos como sugestões cristalizadas e mais como pontos de reflexão,
os quais, em função de cada pesquisa e contexto próprio,
podem ser aprimorados.

Quadro 2. Esquema do Projeto de Pesquisa de Campo

1-Título do trabalho ou tema: ele deve obedecer aos critérios de relevância, viabilidade e


originalidade;
2-Delimitação do assunto: determinar o tipo de enfoque, bem como sua extensão e
profundidade;


3-Objetivos: esclarecer o que pretendemos, bem como os resultados que desejamos


obter com a pesquisa;
4-Justificativa: porque foi escolhido o tema em questão, qual a relevância e oportunidade
do assunto;


5-Universo da pesquisa: a que se refere a pesquisa, quais são os sujeitos que serão


investigados, qual seu objeto;
6-Metodologia: quais os métodos e técnicas que serão utilizadas na pesquisa. Pode incluir
um roteiro com as principais etapas do trabalho;


7-Cronograma: qual o tempo necessário para se desenvolver cada fase da pesquisa, ou


seja, discriminar quantas semanas ou quantos meses serão destinados a cada etapa;
8-Orçamento: especificar os recursos humanos e materiais indispensáveis para a realização
do projeto, com uma estimativa dos custos, quando este item for necessário;


9-Bibliografia básica: apresentar uma lista bibliográfica que contenha obras referentes aos
pressupostos do tema ou embasamento teórico do assunto. Esta bibliografia não precisa
ser completa, exaustiva, mas deverá ser elaborada de acordo com as normas da ABNT.


(ANDRADE, 1993, p.112)

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3.2. Métodos de pesquisa
A complexidade e a mutabilidade do real são tão grandes como
a imprecisão e rigidez dos métodos de investigação destinados a
compreendê-lo melhor (...). Neste sentido, o processo de (formação)
do conhecimento não é mais do que uma vitória parcial e efêmera
sobre a ignorância humana (QUIVY, 1992, p. 147).

Método pode ser conceituado como um conjunto de procedimentos
os quais são desenvolvidos visando à criação do conhecimento
(ANDRADE, 1993); contudo, mormente de um ponto de vista
de elaboração dos trabalhos científicos, os métodos podem ser
debatidos através de dois modos básicos de compreensão: 3.2.1-
método de abordagem ; 3.2.2) método de procedimento.

Quadro 3. Planejamento de pesquisa de campo

1- Escolha do tema
2- Delimitação do assunto
3- Levantamento bibliográfico ou revisão bibliográfica
4- Formulação do problema
5- Construção das hipóteses
6- Indicação das variáveis
7- Delimitação do universo (amostragem)
8- Seleção dos métodos e técnicas
9- Construção dos instrumentos da pesquisa
10- Teste dos instrumentos e procedimentos metodológicos.

(ANDRADE, 1993, p.113)

3.2.1. Compreensão pelo método de abordagem
O método de abordagem trata fundamentalmente do plano geral
de trabalho; fala de seus pressupostos lógicos, do processo de
raciocínio escolhido. Enfim, discutir o método de abordagem é
debater um conjunto de procedimentos essencialmente racionais,
caracterizados basicamente por "uma abordagem mais ampla, em
nível de abstração mais elevado, dos fenômenos da natureza e
da sociedade" (LAKATOS, 1992, p. 106). Em outras palavras, os

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métodos de abordagens podem se entendidos como um conjunto
de procedimentos gerais,

Baseados em princípios lógicos, permitindo sua utilização em várias
ciências. O método dedutivo, por exemplo, tanto pode ser usado na
Matemática, na Sociologia, na Economia, na Lógica ou na Física
Teórica (ANDRADE, op. cit, p. 105).

Em termos de seu delineamento e conforme especifi camente

o tipo de raciocínio empregado, o método de abordagem pode
ser discutido através de quatro maneiras principais: a) método
indutivo; b) método dedutivo; c) método hipotético-dedutivo; d)
método dialético.
Antes de passarmos para essa discussão, ressalte-se ainda que é
possível que tais métodos de abordagens apareçam tanto de uma
forma exclusiva em algumas pesquisas como de forma simultânea
em outras. Podem-se observar, por exemplo, alguns estudos sendo
feitos apenas pelo método indutivo, outros se desenvolvendo ao
mesmo tempo através do método dialético e dedutivo.


Método indutivo: trata-se de método que promove uma conexão
ascendente, ou seja, tal raciocínio parte de premissas
particulares em direção às premissas gerais. Certos autores,
tais como ANDRADE, estudando o método indutivo, afi rmam
que o mesmo confunde-se com o método experimental, que
pode ser delineado a partir das seguintes etapas:
"Observação: manifestações da realidade, espontâneas ou provoca-
das;

"Hipótese(s): tentativa de explicação;

"Experimentação: observação da reação de causa-efeito, imaginada
na etapa anterior;

"Comparação: classificação, análise e crítica dos dados recolhidos;


"Abstração: verificação dos pontos de acordo e de desacordo dos
dados recolhidos;

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"Generalização: consiste em estender a outros casos, da mesma
espécie, um conceito obtido com base nos dados observados" (ANDRADE,
1993, p. 105-106).


Método dedutivo: aqui ocorre a promoção da conexão descendente,
ou seja, os pressupostos de raciocínio partem de premissas
gerais para premissas particulares. A dedução, enfi m,
"é a argumentação que torna explícitas verdades particulares
contidas em verdades universais" (CERVO, 1983, p. 41).

Método hipotético-dedutivo: caracteriza-se principalmente
pelo seu aspecto lógico. Desta forma, relaciona-se fundamental
e historicamente com a questão da experimentação, fato
que lhe dá destaque particularmente nas investigações das
ciências naturais.
Vale ressaltar ainda que "não é fácil estabelecer a distinção
entre o método hipótetico-dedutivo e o indutivo, uma vez que
ambos são fundamentados na observação. A diferença é que o
método hipotético-dedutivo não se limita à generalização empírica
das observações realizadas, podendo-se, através dele, chegar
à construção de teorias e leis" (ANDRADE, 1993, p. 106).

Alguns autores, tais como INÁCIO FILHO, entre outros,
sinalizam que há uma controvérsia estéril entre a questão de se
responder se o método científico está mais para indutivo do que
para dedutivo, e vice-versa. Para o referido autor tal polêmica
pode ser colocada menos como uma saída cristalizada e mais
como um ponto de reflexão a partir do seguinte raciocínio:
considerando que tanto a indução quanto a dedução são dois
momentos da formação e do processo do conhecimento, então,
tais momentos não são necessariamente excludentes. Como isso é
possível? Isso se torna viável não por uma lógica formal, mas sim
por uma lógica dialética, que contém os princípios da unidade e
dos confl itos dos contrários. Colocando com outras palavras,

(...) é a ação recíproca desses dois momentos (indução e dedução) que
caracteriza o movimento do conhecimento. Isto, de certa maneira, já
era percebido em tentativas de compreender o movimento do conheci


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mento, mas não era explicitado enquanto lógica, o que só foi possível
com a formulação da lógica dialética, (sobretudo) a partir de Hegel

(INÁCIO FILHO, 1994, p. 92).


Método dialético: O método dialético, não obstante toda a
controvérsia que possa gerar, sobretudo para aqueles que
não aceitam ideologicamente os preceitos marxistas, caso
se consiga pensar além dos preconceitos e dos contrapontos
ideológicos, traz contribuições significativas sobre o processo
de formação do conhecimento. Define-se como um método de
investigação dos fenômenos em constante mudança, os quais
ocorrem inerentemente a partir das ações recíprocas e contraditórias
entre a natureza e a sociedade (POLITZER, 1970;
ANDRADE, 1993; LAKATOS, 1991; MARTINS, 1989).
O que tal fato implica? Implica principalmente que o método
dialético se opõe a todo conhecimento que quer se colocar
pretensamente de forma estática ou cristalizada. O referido
método, ao contrário, problematiza o processo de formação de
conhecimento dentro de um contínuo de constantes mudanças,
mudanças inacabadas que contém um todo que abarca contrários
em incessantes conflitos. Em tal processo, enfim, há sempre algo
que se cria, se desfaz, se agrega, se desagrega. Ilustrativamente, é
como se o real, nessa perspectiva, pudesse ser exemplifi cado por
uma massa heterogênea com todos os contrários em constante
luta. Tal massa, além de estar dentro do fluxo sem ponto fi nal, só
pode ser entendida a partir de análises objetivas, concretas, do que
se entende por real. Este, por sua vez, relaciona-se basicamente
ao seguinte fato: a dialética marxista aqui quer problematizar o
que denominam de verdade, porém "para além das aparências
imediatas, para além das mitificações". Assim, em oposição à
compreensão idealista, tal perspectiva acredita que a partir da
análise de condições objetivas pode-se entender o real e colocá-lo
disponível às mudanças sociais.

Com relação aos princípios do método dialético, diz POLITZER
(1970) que é possível delineá-lo a partir de quatro pontos
básicos: princípio da ação recíproca e da conexão universal; prin


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cípio da transformação e do desenvolvimento incessante; princípio
da mudança qualitativa; princípio da luta dos contrários.


Princípio da ação recíproca e da conexão universal
Para o ponto de vista dialético os acontecimentos que se investigam
não se apresentam separados da realidade, ou seja, se o
metafísico separa aquilo que é realidade daquilo que não é, na
referida perspectiva o princípio básico, que diz da ação recíproca
e da conexão universal, é que "tudo se relaciona"; todas as coisas
partem do dito mundo real e guardam uma relação entre si.
Colocando com outras palavras, tal princípio aplica-se à questão
mundo real versus mundo ideal, quanto a outros problemas, tais
como a questão da produção teórica versus produção da prática,
entre outros exemplos. Enfi m, de um lado, se o metafísico julga
que aquilo que ele pensa e produz não se relaciona com o que
ele faz, de outro lado, o adepto do método dialético não separa
tais fatores a partir de suas análise objetivas.


Princípio da transformação e do desenvolvimento
incessante
Para o dialético, em contraposição ainda ao metafísico, tudo está
em movimento, tudo se transforma. Embora essas transformações
ocorram de forma lenta e quase invisível aos olhos do senso comum
– como, por exemplo, o desabrochar de um botão que vira
rosa e, após exprimir-se em perfume e beleza, também fenece
lentamente –, ainda assim, para o método dialético, sobretudo
conforme esse segundo princípio, não existe nada imutável.

Há inúmeros outros exemplos nos quais, mesmo diante de
corpos aparentemente imóveis, esse segundo princípio dialético
pode ser aplicado. Dentre outras ilustrações, vejamos: vamos
imaginar que exista uma maçã imóvel sobre a mesa do professor.
Caso fiquemos apenas nas aparências, diríamos que ela está de
fato imóvel. Contudo, pela dialética, que vai além das aparências,

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se constará que ela, a despeito de estar aparentemente fi xa sobre
a mesa e mesmo supondo que esteja ali há meses, na verdade,
está em transformação. Por quê? Porque, aqui, segundo o princípio
da transformação e do desenvolvimento incessante, a maçã,
no caso, está se alterando, pois que, "a mudança é universal, o
desenvolvimento é incessante". Colocando de outra maneira, se
no primeiro princípio constatou-se que na análise do real, "tudo
se relaciona", um outro princípio desse real, além da unidade, é
também o do movimento. Aliás, diga-se de passagem, tal movimento
não é apenas um aspecto secundário da realidade, quer
dizer: quando se fala em natureza, fala-se em movimento; quando
se fala em realidade, fala-se do movimento. Assim, considerando
que a realidade é movimento, é processo, então, tal fator " se
manifesta, portanto, na natureza e na sociedade" (POLITZER,
op. cit., p. 46).

Quanto à natureza, vejamos ainda uma ilustração sobre esse
segundo princípio dialético: imaginemos um automóvel que está
rodando em alta velocidade em uma estrada. De repente, ele

Choca-se contra uma árvore e incendeia-se. Haverá nisso 'dissipação
da matéria'? Não; o automóvel em chamas é uma realidade tão
material quanto o automóvel que rodava em perfeitas condições; é
um aspecto novo, uma qualidade nova da matéria. A matéria é indestrutível,
mas muda de forma. Suas transformações não são outra
coisa que as transformações do movimento, o movimento é matéria
(...). No caso do automóvel, cuja gasolina se inflamou pelo choque, a
energia química, que, no motor, fez a explosão, se transforma em energia
cinética (isto é, em movimento mecânico), transforma-se, agora,
totalmente, em calor (em energia calorífica). A energia calorífi ca (o
calor) pode, por sua vez, transformar-se em energia cinética: o calor
existente na locomotiva transforma-se em movimento mecânico, que
faz com que a locomotiva se desloque (...).

Todas essas transformações não são mais do que a matéria em movimento
(POLITZER, op. cit., p. 47).

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Princípio da mudança qualitativa
Segundo o método dialético, há duas formas básicas de se analisar
os movimentos dos fenômenos naturais e sociais: são as mudanças
quantitativas e qualitativas. Assim, espera-se não só que a primeira
mudança leve ao segundo tipo de mudança – a qual ocorre freqüentemente
por acumulação –, como também que tal mudança
apresente-se com um estado particularmente diverso em relação
ao estado anterior. Colocando de outro modo, para a dialética, a
mudança qualitativa, longe de ser considerado um dado ilusório,
é um fato objetivo. Tal fato, por sua vez, ocorre principalmente
quando, no processo de mudanças, seja no mundo físico, seja
no social, alcança-se uma fase peculiar que é qualitativamente
diversa ao estado anterior.

Se aqueço a água, sua temperatura se eleva gradativamente. Quando
atinge 100 graus centígrados, entra em ebulição e se transforma em
vapor d'água (...). São duas espécies de mudanças. O aumento progressivo
de calor constitui mudança de quantidade, isto é, a quantidade
de calor existente na água aumenta. Em dado momento, porém, a
água muda de estado: sua qualidade de líquido desaparece; ela se
transforma em gás, sem, contudo, mudar sua natureza química.

Chamamos de mudança quantitativa o simples aumento (ou simples
diminuição) de quantidade. Chamamos de mudança qualitativa a
passagem de uma qualidade para a outra, a passagem de um estado
para outro (POLITZER, op. cit., p. 57).

Nas sociedades, por sua vez, a passagem da quantidade para
a qualidade, segundo Politzer, pode ocorrer tanto por mudanças
lentas e graduais como por mudanças rápidas e/ou por saltos
(crises). Como exemplo de mudanças qualitativas graduais, ele
ilustra com as transformações da língua. Contudo, ainda como
exemplo das mudanças rápidas, diz: " Se forem necessários 60223
votos para eleger um candidato, será, precisamente, o '60223'
sufrágio que vai realizar o salto qualitativo, pelo qual o candidato
se torna deputado. Esse salto, essa mudança rápida e súbita foi,

..


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entretanto, preparada pela acumulação gradual e insensível de
sufrágios: 1+1+1... Enfim, eis um exemplo muito simples do salto
qualitativo, da mudança radical" (Op. cit., p. 58).

Enfim, poderíamos encher páginas e mais páginas com exemplos
desse princípio. Entretanto, a idéia central aqui, é que, do
ponto de vista do processo dialético, além de se destacar que a
realidade contém tanto o quantitativo como o qualitativo, a mudança
qualitativa é uma mudança de estado (2). Na realidade,
para concluir, vale dizer: "A acumulação quantitativa prepara a
transformação qualitativa, ainda que não aparente fazê-lo(...)".
Em outras palavras, "se o metafísico, ou nega as mudanças
qualitativas, ou, então, admite-as sem explicá-las, atribuindo-as
ao acaso ou aos milagres (...). O dialético, ao contrário, compreende
o movimento da realidade, unindo, necessariamente,
mudanças quantitativas e mudanças qualitativas, e as une na sua
prática"(Ibidem p. 68).


Princípio da luta dos contrários
Quanto ao quarto e último princípio do método dialético, pode-se
dizer que se refere principalmente a uma questão fundamental
que está intrinsecamente relacionada aos outros três princípios
anteriormente discutidos, ou seja, se todas os fatos na natureza e
na sociedade guardam uma relação, se tudo está em movimento
e há a tendência de se passar da quantidade à qualidade, então,
cabe a indagação: qual é o motor da mudança? Para o método
dialético, discutir o motor de toda mudança na natureza e na
sociedade é tratar do quarto princípio em questão, quer dizer, é
falar da "luta dos contrários".

O que tal fato implica? Implica que, segundo POLITZER esse
motor do processo dialético ocorre, sobretudo, através de três
fatores básicos que são: a contradição é interna; a contradição é
inovadora; a questão da unidade dos contrários.


A contradição é interna : Considerando que, como já foi exposto,
toda realidade é movimento; considerando que no processo
do referido movimento, há uma contradição, pois fala-se de
..


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uma realidade que tem fatores diversos, destaque-se que tal
contradição é inerente ao referido processo. Colocando com
outras palavras, há uma luta interna na contradição do processo
de movimento, a qual, longe de ser um fator exterior ao
mesmo, é a sua essência. Ilustrativamente, pode-se dizer: "Por
que a vida, depois de dar flores e frutos, entra em decadência
até morrer? Porque não é apenas vida. A vida se transforma
na morte, porque a vida traz em si uma contradição interna,
porque ela é a luta quotidiana contra a morte. (...) O meta-
físico opõe a vida à morte, como dois absolutos, sem lhes
ver a unidade profunda, unidade de forças contrárias (...). A
contradição é, pois, interna a toda mudança" (POLITZER,
1970, p. 71).


A contradição é inovadora: Além de perceber o caráter interno
da contradição no processo dialético, é necessário compreender
que tal contradição é a luta entre o velho e o novo. Esta
é uma das grandes questões do princípio em discussão: a luta
contraditória entre o velho e o novo, se resolve quando o novo
supera o antigo, destacando o caráter inovador do método
dialético. A título de ilustração, pode-se observar que esse fato
é comum, sobretudo na história das ciências. Aqui, se de um
lado há progresso e avanço, de outro tal procedimento ocorre
principalmente porque há uma luta entre os contrários, ou
seja, há uma batalha entre uma perspectiva estabelecida e uma
perspectiva nova. Assim, quando a idéia nova prepondera é
porque houve um "corte", ou uma vitória do novo em relação
ao antigo, aparecendo, então, novas formas de se perceber
determinado fenômeno.

A questão da unidade dos contrários: Aqui, o que está em jogo é
um axioma fundamental da dialética, ou seja, "os contrários
se combatem; porém, são inseparáveis" (POLITZER, op. cit.,
p. 76). Colocando com outras palavras, não há "motor" no
processo dialético se não houver uma luta entre, no mínimo,
duas forças contraditórias, isto é, problematizar tal fato é compreender,
em síntese, o terceiro caráter da contradição, que é
..


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a unidade dos contrários. Vejamos um exemplo: "Existe, em
um dia, um período de luz e um período de escuridão. Pode
ser um dia de 12 horas e uma noite de 12 horas. Portanto,
dia e noite são dois opostos que se excluem entre si, o que
não impede que sejam iguais e constituam as duas partes de
um mesmo dia de 24 horas. Por sua vez, na natureza há o
repouso e o movimento, que são contrários entre si. Para o
físico, entretanto, o repouso é uma espécie de movimento e,
reciprocamente, o movimento pode ser considerado como
uma espécie de repouso. Portanto, existe unidade entre os
contrários, apresentando-os em sua unidade indissolúvel"
(LAKATOS, 1991, p.105).

3.2.2. Compreensão pelo método de procedimento
O método de procedimento, em contrapartida ao método de
abordagem, tem um caráter mais específico, ou seja, apresenta-
se menos da perspectiva do plano geral do trabalho e mais do
ponto de vista de suas etapas, ressaltando suas particularidades
(ANDRADE, op. cit.). Em outras palavras,

Os métodos de procedimento seriam etapas mais concretas da investigação,
com finalidade mais restrita em termos de explicação geral
dos fenômenos e menos abstratas. Dir-se-ia até serem técnicas que,
pelo uso mais abrangente, se erigiram em métodos. Pressupõem uma
atitude concreta em relação ao fenômeno e estão limitados a um
domínio particular (LAKATOS, 1991, p. 106).

Partindo de tais considerações, pode-se dizer que os principais
métodos de procedimentos, que podem ser usados nas ciências
sociais e nas humanidades, são: a- Método histórico; b- Método
estatístico; c- Método estruturalista; d- Método funcionalista;
e- Método comparativo e f- Método monográfico ou de estudo
de caso.


Método histórico: investiga os fenômenos sociais e humanos
nos seus processos históricos, averiguando-os juntos das instituições
do passado a fim de ver os possíveis graus de infl uência
..


Ciências Humanas e Complexidades

na sociedade atual. Tal método, em suma, parte do princípio
de que considerando que "as atuais formas de vida social, as
instituições e os costumes têm origem no passado", então,
"é importante pesquisar suas raízes, para compreender sua
natureza e função" (LAKATOS, 1991, p. 106-107).


Método estatístico: utiliza-se fundamentalmente da perspectiva
estatística, a qual lida com probabilidades. Ainda que indique
certa margem de erro, suas conclusões mostram-se com grandes
possibilidades de acertos, pois, "a manipulação estatística
permite comprovar as relações dos fenômenos entre si, e obter
generalizações sobre sua natureza, ocorrência ou signifi cado.
Um exemplo: pesquisa sobre a correlação entre nível de escolaridade
e número de fi lhos" (ANDRADE, 1995, p. 23).

Método estruturalista: arquitetado por Lévi-Strauss, parte de
determinado acontecimento concreto para chegar aos fatos
abstratos, e vice-versa. Tal relação, em síntese, pode ser delineada
por um modelo de compreensão acerca de uma realidade
estruturada, que vai tanto do abstrato para o concreto, como
deste último fator para o primeiro. Em outras palavras: o método
estruturalista "é utilizado para designar as correntes do
pensamento que recorrem à noção de estrutura para explicar
a realidade em todos os níveis" (ANDRADE, 1995, p. 24).

Método funcionalista: tendo Malinowski como um dos maiores
expoentes, trata-se de um procedimento que "é, a rigor,
mais um método de interpretação do que de investigação"
(LAKATOS, 1991, p. 110; ANDRADE, 1993; 1995). O que
tal fato compreende? Ora, considerando que a sociedade
pode ser vista como um fenômeno constituído por diferentes
partes componentes e tais partes não só apresentam-se com
diversidades, mas se relacionam e são simultaneamente independentes
entre si; tendo em conta que cada uma dessas partes
apresenta funções essenciais na vida social; considerando
ainda que se as "partes são bem mais entendidas", pode-se
compreender "as funções que desempenham no todo", assim,
então, o método funcionalista se propõe a estudar a sociedade
..


Ciências Humanas e Complexidades

a partir da função "de suas unidades", ou seja, estudá-la como
um sistema "organizado de atividades". A título de ilustração,
vejamos um trecho:

O método funcionalista considera, de um lado, a sociedade como uma
estrutura complexa de indivíduos, (os quais estão) reunidos numa trama
de ações e reações sociais; de outro, como um sistema de instituições
correlacionadas entre si, agindo e reagindo umas em relação às outras.
Qualquer que seja o enfoque fica claro que o conceito de sociedade é
visto como um todo em funcionamento, um sistema em operação. E o
papel das partes nesse todo é compreendido como funções no complexo
de estrutura e organização (LAKATOS, 1991, p. 110).


Método comparativo: tendo em conta que a investigação das
diferenças e similitudes entre as diversas culturas, sociedades,
agrupamentos pode apontar para contribuições no estudo do
comportamento humano, assim tal método, em síntese, se
propõe a problematizar comparações entre esses diferentes
grupos, com o intuito de levantar semelhanças e destacar as
diversidades. Em outras palavras, "é um método usado tanto
para comparações de grupos no presente, no passado, ou entre
os existentes e os do passado, quanto entre sociedades de iguais
ou de diferentes estágios de desenvolvimento". A título de
exemplo, pode-se pensar aqui nas "pesquisas sobre as classes
sociais no Brasil, na época colonial e atualmente; pesquisas
sobre aspectos sociais da colonização portuguesa e espanhola
na América Latina" (ANDRADE, 1995, p. 23).

Método monográfico ou estudo de caso: parte do princípio de
que qualquer caso que se discuta além da superfície dos fatos
e com sistematização pode ser significativo para a compreensão
de muitos outros. Isto sem contar que o referido caso, a
despeito de considerar-se uma possível margem de erro, pode
ser representativo de muitos os outros casos semelhantes. Em
outras palavras,
O método monográfico consiste no estudo de determinados
indivíduos, profissões, condições, instituições, grupos ou comuni


..


Ciências Humanas e Complexidades

dades, com a finalidade de obter generalizações. A investigação
deve examinar o tema escolhido, observando todos os fatores que

o influenciaram e analisando-o em todos os seus aspectos. (...) Em
seu início, o método consistia no exame de aspectos particulares,
como, por exemplo, o orçamento familiar, as características de
profissões ou de indústrias domiciliares, o custo de vida, etc.
Entretanto, o estudo monográfico pode, também, em vez de se
concentrar em um aspecto, abranger o conjunto de atividades de
um grupo social particular, como no exemplo das cooperativas e
do grupo indígena. A vantagem do método consiste em respeitar
a 'totalidade solidária' dos grupos, ao estudar, em primeiro lugar,
a vida do grupo na sua unidade concreta, evitando, portanto, a
prematura dissociação de seus elementos. São exemplos desse
tipo de estudo as monografias regionais, as rurais, as de aldeia e,
até, as urbanas (LAKATOS, 1991, p. 108).
Ressalte-se ainda que, como diz LAKATOS, os métodos de
procedimento também podem ser utilizados concomitantemente.
Tal fato pode vir a acontecer, com o objetivo básico de se alcançar
várias visões sobre determinado objeto de estudo. Vejamos, então,
um trecho de ilustração: "Para analisar o papel que os sindicatos
desempenham na sociedade, pode-se pesquisar a origem e o desenvolvimento
do sindicato, e a forma específica em que aparece
nas diferentes sociedades", através do método histórico, comparativo.
Agora, ilustrando, digamos, com A análise de garimpos e
garimpeiros de Patrocínio Paulista – tese de doutoramento da Profa.
Marina de Andrade Marconi, observamos o desenvolvimento dos
métodos históricos, estatístico e monográfico. Tal texto, como se
vê, "exigiu a pesquisa, no passado, das atividades dos garimpeiros,
suas migrações e métodos de trabalho; na investigação da
característica do garimpeiro de hoje, foi empregado o método
estatístico; e, finalmente, ao limitar a pesquisa a determinada
categoria, utilizou-se o método monográfico" (LAKATOS, op.
cit., p.112) / (3).

..


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3.3. Técnicas de Pesquisa
Por técnicas de pesquisa entende-se o conjunto de normas ou
preceitos usados especificamente pela ciência na busca de seus
propósitos; falam antes de tudo da parte prática ou das habilidades
concretas no aspecto de se usar tais preceitos e normas na busca de
material fundamental para o estudo: a "técnica é a instrumentação
específica da coleta de dados" na investigação (ANDRADE, 1995,

p. 24). A questão da técnica, em síntese, pode ser apresentada por
dois grandes agrupamentos: técnicas da documentação indireta
e técnicas de documentação direta.
3.3.1. Documentação indireta
Compreende os procedimentos básicos desenvolvidos na pesquisa
bibliográfica (os quais, como vimos, se relacionam com as fontes
secundárias) e na pesquisa documental (fontes primárias).

Considerando que já debatemos a pesquisa bibliográfi ca e
suas principais técnicas relativas às fontes secundárias de papel
(ver capítulo 2), passaremos, agora, para uma discussão sobre a
coleta de dados na pesquisa documental.

A pesquisa documental se dá basicamente pelo levantamento
de textos, que se caracterizam por ser de "primeira mão". Trata-
se de textos que ainda não se prestaram para o embasamento
de algum estudo e que podem servir como fonte original sobre
determinado assunto. Vale lembrar que eles, por serem praticamente
"virgens", trazem um potencial peculiar para futuros
trabalhos. Enfim, além de destacar que os referidos textos podem
ser "retrospectivos ou contemporâneos", ressalte-se que se encontram
aqui, geralmente, os manuscritos originais de um autor
ou qualquer documento raro de determinado assunto. Estamos
falando das fontes primárias da pesquisa, as quais, a partir de
estudos sistematizados, podem contribuir com toda uma linha
de pensamento sui generis, principalmente no sentido de trazer
novas contribuições acerca de um tema, de um autor ou de uma
determinada obra.

..


Ciências Humanas e Complexidades

As técnicas de leitura e de apontamentos de tais fontes são
praticamente idênticas às que são empregadas na pesquisa bibliográfica
(ver capítulo 2), contudo, além do que já foi apresentado
no referido capítulo, vale sublinhar algumas considerações importantes,
sobretudo quanto aos possíveis locais de coletas de dados
da pesquisa documental. Tais considerações, em resumo, são:

a) "A coleta de dados para uma pesquisa documental pode ser realizada
em biblioteca, mas o pesquisador deve recorrer também aos
acervos de arquivos públicos ou particulares", seja nos "cartórios,
museus, fontes estatísticas, obras de arte, fitas de vídeo ou
sonoras, etc.

b) "Nos arquivos públicos, sejam federais, estaduais ou municipais, o
pesquisador, de modo geral poderá encontrar: b.1) ordens régias, decretos,
leis, ofícios, relatórios, anuários, alvarás, etc.; b.2) publicações
parlamentares: atas, debates, projetos de lei, relatórios, etc.

c) Quanto aos "arquivos particulares", eles "poderão guardar: correspondência,
diários, memórias, autobiografias, objetos artísticos,
fotos, fi lmes, fitas de áudio e de vídeo, etc.

d) Com relação às "entidades e instituições de ordem privada, tais
como bancos, escolas, igrejas, partidos políticos, empresas e sindicatos",
é possível encontrar o seguinte material arquivado: "correspondências,
registros, contratos, atas, memoriais, ofícios, comunicados, programas,
objetos de arte, fotografi as, fitas de áudio e de vídeo, etc.

e) "Nos cartórios, poderão ser encontrados: registros de nascimentos
e de casamentos; desquites e divórcios; atestados de óbitos; escrituras
de compra e venda; hipotecas; falências e concordatas; testamentos e
inventários e outros documentos jurídicos.

f) "As fontes estatísticas e cartográficas, poderão ser localizadas nos
arquivos de empresas, associações, sindicatos, museus, escolas ou no
IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística)" (ANDRADE,
1995, p 24-25)

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3.3.2. Documentação direta
Diz respeito, por sua vez, a duas modalidades básicas: observação
direta intensiva e observação direta extensiva. A primeira modalidade
relaciona-se com as técnicas de observação e as entrevistas.
A segunda diz respeito às técnicas empregadas sobretudo no
levantamento de dados para as pesquisas de campo, ou seja, são
técnicas de grande utilidade, principalmente na coleta de dados
para as citadas pesquisas através de formulários, questionários,
testes e outros procedimentos.


Observação direta intensiva

A observação: lança mão dos sentidos humanos para registrar
certos parâmetros da realidade, que são utilizados não apenas
como um mero ouvir e ver e muito mais como um procedimento
importante no exame crítico de certos fatos da investigação.
Destaque-se que tal fator é ferramenta técnica importante,
principalmente nas pesquisas de campo em Antropologia.
Afora isto, saliente-se ainda que a observação se apresenta
através de várias modalidades técnicas, as quais podem ser
vistas no Quadro 4, abaixo:
Quadro 4. Diferentes tipos de observação

SISTEMÁTICA: quando planejada, estruturada;
ASSISTEMÁTICA: não estruturada;
PARTICIPANTE: quando o pesquisador participa dos fatos observados;
NÃO-PARTICIPANTE: o pesquisador limita-se à observação dos fatos;
INDIVIDUAL: realizada por um pesquisador apenas;
EM EQUIPE: pesquisa desenvolvida por um grupo de trabalho;
NA VIDA REAL: os fatos são observados "em campo", no ambiente natural onde


ocorrem;
EM LABORATÓRIO: os fatos são observados em laboratórios, salas, ou seja, em ambiente
artificial, embora o pesquisador procure reproduzir o ambiente natural do fato estudado.


(ANDRADE, Op. cit., p 25-26)

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A entrevista: ela pode ser defi nida do seguinte modo:
Trata-se de "um encontro entre duas pessoas, a fim de que uma delas
obtenha informações a respeito de determinado assunto, mediante uma
conversa de natureza profi ssional" (LAKATOS, 1991, p. 195).

O "espírito da coisa" dessa técnica de observação direta intensiva
e de sua definição, como se vê, aponta fundamentalmente
para a preocupação de se obter "informações do entrevistado
sobre determinado assunto ou problema. Além disto, especifi camente
ainda quanto a pesquisas, também é importante observar
que para que o entrevistador realize uma entrevista de qualidade,
antes de tudo, é necessário que ele possua alguns requisitos
indispensáveis. Dentre eles, segundo (ANDRADE, op. cit., p
26-27), destacamos:

1) "Facilidade de comunicação e adaptação ao nível de linguagem
do entrevistador;

2) "Boa educação e preparo intelectual para indagar, mesmo a respeito
de assuntos que ainda não conheça profundamente;

3) "Apresentação pessoal agradável e simpatia, a fim de inspirar
confiança no entrevistado;

4) "Espírito de observação agudo, para tirar o máximo proveito do
que for observado durante a entrevista;

5) "Imparcialidade: não influenciar os entrevistados com gestos,
palavras ou opiniões pessoais;

6) "Honestidade e precisão no desenvolvimento do trabalho"

Afora tais considerações, é ainda relevante sublinhar que as
técnicas de entrevistas se apresentam em quatro modalidades básicas,
que são: a entrevista estruturada; a entrevista não-estruturada;
entrevista semi-estruturada e o painel (ver Quadro 5, abaixo).

..


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Quadro 5. Diferentes tipos de entrevistas

1-PADRONIZADA OU ESTRUTURADA: consiste em fazer uma série de perguntas a
um informante, conforme um roteiro preestabelecido. Esse roteiro pode constituir-se
de um formulário que será aplicado da mesma forma a todos os informantes, para que
se obtenham respostas para as mesmas perguntas. O teor e a ordem das perguntas não
podem ser alterados, a fim de que possam comparar as diferenças entre as respostas dos
vários informantes, o que não seria possível se as perguntas fossem modificadas ou sua
ordem alterada.

2- ENTREVISTA DESPADRONIZADA OU NÃO-ESTRUTURADA (entrevista livre):
Conversa informal, que pode ser alimentada por perguntas abertas, ou de sentido
genérico, proporcionando maior liberdade para o informante. Há três maneiras de se
conduzir uma entrevista não-padronizada:

2.1- Entrevista focalizada: mesmo sem obedecer a uma estrutura formal, preestabelecida,

o pesquisador utiliza um roteiro, com os principais tópicos relativos ao assunto de
pesquisa;
2.2- Entrevista clínica: para esse tipo de entrevista se torna necessário organizar perguntas
específicas, que possam esclarecer a conduta, os sentimentos do entrevistador;


2.3- Entrevista não-dirigida: o informante tem liberdade total para relatar experiências
ou apresentar opiniões. O pesquisador limita-se a incentivar o informante a falar sobre
determinado assunto, sem forçá-lo a responder.


3-PAINEL: segundo LAKATOS (1991, p. 197), "Consiste na repetição de perguntas, de
tempos em tempos, às mesmas pessoas, a fim de estudar a evolução das opiniões em
períodos curtos. As perguntas devem ser formuladas de maneira diversas, para que o
entrevistado não distorça as respostas com essas repetições". Colocando de outra forma,
"esse é um tipo de entrevista simultânea, realizada com várias pessoas, que são levadas
a externar opiniões a respeito de um assunto. Ainda que se baseie na conversa informal,
da qual participam os vários entrevistados, a entrevista deve ser desenvolvida de maneira
lógica, coerente. Para obter os resultados esperados, o pesquisador deve preparar um
roteiro, a fim de que todos os entrevistados exponham seus pontos de vista sobre os
mesmos assuntos. As perguntas podem ser repetidas, com uma formulação diferente, para
que as respostas sejam confirmadas (ANDRADE, Op. cit., p 27).

Ainda quanto aos tipos de entrevistas, em termos de enriquecimento,
acrescentaríamos mais uma, que é a entrevista semiestruturada.
Esta, em síntese, é o tipo de entrevista na qual o
pesquisador, ao se propor a realizá-la junto ao objeto de pesquisa,
de um lado, comparece com um temário básico de perguntas
anteriormente preparadas, de outro, também deixa espaço para
que, caso aconteça, surjam outras questões que não estejam previstas
nesse temário. Em outras palavras, estamos falando aqui
de um tipo de entrevista que é uma posição intermediária entre
a "padronizada" e a "despadronizada" ou "livre".

..


Ciências Humanas e Complexidades

Mas, independente disso, Lakatos e Marconi, entre outros,
apontam para o fato de que antes de se realizar a entrevista
propriamente dita, é necessário que se faça uma preparação
básica da mesma. Tal preparação, diga-se de passagem, é uma
das etapas de suma importância para a concretização da técnica
em questão. A referida preparação não só requer um tempo para
que o pesquisador a providencie, como também exige que se
pensem algumas medidas que levem à obtenção da informação
de maneira clara. As referidas medidas, em síntese, são:

"a) Planejamento da entrevista: deve ter em vista o objetivo a
ser alcançado;

b) Conhecimento prévio do entrevistado: objetiva conhecer o
grau de familiaridade dele com o assunto;

c) Oportunidade da entrevista: marcar com antecedência a hora
e o local, para assegurar-se de que será recebido;

d) Condições favoráveis: garantir ao entrevistado o segredo de
suas confidências e de sua identidade;

e) Contato com líderes: espera-se obter maior entrosamento com o
entrevistado e maior variabilidade de informações;

f) Conhecimento prévio do campo: evita desencontros e perda
de tempo;

g) Preparação específi ca: organizar roteiro ou formulário com as
questões importantes" (LAKATOS, 1991, p. 199).

Por último, considerando que, como a técnica de entrevista
objetiva fundamentalmente obter dados válidos e pertinentes
sobre determinado assunto, ela constitui uma verdadeira arte;
assim, visando levar ao processo de aprimorar tal "técnica-arte",
sugerem-se alguns pontos básicos, que foram descobertos no
estudo que fizemos na literatura em questão, e que aqui serão
denominados "diretrizes e normas básicas da entrevista" (ver
Quadro 6, abaixo).

...


Ciências Humanas e Complexidades

Quadro 6. Diretrizes e normas básicas da entrevista (sugestões de pontos fundamentais
para maior êxito na técnica em questão)

1- CONTATO INICIAL: o pesquisador deve entrar em contato com o informante e
estabelecer, desde o primeiro momento, uma conversa amistosa, explicando a finalidade
da pesquisa, seu objeto, relevância e ressaltar a necessidade de sua colaboração. É
importante obter e manter a confiança do entrevistado, assegurando-lhe o caráter
confidencial de suas informações. Criar um ambiente que estimule e que leve o
entrevistado a ficar à vontade e a falar espontânea e naturalmente, sem tolhimentos
de qualquer ordem. A conversa deve ser mantida numa atmosfera de cordialidade e
de amizade (rapport). (...) Mediante a técnica da entrevista, o pesquisador pode levar

o entrevistado a uma penetração maior em sua própria experiência, explorando áreas
importantes, mas não previstas no roteiro de perguntas (...). O entrevistador pode falar,
mas principalmente deve ouvir, procurando sempre manter o controle da entrevista.
2- FORMULAÇÃO DE PERGUNTAS: as perguntas devem ser feitas de acordo com o
tipo de entrevista: padronizadas, obedecendo ao roteiro ou formulário preestabelecido;
não-padronizadas, deixando o informante falar à vontade e, depois, ajudá-lo com outras
perguntas, entrando em maiores detalhes (...). Para não confundir o entrevistado, deve-se
fazer uma pergunta de cada vez e, primeiro, as que não tenham probabilidade de ser
recusadas. Deve-se permitir ao informante restringir ou limitar suas informações. Toda
pergunta que sugira resposta deve ser evitada.

3- REGISTRO DE RESPOSTAS: as respostas, se possível, devem ser anotadas no
momento da entrevista, para maior fidelidade e veracidade das informações. O uso do
gravador é ideal, se o informante concordar com a sua utilização. A anotação posterior
apresenta duas inconveniências: falha de memória e/ou distorção do fato, quando não se
guardam todos os elementos (...). O registro dever ser feito com as mesmas palavras que

o entrevistador usar, evitando-se resumi-las. Outra preocupação é manter o entrevistador
atento em relação aos erros, devendo-se conferir as respostas, sempre que puder. Se
possível, anotar gestos, atitudes e inflexão de voz. Ter em mãos todo o material necessário
para registrar as informações.
4- TÉRMINO DA ENTREVISTA: a entrevista deve terminar como começou, isto é, em
ambiente de cordialidade, para que o pesquisador, se necessário, possa voltar e obter
novos dados, sem que o informante se oponha a isso.

5- REQUISITOS IMPORTANTES: as respostas de uma entrevista devem atender aos
seguintes requisitos (...): validade, relevância, especificidade e clareza, profundidade e
extensão.

5.1- Validade: comparação com fonte externa, com a de outro entrevistador, observando
as dúvidas, incertezas e hesitações demonstradas pelo entrevistado.

5.2- Relevância: importância em relação aos objetivos da pesquisa.
5.3- Especificidade e clareza: referência a dados, data, nomes, lugares, quantidade,
percentagens, prazos, etc., com objetividade. A clareza dos termos colabora na
especificidade.

5.4- Profundidade: está relacionada com os sentimentos, pensamentos e lembranças do
entrevistado, sua intensidade e intimidade.
5.5- Extensão: amplitude da resposta.


(LAKATOS, 1991, p. 199- 201)

...


Ciências Humanas e Complexidades


Observação direta extensiva
Como já foi tido, trata-se de técnicas que são principalmente
empregadas na coleta de dados das pesquisas de campo. Colocando
com outras palavras, realizam-se "através de questionários,
de formulários, de medidas de opinião e atitudes e de técnicas
mercadológicas" (LAKATOS, 1991, p. 201). Enfim, tais técnicas
comportam as seguintes modalidades: o questionário; os testes;

o formulário.

Questionário: trata-se de um instrumento que pode ser construído
ou se basear em algum já existente, desde que contribua
para com o processo de coleta de dados e venha ao encontro
dos objetivos da pesquisa em questão. Além de sublinhar
que deve ser constituído por perguntas ordenadas dentro de
determinada série, o questionário é geralmente enviado pelo
correio, do pesquisador ao informante. Obviamente, tal correspondência
precisa contar com uma apresentação excelente
e com instruções objetivas, bem como com uma carta de apresentação
que solicita a participação do informante, deixando
claro que o questionário em questão, após ser devidamente
respondido, deve ser enviado ao pesquisador.
É necessário frisar, segundo LAKATOS (1991), que os questionários
enviados, por essa modalidade técnica de pesquisa, via
correio, apresentam, em média, apenas 25% de retorno. Assim, se
de um lado tal técnica de pesquisa apresenta vantagens, sobretudo
porque, ao se enviar o questionário pelo correio, economizam-se
tempo e dinheiro, e, além disso, obtém-se maior probabilidade de
atingir um grande número de pessoas, de outro lado, como uma
das desvantagens do referido procedimento técnico, destaca-se o
baixo índice de retorno de questionários ao pesquisador.


Teste : trata-se de instrumento de pesquisa que pode ser elaborado
e usado para se obter dados quantitativos sobre determinado
fator pesquisado (ANDRADE, 1995).

Formulário : denota-se como um dos instrumentos principais
da pesquisa que se caracteriza por obter informações dire.
..


Ciências Humanas e Complexidades

tamente do entrevistado. Colocando com outras palavras, o
formulário

"é o nome geral usado para designar uma coleção de questões que
são perguntadas e anotadas por um entrevistador numa situação
face a face com outra pessoa" (SELTIZ, apud LAKATOS, 1991,

p. 212).
Como toda técnica de pesquisa, o formulário também apre


senta vantagens e desvantagens. Assim, vejamos:
Do ponto de vista das vantagens:

a) pode ser utilizado junto de todo segmento da população, seja
ela analfabeta ou não, pois é preenchido pelo pesquisador;

b) conta com a presença do pesquisador, que assim pode explicitar
os objetivos da investigação, clareando alguns pontos que
podem estar obscuros, colaborando com o estabelecimento
do rapport entre entrevistador e entrevistado;

c) considerando que é o próprio pesquisador que vai anotar as
respostas no formulário, há a possibilidade de reformulação
de itens e uma maior flexibilidade, podendo, então, ajustar-se
alguns itens, ou mesmo modifi cá-los, caso haja necessidade.

Do ponto de vista das desvantagens:
a) há a possibilidade de que dada a presença do entrevistador,

o entrevistado tenha menos liberdade de responder;
b) existem riscos de distorções, sobretudo pela infl uência do
pesquisador;
c) é um instrumento de maior demora, pois deve ser aplicado
com uma pessoa de cada vez;
d) existe também uma enorme possibilidade de aparecer a
questão da insegurança nas respostas do entrevistado. Assim,
sobretudo porque não há garantia de anonimato, tal fator
poderá influir nas respostas, no sentido de que nem sempre
essas respostas serão totalmente sinceras, etc. (LAKATOS,
1991).

...


Ciências Humanas e Complexidades

Mas, enfim, considerando que toda técnica de pesquisa tem
seus prós e contras, como já foi comentado, então vantagens e desvantagens
devem ser cuidadosamente pensadas pelo pesquisador,
principalmente na fase de teste preliminar desse instrumento.

...


CAPITULO IV


A Questão da
Bibliografia e
da Referência
Bibliográfica


Ciências Humanas e Complexidades

Adiscussão de anotarmos devidamente os livros pesquisados
durante o estudo sistematizado, o instante de como citar
esses livros e diferentes autores dentro do corpo do texto da pesquisa,
o ponto que diz sobre o como se faz adequadamente essas
citações cujas fontes devem ficar no final do estudo e receber a
denominação de referências bibliográficas, tais são as questões
básicas de que trataremos agora. Assim, com vistas a tal objetivo,
vamos dividir esse debate em duas partes: num primeiro
momento, faremos uma discussão sobre a maneira de se fazer
adequadamente referência às citações das obras pesquisadas,
a qual poderá ser coletada através de livros correntes, revistas
especializadas, artigos em jornais, sites de internet, entre outras
fontes. Num segundo momento, promoveremos uma discussão
centrada em torno da questão de como transcrever as citações
no interior do texto propriamente dito, ou no corpo do trabalho
que estamos escrevendo ou que já escrevemos como texto da
pesquisa. Ressalte-se que tais sugestões podem ser aplicadas
tanto em trabalhos de pesquisas, livros, teses, quanto em artigos,
resenhas e em qualquer texto de cunho acadêmico.

4.1. Referências de livros correntes, revistas,
jornais, etc. (1)
4.1.1. Referência em relação aos livros
SOBRENOME DO AUTOR (maiúsculo), Prenome. Título do trabalho (sublinhado).
(Escrever, quando for o caso, o subtítulo sem sublinhar). Cidade da edição (dois pontos):
Nome da editora (vírgula), ano de publicação.

...


Ciências Humanas e Complexidades

Exemplos:
SILVEIRA, Nise da. Cartas a Spinoza. Rio de Janeiro: Francisco Alves,
1995.


HERRMANN, Fábio. Psicanálise do quotidiano. Porto Alegre: Artes
Médicas, 1977.


LUKÁCS, György. Socialismo e democratização. Escritos políticos
(1956-1971. Rio de Janeiro: Editora UFRJ, 2008.


Obs. 1: No caso dos livros com diferentes edições, se o autor do
trabalho desejar citá-las, deve proceder da mesma forma com
todos os outros livros que se encontram nas referências bibliográficas
e têm reedições. Nestes casos, as referências sobre os
números específicos das edições deverão ficar logo após o título
(e/ou subtítulo) da obra, do seguinte modo:
CUNHA, Euclides da. Os sertões; campanha de canudos. 3. ed. São
Paulo: Editora Abril, 1979.

PIGNATARI, Décio. Semiótica & literatura. 2. ed. São Paulo: Cultrix,
1987.

KONDER, Leandro. Marxismo e alienação. 2. ed. São Paulo: Expressão
Popular, 2009.

Obs. 2: Como se pode observar, toda vez que a referência mudar
de linha, ela começará na linha seguinte, mas só que abaixo da
palavra que está iniciando a citação, no caso, abaixo do início do
"Sobrenome" da referência bibliográfi ca. Assim, vejamos:
KLEMPERER, Victor. A linguagem do terceiro Reich. Rio de Janeiro:
Contraponto, 2009.

...


Ciências Humanas e Complexidades

LESSA, Sergio. Para além de Marx: criticada teoria do trabalho imaterial.
São Paulo: Xamã, 2005.

ALVES, Rubem. A chegada e a despedida e o médico. In: REZENDE,
Vera Lúcia, org. Reflexões sobre a vida e a morte. Campinas: Unicamp,
2000.

Obs. 3: Deve-se sublinhar, como se vê, apenas o título das obras,
deixando sem sublinhar os subtítulos. Além dos exemplos, já
citados acima, pode-se ilustrar com:
FOUCAULT, Michel. As palavras e as coisas; uma arqueologia das
ciências humanas. Lisboa: Edições 70, 1991.


Coutinho, Carlos Nelson. Lukács, Proust e Kafka. Literatura e sociedade
no século XX. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2005.

Obs. 4: No caso de obras que ainda tendo um conteúdo de grande
interesse, não apresentem o ano de publicação da edição. Nestes
casos, então, a referência deverá colocar no lugar da data um
"s/d", da seguinte forma:
DELEUZE, Gilles. Espinoza e os signos. Porto- Portugual: Rés, s/d.

SAUSSURE, Ferdinand. Curso de lingüística geral. São Paulo: Cultrix-
USP, s/d.

Obs. 5: No caso de obra possuir mais de um volume, deve-se
indicar, no fim, mediante a abreviatura 'V.', o número dos volumes,
de outro lado, quando se quer citar especifi camente o
número do volume efetivamente utilizado, procede-se da seguinte
maneira:
ZWEIG, Stefan. Maria Antonieta. Obras completas. Rio de Janeiro:
Ed. Delta, 1955. 9 V.

DOSTOIÉVSKI, F.M. Um jogador. Obras completas. Rio de Janeiro:
José Olympio, 1962. V. 2

...


Ciências Humanas e Complexidades

Obs. 6: Quando há, de um lado, uma obra com vários volumes,
mas se quer destacar somente um que tem título próprio, neste
caso, este volume deve ser transcrito após a indicação do número
dos volumes como segue:
Barreto, Sergio. Direito comercial. 4 ed. Porto Alegre: Rio Grande,
1980. 8 v. v 3: Direito universal


Obs. 7: No caso de uma obra escrita por até 3 (três) autores faz-se
a citação de todos eles na entrada, mas separando-se os nomes
por "ponto e vírgula". De outro lado, se a obra foi escrita por mais
de três autores, ou escolhe-se um dos nomes mais famosos entre
eles e acrescenta-se, logo a seguir, a expressão "et al" (abreviação
de "et alii" = e outros) ou colocam-se até os três primeiros nomes
acrescidos da mesma expressão citada. Vejamos o exemplo:
PEREIRA, Mário, VINÍCIOS; José, CARREIROS, Pedro. Técnicas
corporais. São Paulo: Editora X, 2000.


FOUCAULT, Michel et al. Júlio Verne; uma literatura revolucionária.
São Paulo: Editora Documentos, 1969.


BELLOUR, Raymond; FOUCAULT, Michel; ROUDAUT, Jean et
al. Júlio Verne; uma literatura revolucionária. São Paulo: Editora Documentos,
1969.


Obs. 8: No caso de citarmos um capítulo, o qual não só conste
de obra coletiva, mas que também tenha organizador, procede-se
como nos exemplos abaixo:
SCHNAIDERMAN, Boris. Dostoiévski: a ficção como pensamento.
In: NOVAES, Adauto, Org. Artepensamento. São Paulo: Companhia
das letras, 1994. p.241-248.


PELLEGRINO, Hélio. Édipo e paixão. In: NOVAES, Adauto, Org. Os
sentidos da paixão. São Paulo: Companhia das letras, 1987. p.307-327.


RODRIGUES, Heliana de Barros Conde. Para um Foucault do ano
2100: ética, política e direitos da criança. In: COIMBRA Cecília Maria
Bouças; AYRES, Lygia Santa Maria; NASCIMETO, Maria Livia do,


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Ciências Humanas e Complexidades

orgs. Pivetes; encontros entre a psicologia e o judiciário. Curitiba: Juruá,
2008. P 123-130.

Obs. 9: Diante da situação em que o autor do artigo citado é o
mesmo da obra, nestes casos, procede-se da seguinte maneira:
CASSORLA, Roosevelt. As mortes por suicídio no Brasil. In: Do suicídio.
Estudos brasileiros. Campinas: Papirus, 1991. p. 41-59.

BASTOS, Rogério Lustosa. Psicologia social e subjetividade: entre a
sociedade disciplinar e a de controle no capitalismo mundializado. In:
Psicologia, microrrupturas e subjetividades. Rio de Janeiro: E-papers
Editora, 2003. p. 87-109.

Obs. 10: No caso de obras cujos autores têm nos nomes partículas
como FILHO, JÚNIOR, etc., a entrada se dá pelo último sobrenome
seguido da partícula como nos exemplos seguintes:
Mário da Silva Filho entra por: SILVA FILHO, Mário da.

Júlia de Ferreira Jr. entra por: FERREIRA JR, Júlia de.

4.1.2. Referência de textos de revistas

Citação de artigos em revista com autor:
SOBRENOME, Prenome. Título do artigo. Nome da revista (sublinhado), Cidade
da publicação, No do volume, No do fascículo, página (s): [inicial-final], mês. Ano de
publicação. Suplemento, No especial (quando existir).

Exemplos:
MAIA, Antônio. Sobre a analítica do poder de Foucault. Tempo social.
Revista de Sociologia da USP, São Paulo, V. 7, no 1-2, p: 83-103, out.
1995.


GUIRADO, Marlene. A teoria dos campos no campo da teoria. Ide.
Revista da Sociedade Brasileira de Psicanálise de São Paulo (SBPSP),
São Paulo, no 24, p: 26-38, maio, 1994.


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Ciências Humanas e Complexidades

Obs. Citação de artigos em revista sem autor:
Aqui se começa pelo título do artigo, mas a primeira palavra
do referido título deve ser escrita em letra maiúscula. Os outros
elementos fi cam como no caso anterior, "com autor":
Exemplo:
MÉTODOS farmacêuticos em animais. Revista brasileira de animais
domésticos. Rio de Janeiro: Associação de Animais domésticos, v 1, n
1, p: 12-13, jul/dez, 1990.



Citação da própria revista como um todo
No que toca às referências de artigos em revistas, existem casos,
os quais, tratando de um assunto particular ou apresentando-se
como uma espécie de fascículo, "suplemento, número especial",
destacam-se como uma publicação que vale ser citada integralmente
na referência.

TÍTULO DA REVISTA (maiúscula). Título do fascículo, suplemento, etc. Cidade da
edição (dois pontos): Editor, Volume (V) e Número (N) [separados por vírgulas], mês,
ano (ponto). no total de páginas.

Exemplos:
TEMPO SOCIAL – REVISTA DE SOCIOLOGIA DA USP. Foucault:
um pensamento desconcertante. São Paulo: Departamento de sociologia
da USP, V. 7, nos 1-2, Out. 1995. 247 p.


REVISTA DE COMUNICAÇÃO E LINGUAGENS. Michel Foucault:
uma analítica da experiência. Lisboa: Departamento de Comunicação
Social da Universidade de Lisboa/ Ed. Cosmo, V. 19, dez. 1993.


4.1.3. Referência de artigos de jornais
SOBRENOME, Prenome. Título do artigo. Título do Jornal (sublinhado/ vírgula), Cidade
de publicação (vírgula), data (dia, mês, ano/ ponto). Número ou título do caderno
(vírgula), página do artigo (ponto).

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Exemplos:
TOURAINE, Alain. Ecos da ausência do Estado. Sociedades exigem
que o poder retome as funções de árbitro na solução de injustiças. Folha
de São Paulo, São Paulo, 17 de Nov. de 1996. MAIS, p. 11.


CONDE, Miguel. Tudo é poesia. Heloisa Buarque de Holanda lança
antologia digital, prepara biografia e foge dos chatos. O Globo. Rio de
Janeiro, 11/08/2009. Segundo Caderno, p. 1.


Obs.: Citação em artigo em jornais sem autor:
Aqui se adota idêntico procedimento ao que foi usado para revistas
"sem autor":
Exemplo:
CORTE de Miami reduz pena de espião cubano 'herói' de Cuba. Folha
de São Paulo, 14 out. 2009, Primeiro Caderno, p. 13.


4.1.4. Referências de Monografias, Dissertações,
teses e demais trabalhos acadêmicos
SOBRENOME DO AUTOR, Prenome. Título. Local, ano. Tese, dissertação, monografia
ou trabalho acadêmico (grau e área) – Unidade de ensino, Instituição.

Exemplos:
SANTIAGO, Maria Cecília Leão. A manipulação da informação e
a geração 68. Rio de Janeiro, 2008. Monografia de fim de curso de
graduação de comunicação e jornalismo. Escola de Comunicação e
Jornalismo da Universidade Federal do Rio de Janeiro (ECO/UFRJ).

BARROS, R. B de. Grupo: afi rmação de um simulacro. São Paulo,
1994. Tese de doutorado em Psicologia Clínica. Programa de Pós-
Graduação em Psicologia Clínica da PUC/São Paulo. V 1 e V 2.

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Ciências Humanas e Complexidades

4.2. Das referências das obras no corpo do
texto da pesquisa
4.2.1. Regras gerais
a) Toda e qualquer citação transcrita para o corpo do trabalho
de pesquisa de forma ipsis-litteris, deve ser feita entre aspas,
desde que a citação ocupe até três linhas.

Exemplo:

-Em outras palavras quer-se dizer que, "nada torna, nada repete,
porque tudo é real" (PESSOA, 1986, p. 169).
b) No caso de a citação ocupar mais de três linhas, dispensa-se as
aspas, utilizando-se o seguinte destaque: alinhamento recuado
a direita em relação ao empregado no texto; entrelinha menor
do que a utilizada no texto.

Exemplo:

Tal perspectiva caminha ao encontro de alguns estudos sobre o capital,
nos quais, entre outros, podemos destacar: em todo ofício que se
apossa, a manufatura cria uma classe de trabalhadores sem qualquer
destreza especial, os quais o artesanato punha totalmente de lado

(MARX, 1988, p 401).

c) Deve-se indicar, como condição indispensável, os dados
completos da fonte de consulta, de forma que ela possa ser
identifi cada com exatidão.

Observe-se ainda que essas indicações não precisam necessariamente
vir após a própria citação; podem ser indicadas em notas
de roda pé (obviamente de acordo com a ABNT), ou em uma lista
no fim do texto, que é o mais freqüente. Seguindo isto, a citação
no corpo do texto deve ser apresentada de forma abreviada,
remetendo o leitor para as REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS.
Esta é uma listagem em ordem alfabética situada como
última seção do trabalho, onde o leitor encontrará a indicação

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completa das obras citadas. Vejamos, de acordo com a ABNT,

o exemplo a seguir:
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
MARX, Karl. O capital; crítica da economia política. Rio de Janeiro:
Bertrand Brasil, 1988.


PESSOA, Fernando. Poemas completos de Alberto Caeiro. Obras
completas. Rio de Janeiro: Aguilar, 1986.


4.2.2. Outras situações
a) Tratando-se da mesma obra, depois que foi feita a primeira
citação, a segunda citação poderá apresentar-se de forma
abrevida, usando-se algumas abreviaturas latinas, desde que
se tome o cuidado para que não haja possíveis confusões entre
algumas citações intercaladas. As principais abreviaturas
latinas são:

1- Opus citatum ou Op. cit = obra citada;
2- Ibidem ou ibid = na mesma obra;
3- Idem ou id = o mesmo autor

(ZANDONADE, 1990, p 40).

Exemplos:

- MARX (1988, p. 402)
- MARX (Op. cit., p. 402)
- MARX (Ibidem, p. 403)
b) Na hipótese de ser necessário citar no texto um trecho que já
é citação feita em outro trabalho, a citação da citação, deve
obedecer à seguinte ordem: SOBRENOME DO AUTOR
(do documento original) + a expressão latina "apud" + SOBRENOME
DO AUTOR (da obra consultada), devendo esta
última ter as suas indicações referidas na íntegra.

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Exemplo:

RICHARD apud LANGER, 1989, p.219.

c) Na hipótese de citar dados obtidos de fontes coletados em
palestras, debates, comunicações científicas em congressos,
etc., deve-se proceder citando o texto em questão e indicando,
entre parêntese a expressão: "informação oral".

Exemplo:

Em um congresso internacional de psicanalistas, do IPA, na década
de 60, em uma época onde nem todos ainda tinham acesso ao texto
das Obras completas de Freud (tal texto, à época, ainda não tinha
sido traduzido e divulgado amplamente), ao escutar uma exposição
de um caso, feito por um analista-orador, todos os presentes interromperam-
no e o criticaram. Inclusive, alguns mais afoitos, chegaram
ao disparate de sugerir que dado as intervenções fora de propósito da
ilustração apresentada, aquele "autor desconhecido", jamais teria
condição de analisar alguém, quiçá de ser analista... E o mais curioso:
ao final da exposição, ao ser revelado a identidade do autor do caso
ilustrado, houve um espanto geral, ou seja, esse "desconhecido" era
nada mais nada menos que o Dr. Sigmund Freud e o caso relatado
em questão era "O homem dos ratos" (HERRMANN, Grupo de
Estudo, 1995, Informação oral).

d) Na hipótese de ser preciso citar um material coletado em fontes
que ainda não estão publicadas, em tal situação, além de se
indicar os dados bibliográficos correntes, no fi nal escreve-se:
"em fase de elaboração"; "Xerox" ou "no prelo", quando for

o caso.
Exemplo:
["citação do texto em questão....] In: Souza, Gabriel. As regras
do método político. São Paulo: Editora X, no prelo.
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4.3. Referências quanto às entrevistas
4.3.1. Entrevistas publicadas
SOBRENOME DO AUTOR, Prenome. Titulo da entrevista. Órgão de publicação.
Cidade, no, data (dia mês ano/ quando houver). Palavra "Entrevista".

Exemplo:
FILHO, Alberto Venâncio. Euclides para os íntimos. História: revista
da biblioteca nacional. Rio de Janeiro, no4 (ano 4), agosto de 2009.
Entrevista.


4.3.2. Entrevistas não publicadas
SOBRENOME DO AUTOR, Prenome. Entrevista concedida pelo autor em questão
sobre o assunto "X". Cidade, data.

Exemplo:
XAVIER, Chico. Entrevista concedida pelo mediu Xavier acerca da
literatura e do espiritismo no Brasil. Uberaba/MG, 1988.


4.4. Referências quanto aos filmes
Título (maiúscula). Nome do diretor. Local (maiúscula): Produtora: Distribuidora, data.
Sistema de gravação (maiúscula).

Exemplos:
PIXOTE: A LEI DO MAIS FORTE. Hector Babenco. BRASIL: HB
fi lmes: Europa fi lmes, 1981. DVD.


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4.5. Referências quanto aos documentos
eletrônicos/internet em geral
4.5.1. Citações de Disquetes
AUTOR do arquivo. Título do arquivo. Extensão do arquivo (se houver). Local, data.
Características físicas. Tipo de suporte. Notas (se houver).

Exemplo:
PEREIRA, Márcia. Filosofi a marxista.doc. Rio de Janeiro, 14 outubro de
2009. 1 arquivo (405 bytes). 1 disquete, 3 ½ pol. Word for Windows 6.0

4.5.2. Citações de CD-ROM
AUTOR/ GRUPOS/INSTITUIÇOES DE AUTORIA. Título do trabalho (sublinhado ou
negrito). Cidade: editora, número, ano. CD-ROM.

Exemplos:
FREITAS, Mário. Obras completas. Brasília: Editora Y, no12, 2000.
CD-ROM.


IBICT. Bases de dados em ciência e tecnologia. Brasília: IBICT,
no 3, 2006. CD-ROM.


Obs. Citação de partes de documentos:
Escreve-se o nome do autor (da parte) e o título do trabalho (da
parte) citada do documento, o restante da citação segue como
a anterior.


Exemplo:
LIMA, Maria. Questões da citação na internet. In: IBICT. Bases de
dados em ciência e tecnologia. Brasília: IBICT, no 3, 2006. CDROM.


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4.5.3. Citações de E-MAIL
Diante de mundo no qual a tecnologia vem avançando em grande
velocidade e diariamente, assim, entre outras fontes, pode-se
colher dados para o nosso objeto de pesquisa através do correio
eletrônico. Considerando isto, vejamos abaixo como citá-las.

AUTOR DA MENSAGEM. Endereço do remetente. Assunto da mensagem. Dia, mês
e ano. E-mail para: nome do destinatário. Endereço do destinatário. Dia do recebimento

Exemplo:
MARQUES, M. mmarques@gmail.com Educação e MST. 10. 15 outubro
2009. Mensagem para: semterra@ess.ufrj.br Em 14 maio 2009.


4.5.4. Citações de Lista de Discussões
AUTOR. Titulo (assunto). Disponível em: (endereço da lista). Acesso em:
data do acesso.

Exemplo:
MEYER, Lúcia. O pensamento evangélico e a ética do lucro. Disponível
em: evangelicos-3@hotmail.com Acesso em 20 setembro 2009.


4.5.5. Citações de Monografias / documentos
como um todo (ON-LINE)
AUTOR. Título. Local (cidade): editora, data. Disponível na Internet. Endereço. Data
de acesso

Exemplos:
INSTITUIÇÃO Y. Código de condutas da Instituição Y. Disponível
em: HTTP://www.insituicaoY.com/codigo/manual.html Acesso em:
20 maio de 2008.


CARVALHO, Ivi. O debate do Serviço Social e o partido do mercado.
Disponível em: www.ess.ufrj/monografi as/debate_mundializado/html.
Acesso em: 9 julho 2009.


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Ciências Humanas e Complexidades

4.5.6. Citações de Periódicos no todo (ON LINE)
TÍTULO DA PUBLICAÇÃO. Cidade (quando houver): Editora, vol., n.º, mês, ano.
Disponível em <endereço>. Acesso em: data de acesso.

Exemplo

PRAIA VERMELHA: REVISTA DE PÓS- GRADUAÇÃO EM
SERVIÇO SOCIAL DA UFRJ. Rio de Janeiro, vol 18, no 2 (2008):
Cultura política e revolução. Disponível em: http://web.intranet.ess.ufrj.
br/ejornal/index.php/praiavermalha Acesso em: 16 de outubro 2009.

Obs. Citação de um ARTIGO da publicação do Periódico ONLINE
Procede-se da seguinte forma: AUTOR. Título do artigo. Os demais
componentes seguem como a "citação do periódico como
um todo (ON-LINE)".
Exemplo:
HOLLANDA, Heloisa Buarque de. Ponto de vista: descobertas, sonhos
e desastres nos anos 60. PRAIA VERMELHA: REVISTA DE
PÓS- GRADUAÇÃO EM SERVIÇO SOCIAL DA UFRJ. Rio de
Janeiro, vol 18, no 2 (2008): Cultura política e revolução. Disponível
em: http://web.intranet.ess.ufrj.br/ejornal/index.php/praiavermalha
Acesso em: 16 de outubro 2009.

4.5.7. Citações de artigos de Jornais (ON-LINE)
AUTOR. Título do artigo. Título do jornal. Data. Disponível em: <endereço>. Acesso
em: data de acesso.

Exemplo:
ALENCAR, Kennedy, Chile opta por modelo nipo-brasileiro da TV
digital. Folha ON-LINE. 14 novembro 2009. Disponível em: http://
www1.folha.uol.com.br/folha/colunas/brasiliaonline/ult2307u623628.
shtml. Acesso em 16 Outubro 2009.


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Ciências Humanas e Complexidades

4.5.8. Citações de "sites www"
AUTOR. Título. Disponível em: <endereço>. Acesso em: data de acesso.

Exemplo
ANDRADE, Claudia. Para relator da ONU, há tentativa de tirar
credibilidade do MST no Brasil. Disponível em: http://noticias.uol.
com.br/ultnot/internacional/2009/10/16/ult1859u1698.jhtm. Acesso
em 19 outubro 2009.

...


CAPITULO


Etapas e
Estruturação
do Projeto de
Pesquisa


Ciências Humanas e Complexidades

5.1. Etapas da Pesquisa
Desenvolver uma pesquisa, antes de tudo, é percorrer uma série
de passos básicos que são constituídos de questões sistematizadas
e racionais. Assim, nunca é demais lembrar que tais passos devem
ser planejados e realizados por etapas (1).

De acordo com a literatura em questão, ainda que os autores
em geral concordem que há a necessidade do planejamento e
do estabelecimento de etapas básicas para serem seguidas, cada
um deles defende um número próprio dessas etapas. Vejamos,
então, algumas ilustrações:

LAKATOS (1991, p.155), por exemplo, propõe que as seguintes
etapas básicas da investigação científi ca:
1- Seleção do tópico ou problema para a investigação;
2- Defi nição e diferenciação do problema;
3- Levantamento de hipótese de trabalho;
4- Coleta, sistematização e classifi cação dos dados;
5- Análise e interpretação dos dados;
6- Relatório do resultado da pesquisa.

SALVADOR (1977, p. 43), de outro lado, sugere o desenvolvimento
em questão em três fases:
1- Escolha de um tema;
2- Formulação de problemas;
3- Elaboração de um plano.

No presente trabalho, adotamos o ponto de vista de QUIVY
(1992), segundo o qual uma pesquisa deve ser desenvolvida
através das seguintes três fases básicas:
1- Ruptura com o senso comum;

...


Ciências Humanas e Complexidades

2- Construção do modelo de análise;

3- Verificação e/ou demonstração (ver capítulo 1, especialmente

a Figura 1 e o capítulo 2, notadamente a seção "2.1").

O que tal fato implica? Além do que já foi colocada nos
capítulos referidos, implica que para se fazer uma pesquisa é
fundamental compreender três pontos básicos, que podem ser
vistos a partir do esquema abaixo.

Quadro do esquema da pesquisa

1-elaboração do planejamento prévio: fase que, além da elaboração do citado
planejamento prévio ou do anteprojeto, está basicamente relacionada ao instante em
que deve ser feita uma ruptura com o senso comum (Ver capítulo 1);
2 – elaboração do planejamento propriamente dito ou "construção do modelo
de análise": esta fase contempla a discussão de uma série de pontos, nos quais apontam
para os fundamentos que podem delinear o projeto de pesquisa. Tais fundamentos,
como se vê, já foram desenvolvidos no presente livro (Vide Cap 2; Cap 3 e Cap 4);
3- execução, verificação e/ou demonstração: etapa que não só precisa passar
pela discussão de todos os pontos discutidos nos capítulos anteriores, como também
necessita principalmente da elaboração do projeto de pesquisa. Por quê? Ora, a
execução de uma pesquisa requer, antes de tudo, um planejamento sistematizado. Para
tanto, nada melhor que a escrita de um projeto que aponte basicamente para uma
proposta de execução. Tal proposta deverá conter, entre outros fatos importantes, o
método, as principais técnicas e outros procedimentos, os quais, em síntese, estarão se
expressando dentro da "língua" da comunidade dos pesquisadores.

A partir de tais esclarecimentos, na próxima parte desenvolver-
se-á discussão acerca da estrutura e da elaboração do projeto
de pesquisa. Espera-se que essa discussão fi que sufi cientemente
clara, principalmente para que, ao partirmos para a execução da
pesquisa, tenhamos maior probabilidade de êxito.

...


Ciências Humanas e Complexidades

5.2. Estruturação do Projeto
Desde que se tenha em vista uma pesquisa qualquer, deve-se pensar
antes de tudo em elaborar um projeto que possa garantir sua viabilidade
(...). O projeto faz a previsão e a provisão dos recursos necessários
para atingir o objetivo proposto de solucionar um problema e estabelece
a ordem e a natureza das diversas tarefas a serem executadas dentro
de um cronograma a ser observado.

(...) Tudo deve ser estudado e planejado, a fim de que as fases da pesquisa
se processem normalmente, sem riscos de surpresas desagradáveis.
O projeto de pesquisa é, muitas vezes, a garantia de êxito. (...) Evidentemente,
o projeto de pesquisa pode ser modifi cado, adaptando-se às
novas exigências. Assim, será sempre motivo de tranqüilidade para o
pesquisador, além de testemunhar seu espírito sistemático e sua força
de vontade. (...) Todo pesquisador deve desenvolver a capacidade de
elaborar projetos de pesquisa, pelo menos para atender a seus interesses
pessoais ou do grupo em que está inserido. As instituições fi nanceiras
de projetos, tanto públicas como privadas, possuem geralmente um
roteiro próprio com instruções específicas para montagem do projeto.
O interessado deve então submeter-se àquele modelo (CERVO,
1983, p. 62-65)

A execução de um projeto requer principalmente, como se observa,
que se faça um planejamento, que é, no dizer de GIL (1995, p
22), uma espécie de documento "explicitador das ações a serem
desenvolvidas ao longo do processo de pesquisa".

Partindo do pressuposto de que já temos um problema formulado,
de que já tenhamos percorrido as etapas iniciais da pesquisa,
de que já tenhamos adquirido um suficiente conhecimento dos
pontos fundamentais da pesquisa e estejamos na fase da elaboração
do projeto, qual é ou quais são os passos seguintes?

Em primeiro lugar, deve-se lembrar que frente a diversidade
das pesquisas, é impossível que haja apenas um modelo cristalizado
para todos os tipos; contudo, ainda assim, pode-se discutir um
esquema geral que contenha uma série de tópicos que se destacam

...


Ciências Humanas e Complexidades

habitualmente nos projetos, os quais são os seguintes: apresentação;
objetivos; justificativa; revisão da literatura em questão;
questão de estudo; metodologia; cronograma; orçamento; anexos
e/ou notas (se for o caso); referências bibliográfi cas.

5.2.1. Apresentação
Será discutida aqui a apresentação quanto aos caracteres gerais
do trabalho e quanto ao corpo do texto.


Apresentação quanto aos caracteres gerais do
trabalho
A apresentação dos caracteres gerais do trabalho consta dos seguintes
pontos: folha de rosto; identifi cação do trabalho.

A folha de rosto e todas as outras folhas subseqüentes do texto
da pesquisa seguem um padrão básico: devem ser do tamanho
ofício (de 31,5 cm por 21, 5cm). Pede-se que se escreva com a
letra "arial" ou "times new roman", número 12. As páginas devem
ser digitadas em espaço dois e precisam também apresentar as
seguintes margens:


Margem superior: 3 cm

Margem inferior: 2 cm

Margem direita: 2 cm

Margem esquerda: 3 cm
Estas distâncias (devem ser) constantes ao longo do trabalho.
(LAKATOS, op. cit., p.137)
Vale sublinhar também que, em hipótese alguma, deve-se usar
de qualquer artifício que mude as medidas da margem direita,
seja colocando algum sinal, barras ou travessões.

Afora tais recomendações, ressalte-se que a capa do trabalho
de pesquisa deve apresentar os seguintes elementos:


Nome completo da instituição em que foi defendido o trabalho
[no alto da página, centrado];

Nome completo do autor do trabalho (mais ou menos centralizado)
...


Ciências Humanas e Complexidades


Título e possível subtítulo do trabalho [no centro da página/
logo abaixo do nome do autor];

Nome da cidade e o ano [embaixo da página, no centro].
Para maiores esclarecimentos sobre os pontos acima, sugere-se
que se observe a Figura 4.

No caso de trabalhos de pesquisa confeccionados como dissertações
de mestrado ou doutorado, a folha de rosto (página 2
do trabalho) deverá apresentar os seguintes dados:


Nome completo do autor [acima, centrado no alto da página];

Título completo do trabalho [centrado no meio da página];

Um pouco abaixo, à direita, coloca-se o nome da instituição e
para que se destina academicamente o referido trabalho;

Nome da cidade e ano, [centralizados, embaixo].
Para que também não pairem dúvidas, sugere-se que se
observe a Figura 5.

Em síntese, a apresentação, quanto aos caracteres gerais do
trabalho, consta de:


Capa e folha de rosto (com as medidas já recomendadas);

Itens básicos de apresentação do trabalho na capa e na folha
de rosto (conforme já indicado);

Página de aprovação, no caso de mestrado e doutorado, para
que conste o nome da banca examinadora (Ver Figura 6);

Página de dedicatória, que é opcional (Ver Figura 7);

Página para epigrafe (opcional)

Resumo (2)

Página de agradecimentos (também opcional);

Sumário (Ver Figura 8).
...


Ciências Humanas e Complexidades

Figura 4

UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO

NOME DO AUTOR

TÍTULO DA TESE OU
DA DISSERTAÇAO/ MONOGRAFIA


Cidade
Ano



Apresentação quanto ao corpo do texto
Nesta parte, devem constar os seguintes itens: introdução; desenvolvimento,
conclusão (ões).


Introdução : em tese, ela deve abordar sinteticamente: a
apresentação da idéia geral do trabalho (a apresentação do
objeto); seus objetivos (principalmente do ponto de vista
acadêmico);qual ou quais contribuições que o trabalho pode
trazer especificamente para aquela área de conhecimento,
justificando assim a pesquisa que está sendo feita. Além disso,
entre outros pontos de destaque na introdução, é importante
relatar não só qual foi a metodologia e as técnicas principais
empregadas no trabalho, assim como qual ou quais foram
as teorias ou a teoria de apoio para que se tenha discutido e
analisado aquele estudo sobre uma particularidade do dito
real. Ressalte-se também que a introdução deve ser redigida
no fi nal do trabalho.
...


Ciências Humanas e Complexidades


Desenvolvimento do trabalho: trata-se do espaço através do qual
se deve falar da "fundamentação lógica do trabalho, cuja
finalidade é expor e demonstrar suas principais idéias. É subdivido
em partes, capítulos, itens e subitens, cada um deles
numerado progressivamente" (LAKATOS, 1992, p 140). Tais
itens e subitens podem variar de um trabalho para o outro
e dificilmente poderão ser vistos sempre da mesma forma.
Assim, a título de sugestão, além da questão da apresentação
e/ou introdução que agora desenvolvemos, vamos debatê-los
adiante através dos seguintes tópicos: objetivos; justifi cativa;
revisão da literatura; metodologia; etc.

Conclusão: refere-se a uma das partes de suma importância para
o relatório final ou para o texto definitivo da pesquisa, o qual
só deve ser escrito após a realização de todas as etapas desse
trabalho investigativo. Consiste no "resumo completo, mas
sintetizado, da argumentação desenvolvida na parte anterior,
com recomendações e sugestões para se atuar sobre os fenômenos
estudados e/ou prosseguir nos estudos" (LAKATOS,
op. cit., p. 140).
Um parêntese: quando estivermos escrevendo o ante-projeto
ou o projeto de pesquisa, os quais tratam de propostas de investigações
que ainda serão aplicadas, escreveremos esses textos
sem a conclusão. Esta, como se vê, só constará no sumário e será
escrita quando estivemos com a pesquisa pronta, ou seja, quando
já tivermos realizado todos os passos básicos de concretização
da investigação que será apresentada como a nossa monografi a,
a nossa dissertação ou tese de doutorado.

5.2.2. Objetivos
Todo trabalho de pesquisa deve delinear com clareza seu (s)
objetivo (s). Em outros termos, deve sublinhar para o leitor o que
se vai estudar e aonde se pretende chegar. Em outras palavras,
para LAKATOS, discorrer sobre os objetivos de um trabalho
sistematizado é responder, sobretudo para os leitores, as seguintes

...


Ciências Humanas e Complexidades

perguntas: POR QUÊ? PARA QUÊ? PARA QUEM? (LAKATOS,
1991).

Figura 5

NOME DO AUTOR

TÍTULO
E SUBTÍTULO DO TRABALHO
(Se houver subtítulo)


Tese apresentada à Banca Examinadora do Programa de
Pós-Graduação em "X" da UFRJ, como exigência parcial
para obtenção do título de Doutor na área X, sob a
orientação do Prof. Dr. Fulano de tal.

Rio de Janeiro
2009


CERVO (1983), por seu turno, ainda sobre a questão do
objetivo, acentua que pensar tal questão é explicitar, "muitas vezes,
a natureza do trabalho, o tipo do problema a ser selecionado,

o material a coletar, etc." Particularmente com relação à natureza,
os objetivos variam enormemente. Podem ser abrangentes,
específicos, mais imediatos ou mais de longo prazo. Isto sem
contar que podem também ser intrínsecos – "quando se referem
a problemas que se quer resolver" a partir da própria formulação
de estudo; ou extrínsecos – quando dizem do "dever de aula,
(...) dos trabalhos finais dos cursos de formação, da resolução de
problemas pessoais, etc. (CERVO, op. cit, p.76).
...


Ciências Humanas e Complexidades

Figura 6. Página de Aprovação

NOME DO AUTOR

TÍTULO DO TRABALHO

Tese apresentada como pré-requisito para obtenção do título
de doutor no Programa de Pós-Gradução na área X, da
Universidade Federal do Rio de Janeiro, submetida à banca
examinadora, composta pelos seguintes membros:

Prof. Dr (orientador)
Prof. Dr.
Prof. Dr.
Prof. Dr.
Prof. Dr.


Rio de Janeiro..., (mês) de 2009

Figura 7. Página de dedicatória

Ao Hélio Pellegrino
com gratidão e saudade
(Opcional)

...


Ciências Humanas e Complexidades

5.2.3.Justificativa

É a parte do trabalho onde se debate à questão do porquê do tema
escolhido, sublinhando-se o grau de importância dele, os estudos
existentes na área e as principais contribuições que a realização
da pesquisa poderá trazer. Além disso, aqui "pode-se também",
se for o caso, "elaborar um histórico sucinto do problema, para
demostrar o estágio de desenvolvimento do assunto", valendo-
se para tanto "do material levantado na pesquisa bibliográfi ca"
(ANDRADE, 1933, p. 136).

Vale dizer ainda que a justifi cativa

difere da revisão bibliográfica e, por este motivo, não apresenta
citações de outros autores. Difere, também, da teoria de base, que
vai servir de elemento unificador entre o concreto da pesquisa e o
conhecimento teórico da ciência na qual se insere. Portanto, quando
se trata de analisar as razões de ordem teórica ou se referir ao estágio
de desenvolvimento da teoria, não se pretende explicitar o referencial
teórico que se irá adotar, mas apenas ressaltar a importância da
pesquisa no campo da teoria. (...) Deduz-se, dessas características,
que ao conhecimento científico do pesquisador soma-se boa parte de
criatividade e capacidade para convencer, para a redação da justifi cativa
(LAKATOS, 1991, p. 219-130).

Como último elemento sobre o assunto em discussão, ressalte-
se também que a justificativa deve ser comunicada de forma clara
e simples. Um dos problemas mais contraproducentes aqui são
os textos de justificativas que se apresentam da seguinte maneira:
"justificamos o estudo do tema 'X' por ser muito complexo,
interessante, etc.". Ora, qual é o estudo sistematizado que não
traz seu grau de complexidade? Inclusive, se não o houvesse,
talvez nem fosse o caso de se estar propondo o desenvolvimento
de uma pesquisa.

...


Ciências Humanas e Complexidades

Figura 8

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO.
MÉTODOLOGIA
CAPÍTULO 1- TÍTULO
CAPÍTULO 2 – TÍTULO
CAPÍTULO 3- TÍTULO
RESULTADOS E RECOMENDAÇÕES (opcional)
CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ANEXOS (opcional)
APÊNDICES (opcional)

5.2.4.Revisão da literatura em questão

Visa basicamente situar o leitor em termos do estado da questão
de investigação, relacionando-a aos estudos publicados e à(s)
teoria(s) existente(s) que falam não só de nossa escolha no corte
feito teoricamente para o estudo, como também do lugar que
optamos para dialogar e interpretar os dados levantados. Tal
situação, em síntese, vem à tona através de um estudo bibliográfico,
que não só dá um panorama geral sobre a questão de
estudo em determinada área de conhecimento, como também
fornece elementos imprescindíveis para sua fundamentação
teórica. Esta, por sua vez, "consiste em explicitar os conceitos
fundamentais que serão utilizados para proceder-se à análise,
bem como as categorias e os pressupostos teóricos que balizarão
todo o desenvolvimento da pesquisa" (INÁCIO FILHO, 1994,

p. 49). Em outras palavras,
A revisão da literatura tem por finalidade colocar o leitor a par do
estado da questão, referindo-se aos estudos publicados a respeito
do assunto (....). Não se trata de apresentar a história completa do
assunto (...), mas também não se deve limitá-lo apenas à enunciação

...


Ciências Humanas e Complexidades

das obras. Apresentam-se as obras principais, aquelas que constituem
marcos no conhecimento específico da área, acrescentando uma ligeira
análise de apreciação sucinta de cada obra referida (ANDRADE,
1995, p. 96).

Note-se que, embora existam, de um lado, alguns autores, entre
eles, CERVO (1983), que discutem separadamente a questão da
revisão bibliográfica e a do embasamento teórico, de outro, há outros,
tais como LAKATOS (1992), que tratam essa questão dentro
de um mesmo ponto. Este último autor, por exemplo, desenvolve

o referido ponto na elaboração do projeto a partir de um único
tópico, que se denomina o "Embasamento teórico". Tal embasamento,
por sua vez, compreende os seguintes fatores: a "teoria
de base" – que fala principalmente da escolha de uma teoria de
apoio, visando o exercício de um caráter interpretativo junto aos
dados obtidos e levantados – e a "revisão bibliográfi ca".
Como já discutimos a questão da revisão bibliográfica, vale a
pena reproduzir um trecho acerca da teoria de base:

"Todo projeto de pesquisa deve conter as premissas ou pressupostos
teóricos sobre os quais o pesquisador (o coordenador e os principais
elementos de sua equipe) fundamentará sua interpretação". Por exemplo,
pensemos na situação hipotética onde se quer pesquisar as atitudes
individuais e grupais, subordinadas e correlacionadas na organização
de empresa, objetivando discutir a questão de "chefia" e "liderança",
com menos ou mais eficiência na organização de um determinado estabelecimento.
Ora, "uma das possíveis teorias que se aplicam a atitudes
dos componentes da empresa é a do tipo ideal de autoridade legítima,
descrita por Weber" (LAKATOS, op.cit, p.110).

5.2.5. Questão de estudo
O problema científi co ou a questão de estudo, como já se viu, é
uma indagação que envolve intrinsecamente uma difi culdade,
não só do ponto de vista teórico e prático, como também sugere

...


Ciências Humanas e Complexidades

uma discussão que aponte para a possibilidade de mensuração e
solução viável em termos de um estudo sistematizado.

A questão de estudo ou o problema, em tese, está para a pesquisa
em ciências humanas assim como a questão da hipótese
está para as pesquisas de caráter experimental. Além de sinalizar
que, de acordo com GIL (1991), a questão da hipótese no
método experimental é uma decorrência do problema, convém
dizer que, sem o problema formulado adequadamente ou sem a
hipótese de estudo, dificilmente se desenvolve uma investigação
acadêmica. Ou seja,

Uma vez formulado o problema, as etapas seguintes, nas fases da
pesquisa, devem ser previstas a fim de que se tenha certeza da viabilidade
da mesma através das técnicas existentes. Elabora-se, pois,
um plano provisório do assunto. Este servirá de guia, embora venha
a adaptar-se posteriormente, à marcha da pesquisa, modifi cando-se
ou transformando-se em razão dos resultados parciais ou defi nitivos

(CERVO, 1983, p.78).

Mas, tratando da questão de estudo ou da formulação do problema,
para evitarmos o argumento circular, remetemos o leitor
para a leitura dos capítulos 1 e 2, notadamente recomendando
atenção para as partes que tratam do problema científi co.

5.2.6. Metodologia
Considerando que a metodologia é um dos itens de maior importância
no projeto, tendo em conta que, sobretudo devido a
tal fato, já a discutimos num capítulo à parte, remetemos o leitor
para o mesmo (Ver capítulo 3, deste livro).

5.2.7. Cronograma
O cronograma, em primeiro lugar, sobretudo do ponto de vista
de Lakatos (1991), se propõe a debater a indagação do "QUANDO".
Em segundo lugar, pode ser concebido também como
uma das partes da pesquisa que precisa destacar e relacionar,

...


Ciências Humanas e Complexidades

preferencialmente num quadro gráfico, as atividades básicas da
pesquisa com suas várias etapas ou fases, ou seja, independente
de apresentar um número diferente de atividades e etapas, ele
necessita demarcar claramente "a previsão de tempo necessário
para passar de uma fase para outra" (GIL, 1991, p.138).

Além disso, sobre o desenvolvimento do cronograma há duas
questões importantes: em primeiro lugar, não se pode esquecer de
que há, em algumas pesquisas, a necessidade de se desenvolver
etapas simultâneas, as quais também devem fi car indicadas; em
segundo lugar, sobretudo considerando estudos interpretativos,
cujas fases dependem da realização de outras, também não devemos
esquecer-nos de especifi car tal detalhe.

5.2.8. Orçamento
O orçamento trata de discutir a questão dos custos e da situação
financeira do projeto, visando, sobretudo, sua concretização. Para
LAKATOS (1991), ele responde a indagação COM QUANTO.
Assim, vejamos:

O orçamento distribui os gastos por vários itens, que devem necessariamente
ser separados. Inclui:

PESSOAL: do coordenador aos pesquisadores de campo, todos os
elementos devem ter computados os seus ganhos, quer globais, mensais,
semanais ou por hora/atividade, incluindo os programadores
de computador;

MATERIAL, subdivido em:

- elementos consumidos no processo de realização da pesquisa,
como papel, canetas, lápis, cartões ou plaquetas de identifi cação
dos pesquisadores de campo, hora/computador, datilografi a, xerox,
encadernação, etc.;
- elementos permanentes, cuja posse pode retornar à entidade fi nanciadora,
ou serem alugados, como máquinas de escrever, calculadoras,
etc. (LAKATOS, op. cit, p.226).
...


Ciências Humanas e Complexidades

5.2.9. Notas e/ou anexos
As notas, bem como os anexos, são partes do trabalho de pesquisa
que não devem necessariamente constar em todos os
trabalhos, aparecendo com os diferentes tipos de trabalhos e de
investigação.

As notas são uma espécie de complementação necessária ao
texto principal. Em tese, funcionam como apoio à idéia central,
que não só podem ajudar na compreensão e clareza dessa idéia,
como também podem destacar-se como um tipo de argumentação
imprescindível, ainda que secundária. Sublinhamos o
caráter secundário de tal argumento, porque, em caso contrário,
obviamente recomenda-se que a nota passe a fazer parte do texto,
figurando assim no argumento principal. Ressalte-se ainda que,
elas podem aparecer no projeto de pesquisa no fim do texto –
forma mais usual- ou na situação de nota de rodapé.

Os anexos, de outro lado, são basicamente constituídos de
contribuições esclarecedores de autores diversos, os quais podem
enriquecer o assunto de pesquisa. Contudo, recomenda-se que os
anexos não só tragam a devida citação das fontes mas procurem
se restringir exclusivamente ao que for necessário à compreensão
da investigação em questão (LAKATOS, 1991).

5.2.10. Referências bibliográficas
Por tratar-se também de uma das partes de suma importância para

o desenvolvimento e a escrita do projeto, a qual nos dá garantia
de respeitar o direito autoral de outros pesquisadores e fornece
uma indicação segura para que os interessados possam buscar
novas fontes de estudo, sugerimos que o leitor veja o capítulo 4.
Mas, além disso, como observação geral sobre o assunto, pode-se
dizer que a bibliografi a final, "apresentada no projeto de pesquisa,
abrange os livros, artigos, publicações e documentos utilizados,
nas diferentes fases: – metodologia da pesquisa; – instrumental
teórico; – revisão bibliográfi ca" (LAKATOS, op. cit, p. 227).
...


Ciências Humanas e Complexidades

Notas


Capítulo 1:

(1) Tal trecho foi inspirado, sobretudo, na leitura da obra de QUIVY (1992).
(2) In: BACHELARD, Gaston. La formation de l'esprit scientifi que, p 14.
(3) Ressalte-se que gestar um processo de pesquisa, produzindo uma série de procedimentos
que façam um corte com o senso comum, não quer dizer que se tenha menosprezo
por esse senso comum ou mesmo por qualquer tipo de conhecimento que está menos ou
mais instituído. Na realidade, em síntese, para compreender tal fato, é necessário entender
que longe de dicotomizar a questão da práxis versus teoria, da realidade dita objetiva versus
da realidade dita subjetiva e mesmo do conhecimento instituído versus do conhecimento
instituinte, esses e outros eventos se apresentam processualmente no desenvolvimento
da pesquisa, e se criam principalmente numa interação crítica e dialética. Ainda sobre
a ruptura que se faz para produzir uma pesquisa, fora dessas dicotomias simplistas, vale
ilustrar com um trecho: "A realidade concreta é algo mais que fatos ou dados tomados mais
ou menos em si mesmos. Ela é todos esses fatos e todos esses dados e mais a percepção
que deles esteja tendo a população neles envolvidos. Assim, a realidade concreta se dá a
mim na relação dialética entre objetividade e subjetividade" (FREIRE, 1985, P 35).
(4) Ainda sobre o quadro de Quivy, há alguns pontos a ressaltar: A- Embora apareçam 3
fases e 7 etapas básicas de forma aparentemente independente, na realidade, tais fatores têm
uma relação estreita e não possuem um caráter estanque. Ao contrário, tais etapas, além
de estarem dessa maneira como mero recurso didático, elas têm uma ordem seqüêncial
entre si, ou seja, parte-se da "etapa 1" à "etapa 2", até atingir-se sucessivamente à última
etapa do processo; B- No que toca ainda ao citado quadro de Quivy, aqui ele é apresentado
com uma pequena diferença, ou seja, especificamente falando, na etapa 2 (situada na fase
de ruptura = 1a fase), além da visita aos especialistas, o autor citado sugere que se faça,
sempre que possível, algumas entrevistas com o objeto de estudo. Tal sugestão pode ser
justificada quando se pensa, de um lado, em se realizar uma pesquisa de levantamento
com um número significativo de uma população. Neste caso, como planejamento prévio
talvez caiba algumas entrevistas exploratórias com um número reduzido desse universo.
Contudo, diante da hipótese de se trabalhar com alguns Estudos de Caso, sobretudo com
um universo bem reduzido, de outro lado, nem sempre tal procedimento se aplica.
(5) De certa forma, ainda que apresentando outras preocupações, há aqui certa proximidade
entre o pensamento complexo de Morin e a perspectiva de Thomas Kuhn. Este último,
por exemplo, defende que a ciência se produz por paradigmas que falam de fatores que
não se restringem exclusivamente ao método científi co clássico (KUHN, 1996).
...


Ciências Humanas e Complexidades

(6) O termo dialógico, como o próprio Morin defende, quer dizer "que duas lógicas, dois
princípios, estão unidos sem que a dualidade se perca nessa unidade: daí vem a idéia de "unidualidade"
que propus para certos casos; desse modo, o homem é um ser unidual, totalmente
biológico e totalmente cultural a um só tempo" (MORIN, 1996, p 189).
Capítulo 2:

(1) Diante da formulação de um problema, não se pode esquecer de que necessitamos de
definir claramente os termos que nele estão implicados. Quanto ao problema em questão,
além de sinalizar que os termos principais são a poética e a psicanálise, ressalte-se que
esses fatores podem ser definidos, entre outras possibilidades, no texto de BASTOS (1996).
Com relação aos termos secundários, ou seja, quanto ao "dispositivo deleuzeano" (que
está fundamentalmente relacionado ao termo "intercessor" do ponto de vista de Deleuze)
e também as conceituações quanto ao "modo de vida consensual ou vigente" e "modo
de vida diverso a tal fato", eles podem ser definidos ou no texto já referido ou então a
partir da seguinte obra: DELEUZE (1993).
(2) Com relação à fonte primária dos textos de Freud, a título ainda de ilustração, recomendamos
o trabalho de GRUBRICH-SIMITIS (1995).
(3) Ainda sobre o levantamento bibliográfico preliminar, que se relaciona principalmente
com o Capítulo 1 (Ruptura com o senso comum), nunca é demais lembrar que se trata
de um momento de suma importância em todo processo de pesquisa. Pesquisadores
mais afoitos que o pulam, abrem mão de um dos recursos vitais em prol do objeto. Tal
atitude, na realidade, pode pôr em xeque a própria pesquisa, notadamente no que tange
a delimitação e o aprimoramento da problemática. Para os que, afoitamente desconsideram
ainda tal fato, vale observar: "Note-se que para delimitar um tema, é indispensável
conhecer, pelo menos, genericamente o assunto. Por isso, fica mais fácil delimitar o tema
após algumas leituras exploratórias" (ANDRADE, 1993, p 64).
Capítulo 3:

(1) Quanto ao horizonte múltiplo da classificação das pesquisas, DEMO diz que há no
mínimo quatro tipos e pesquisas. Tais tipos, que se intercomunicam entre si, são: "1-
Pesquisa teórica: dedicada a estudar teorias; 2- Pesquisa metodológica: que se ocupa dos
modos de se fazer ciência; 3- Pesquisa empírica: dedicada a codificar a face mensurável da
realidade social; 4- Pesquisa prática ou pesquisa-ação: voltada para intervir na realidade
social" (In: ANDRADE, 1995, p 14; DEMO, 1989, p 13).
(2) A título de ilustração, destaque-se ainda que o princípio dialético de qualidade é uma
mudança de estado, a qual, em resumo, pode ser problematizada da seguinte forma: "A
água líquida torna-se vapor d'água ou, também, a água líquida torna-se água sólida (gelo).
O ovo torna-se pinto. O botão torna-se flor. O ser vivo, ao morrer, torna-se cadáver"
(POLITZER, 1970, p 58)
...


Ciências Humanas e Complexidades

(3) Ainda sobre o desenvolvimento da questão da metodologia, vale destacar: ela "é importante
quando se analisa o quadro de referência utilizado", o qual é dado pelo autor de
determinada investigação. Tal quadro, "pode ser compreendido como uma totalidade que
abrange dada teoria e a metodologia específi ca dessa teoria. Teoria, aqui, é considerada
toda generalização relativa a fenômenos físicos ou sociais, estabelecida com o rigor científi co
necessário para que possa servir de base segura à interpretação da realidade; metodologia,
por sua vez, engloba métodos de abordagem e de procedimento e técnicas. Assim, a teoria do
materialismo histórico, o Método de abordagem dialético, os métodos de procedimento
histórico e comparativo, juntamente com técnicas específicas de coletas de dados, formam
o quadro de referência marxista" (LAKATOS, 1991, p. 112).
Capítulo 4:

(1) Neste livro, as referências bibliográficas e as citações das obras foram escritas a partir
das Normas da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT). Isto sem contar que
também nos inspiramos em leituras de diferentes obras. Dentre elas, destacamos: LAKATOS
(1992); ANDRADE (1995) e ZANDONADE (1990). Porém, aqui, queremos fazer
especial agradecimento ao texto de ZANDONADE, o qual, ao fornecer-me gentilmente
um livro de sua autoria, incentivou bastante nosso trabalho.
Capítulo 5:

(1) Embora tal estudo tenha sido concretizado a partir da leitura de vários livros, queremos
agradecer especialmente ao texto de ANDRADE (1995), o qual, entre outros méritos,
inspirou especialmente essa primeira parte do capítulo 5.
(2) O "Resumo" deve ser escrito de forma sucinta, ou seja, além de ser apresentado em
um parágrafo único, deve ressaltar os pontos mais significativos do trabalho. Em síntese,
afora o que foi dito, ele deve ser escrito dentro de, no máximo, 300 palavras e, no fi nal,
abaixo do texto do resumo, devem contar as palavras chaves do trabalho.
...


Ciências Humanas e Complexidades

Referências
Bibliográficas

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Ciências Humanas e Complexidades

______ A percepção; uma teoria semiótica. São Paulo: Experimento,
1993.

______ Estética; de Platão a Peirce. São Paulo: Experimento, 1994.

______ A teoria geral dos signos; semiose e autogeração. São Paulo:
Ática, 1995.

SCHNITMAN, Dora Fried, org. Novos paradigmas, cultura e subjetividade.
Porto Alegre: Artes médicas, 1996.

SILVA, Algenir F. Suano da & LINS, Maria Sidney. Guia para normalização
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Federal do Amazonas. Manaus: UFAm, 1993. 2 V.

STENGERS, Isabelle. Quem tem medo da ciência? Ciência e poderes.
São Paulo: Siciliano, 1990.

ZANDONADE, Ilário. Elaboração e apresentação de trabalhos escolares.
São João Del Rei: Funrei, 1990.

...


Ciências Humanas e Complexidades - Rogério Lustosa Bastos

Link(pdf): http://www.ziddu.com/download/17485409/nciasHumanaseComplexidades-RogrioLustosaBastos.rar.html






Este livro ressalta alguns procedimentos referentes à pesquisa acadêmica, especificamente na área de Ciências Humanas. Além de permitir leituras diversas do modo usual sem prejuízo do conteúdo, estabelece um diálogo com o leitor, no sentido de que este opere as páginas lidas e faça combinações diversas, dando-lhes uma ordem em função de seu interesse.




Boa leitura


Abraços.

M. Loureiro

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